A evolução no diagnóstico e no tratamento da hipertensão
Pressão alta é um dos problemas de saúde mais prevalentes no Brasil. Acompanhe a história e o avanço no controle da doença
Consequência de maus hábitos, como sedentarismo e alimentação inadequada, ou, ainda, de fatores genéticos, a hipertensão é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão nas artérias. Atualmente, consideramos um quadro hipertensivo quando a pressão do paciente, em residência, está igual ou maior que 130 por 80 mmHg (13 por 8), e, em consultório, 140 por 90mm Hg (14 por 9).
Essa pressão à qual nos referimos é a força que faz com que o sangue circule pelas artérias e chegue a todos os tecidos. A medida dela é a confirmação da capacidade de a hipertensão lesionar alguns órgãos.
Há tempos sabemos que precisamos controlar a pressão para manter a saúde e prevenir doenças cardiovasculares. O que pouca gente sabe é que o primeiro aparelho de uso clínico para medição foi inventado lá em 1896, pelo italiano Scipione Riva-Rocci. O esfignomanômetro – termo cuja origem vem de sphygmos (pulso) – é muito semelhante ao que utilizamos até hoje.
À época, Riva-Rocci afirmou que escolheu a artéria do braço por ser um ponto mais próximo à aorta (artéria que passa pelo tórax e o abdômen). A técnica foi considerada revolucionária, embora aferisse apenas a pressão sistólica (máxima) e não a diastólica (mínima). Em 1905, Nikolai Korotkov, cirurgião militar russo, criou o método de ausculta, com estetoscópio e manguito, ainda hoje empregado em nossa rotina.
Os tratamentos demoraram um pouco mais a aparecer. Até 1950, não havia medicamento efetivo para hipertensão. O tratamento era feito à base de papaverina, sedativos e aminofilina, e o que havia de mais eficaz era a “dieta do arroz”, criada pelo cientista Walter Kempner em 1939. Nessa época, metade dos hipertensos graves morria de insuficiência cardíaca.
Nos anos que se seguiram, vieram medicações com efeitos animadores, como os diuréticos e o captopril – primeiro da classe de inibidores da enzima conversora da angiotensina, desenvolvida a partir de uma substância encontrada no veneno da jararaca, que age impedindo a constrição dos vasos sanguíneos. Depois disso, vieram betabloqueadores, como propranolol e bisoprolol, bloqueadores de canal de cálcio, entre outros.
Em relação à alimentação, sempre se soube quanto o consumo de sal era nocivo, já que faz o corpo reter líquido e aumentar o volume de sangue nas artérias. Após alguns estudos, também foi possível comprovar que uma dieta rica em grãos integrais e vegetais em geral poderia contribuir para o controle da pressão. É aí que, na década de 1990, desponta a DASH, sigla em inglês de Abordagem Dietética para Frear a Hipertensão. Os ajustes à mesa, portanto, vão muito além do sal.
Entre os diversos medicamentos receitados hoje, podemos citar alguns diuréticos, como a clortalidona, a hidroclorotiazida e a furosemida, além de compostos que continuam sendo desenvolvidos para o controle da pressão. Estudos recentes demonstraram, por exemplo, que uma dose única de bisoprolol e anlodipino pode melhorar a adesão ao tratamento – fator fundamental para que a hipertensão não prejudique a saúde.
Já são mais de 60 milhões de pessoas convivendo com a hipertensão no Brasil, e a preocupação sobre os seus riscos e impactos aumenta com as novas gerações. Segundo o Ministério da Saúde, o número de jovens hipertensos subiu mais de 14% nos últimos dez anos.
Uma coisa é certa: boa alimentação, atividade física e medicamentos adequados fazem toda a diferença no controle da pressão arterial e previnem doenças. E, na prática médica, vale sempre avaliarmos caso a caso, a fim de entender o que pode funcionar para cada um.
* Lídia Ana Zytynski Moura é cardiologista, professora da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e coordenadora clínica do Serviço de Insuficiência Cardíaca da mesma instituição