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A menor das espécies de tartaruga marinha volta a se reproduzir após 75 anos em ilha

A menor das espécies de tartaruga marinha volta a se reproduzir após 75 anos em ilha

A tartaruga-de-kemp (Lepidochelys kempii) é considerada a menor dentre todas as espécies marinhas desses animais do mundo. Está criticamente ameaçada de extinção e sua distribuição geográfica se restringe ao Golfo do México, mas indivíduos juvenis também são encontrados no Oceano Atlântico, em áreas ao norte da Nova Escócia e às vezes ao leste do Atlântico Norte.

E por 75 anos, essa espécie de tartaruga não desovava mais nas Ilhas Chandeleur, um arquipélago desabitado próxima à costa do estado americano da Louisiana. Mas na semana passada, autoridades e especialidades em conservação divulgaram com muita alegria que a tartaruga-de-kemp voltou a se reproduzir no local.

“Pela primeira vez em três quartos de século, filhotes de tartarugas marinhas foram observados em Chandeleur. A Autoridade de Proteção e Restauração Costeira da Louisiana (CPRA) e o Departamento de Vida Selvagem e Pesca da Louisiana (LDWF) descobriram filhotes de tartarugas-de-Kemp no Refúgio Nacional de Vida Selvagem de Breton”, afirma o comunicado.

Os adultos dessa espécie medem até 75 cm de comprimento e pesam entre 35 e 45 kg. Apresentam a carapaça em formato oval com cinco pares de placas laterais e coloração verde oliva, porém quando juvenis são pretas.

Até este momento, mais de 53 marcas de tartarugas marinhas a caminho do mar foram documentadas na areia e dois filhotes vivos foram registrado indo para a água.

“A descoberta de tartarugas marinhas nidificando e incubando com sucesso é um grande passo, demonstrando a incrível resiliência dos recursos de peixes e vida selvagem, incluindo espécies ameaçadas de extinção e a importância de restaurar essa região”, afirma Leopoldo Miranda-Castro, diretor regional do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos.

A menor das espécies de tartaruga marinha volta a se reproduzir após 75 anos em ilha no Golfo do México
Filhotes recém-nascidos da tartaruga-marinha-de-Kemp indo em direção ao mar nas Ilhas Chandeleur, na Louisiana
(Foto: Louisiana Coastal Protection and Restoration Authority)

Até as décadas de 80 e 90, a espécie era avistada em abundância em águas na costa do México. Todavia, a partir desses anos, começou o declínio de sua população devido à pesca acidental, perda de habitat, colisão com navios, caça de seus ovos e também, os efeitos das mudanças climáticas.

Além disso, mais particularmente a Costa da Louisiana foi afetada por um derramamento de óleo em 2010 e por uma série de furacões ao longo da última década.

“As Ilhas Chandeleur fornecem um importante habitat chave para uma série de espécies importantes; no entanto, com a recente descoberta da eclosão da tartaruga marinha de Kemp, precisamos valorizar ainda mais a restauração desse ecossistema para proporcionar a recuperação dessa espécie ameaçada de extinção em todo o Golfo do México”, ressalta Jack Montoucet, secretário do DLWF.

Atualmente 95% da nidificação global da tartaruga-de-kemp ocorre no estado de Tamaulipas, no México. Estima-se que elas vivam cerca de 30 anos e atinjam a maturidade sexual por volta dos 13 anos.

A época de reprodução da espécie acontece entre abril e julho e diferentemente de outras espécie de tartarugas marinhas que colocam seus ovos durante a noite, a kemp desova de dia. As fêmeas têm uma média de duas a três ninhadas por temporada e retornam à praia para nidificar a cada um a três anos. Quando o fazem, cavam um buraco na areia onde depositam aproximadamente 100 ovos, que incubam por 50 a 60 dias.

As tartarugas-de-kemp possuem um dos hábitos de nidificação mais exclusivos do mundo natural. As fêmeas se reúnem nas praias ao nordeste do México e desembarcam em grandes grupos, chamados “arribadas”, que significa “chegada” em espanhol.

Entre as diversas teorias que existem para explicar as “arribadas” estão os ventos fora da costa, ciclos lunares e a liberação de feromônios pelas fêmeas. A nidificação da arribada é um comportamento encontrado apenas no gênero Lepidochelys que inclui ainda a tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea).

A menor das espécies de tartaruga marinha volta a se reproduzir após 75 anos em ilha no Golfo do México
Uma tartaruga-de-kemp adulta (Foto: Kate Sampson, NOAA Fisheries)


Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.