“Essa é a serrapilheira. Toda a nutrição da floresta vem daqui. Dizemos que a floresta existe por causa da chuva e a chuva existe por causa da floresta. É a mesma coisa com a serrapilheira, as árvores existem por causa dela e ela existe por causa da floresta. Uma não existe sem a outra”, resume. A dinâmica entre as espécies de um planeta inteiro, resumida em uma caminhada de menos de um quilômetro.
Com um binóculo, Beto observava o dossel da mata, em busca de frutos e flores que pudessem ajudar a identificar as diversas espécies e subespécies de árvores. Raimundo Ribeiro Caetano, da comunidade Parintintin no rio Manicoré, nomeava cada uma como eram conhecidas por aqui, indicando para que eram usadas, a dureza de sua madeira, perfume e a complexidade de seus padrões.
Descobri que existem formas de identificar uma planta: pelo cheiro, por quantas partes se dividem suas folhas, pela disposição dos ramos, pela cor de seus frutos. Mas certos segredos não podem ser vistos a olhos nus. “Tem um estudo que indica que 220 espécies de árvores dominam 50% da Amazônia. Mas geralmente muitas dessas espécies se dividem em espécies diferentes, que podem ter se separado há milhões de anos, e isso só descobrimos com o apoio de laboratório”, explica Beto.
Infelizmente, não são muitos os laboratórios que fazem esse tipo de análise, nem muitos os profissionais capacitados para fazê-las. Sem mencionar o estrangulamento no orçamento para pesquisa e para os institutos e universidades no Brasil nos últimos anos. O que não muda a realidade da floresta: estima-se que 60% das árvores da Amazônia ainda sejam completamente desconhecidas pela humanidade. “Mas com esse desmatamento que a gente tá vendo agora, isso certamente está levando à extinção um bom pedaço dessa diversidade”, afirma.
A Amazônia tem muitas vocações e potenciais ainda pouco explorados, simplesmente porque o que a humanidade tem feito é tentar forçar uma vocação que não é desta terra. Dizem que o solo da Amazônia é pobre, mas só porque para produzir monoculturas na região é preciso alto nível de fertilização do solo.
A verdade é que a Amazônia é a maior representação da importância da biodiversidade, da mistura de espécies e da interação entre elas. E quando desmatamos a floresta, nada mais sobrevive. Nem as plantas, nem os fungos, nem os microrganismos, nem a terra. Sem a interação entre as diversas espécies de plantas e animais, a Amazônia seria um grande deserto.
Olhar para a floresta através das lentes destes pesquisadores me fez ver a Amazônia para além do maciço verde, para além do todo, me fez olhar para o micro. Somos apenas uma parte disso, todos nós somos uma micro parte disso. Juntos e juntas, formamos este organismo pulsante que é a Terra.