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De impressão de DNA a edifícios que ‘atacam’ aves: 15 fatores que devem impactar a biodiversidade em 2024

De impressão de DNA a edifícios que ‘atacam’ aves: 15 fatores que devem impactar a biodiversidade em 2024

A seleção foi feita por uma equipe liderada pelo biólogo conservacionista William Sutherland, da Universidade de Cambridge

A biodiversidade tem sido impactada das mais diversas formas há séculos. Uma equipe liderada pelo biólogo conservacionista William Sutherland, da Universidade de Cambridge, do Reino Unido, identificou as 15 principais mudanças emergentes tecnológicas, políticas, econômicas, entre outras, que têm maior probabilidade de ter um efeito substancial – para o bem e para o mal – nos ecossistemas mundiais em 2024.

1. Hidrogênio

O hidrogênio é uma fonte alternativa aos combustíveis convencionais e beneficia a biodiversidade, só que isso depende da forma como é produzido. Uma das maneiras é a partir do gás natural, que é um combustível fóssil, grupo responsável pelo aquecimento global.

Além disso, há um método de produção que utiliza água doce ou água do mar como matéria-prima ou a exploração de reservatórios subterrâneos naturais. E esse apresenta potenciais consequências não intencionais sob a forma de destruição ou perturbação do habitat.

A menos que os sistemas de produção, distribuição e implantação de hidrogênio sejam concebidos com cuidado, poderão acabar por contribuir com os seus próprios gases de efeito de estufa (GEE). O celebrado hidrogênio verde, obtido a partir de fontes renováveis, é uma exceção positiva.

2. Amônia

Para produzir a amônia, um ingrediente-chave dos fertilizantes agrícolas, são utilizadas enormes quantidades de energia, que é derivada em grande parte de combustíveis fósseis.

Há uma nova técnica que envolve a pulverização de pequenas gotas de água em uma malha magnética, e promete reduzir drasticamente o custo e a pegada de GEE. Mas ela também representa ameaças potenciais.

De acordo com a análise, a produção de amoníaco mais barata e com baixo teor de carbono poderia provocar um aumento na utilização de fertilizantes e, portanto, poluir o ar e a água.

“Além disso, como os fertilizantes aumentam a capacidade dos micróbios do solo para produzir óxido nitroso, um potente gás com efeito de estufa, o benefício climático líquido poderá ser muito menor do que o previsto à primeira vista”, destacou Mary Hoff, do Instituto de Meio Ambiente da Universidade de Minnesota, integrante da equipe.

3. Micróbios

Por falar em micróbios, eles têm enormes implicações para a redução das ameaças à biodiversidade decorrentes da conversão de terras, da pesca excessiva, da poluição por nutrientes e das mudanças climáticas.

Por conta disso, pesquisadores desenvolveram métodos para cultivá-los com base em hidrogênio, nitrogênio e dióxido de carbono. O produto resultante, se for produzido utilizando energia renovável, poderá ter uma pegada climática e um impacto ambiental global bem inferiores aos da carne, dos lacticínios e de outras fontes de proteína dietética convencionais.

4. Colheitas no escuro

Recentemente, cientistas desenvolveram um processo alternativo que utiliza eletricidade, água e dióxido de carbono para produzir acetato, que pode ser usado no lugar da glicose produzida pela fotossíntese para estimular o crescimento das plantas.

Essa solução poderia aumentar a produtividade das vegetações cultivadas em ambientes artificiais e até eliminar a necessidade de luz. Se a entrada de energia no sistema vier de fontes renováveis, isso ainda resultaria em uma produção alimentar no interior de edifícios (agricultura indoor) altamente eficiente e amiga do ambiente.

5. Pó de rocha

A disseminação de pó de rocha (obtido através da moagem de rochas) tem sido considerada para capturar carbono em terras agrícolas. E evidências mostram que essa estratégia também pode melhorar as colheitas. Os possíveis benefícios incluem o aumento da presença de microrganismos benéficos no solo, a redução das ameaças de nutrientes à água doce e a diminuição da acidez no solo e na água do mar.

Mas há potenciais consequências negativas: aumento do fluxo de lodo para as águas superficiais, o que elevaria a poluição por metais pesados, prejudicaria os organismos que vivem no solo e incentivaria o aumento da mineração.

6. Sumiço das minhocas

Reciclar matéria vegetal morta, libertar nutrientes e melhorar a qualidade do solo. Esses são alguns dos importantes papeis que as minhocas desempenham em muitos ecossistemas, incluindo terras agrícolas.

Uma pesquisa realizada no Reino Unido constatou que o número de indivíduos desses animais diminuiu um terço ou mais no último quarto de século, provavelmente devido ao aumento da utilização de pesticidas.

Se esta tendência se mantiver em outros lugares – e se nada for feito para a aliviar – a perda poderá ter enormes ramificações adversas não só para a integridade do ecossistema, mas também para a capacidade da Terra de alimentar uma população humana faminta.

7. Ecoacústica

Até pouco tempo, para determinar a qualidade do solo era preciso escavar, uma tarefa demorada e dispendiosa. Tecnologias emergentes, no entanto, estão possibilitando obter a mesma informação utilizando captura de som.

Conhecida como ecoacústica do solo, essa metodologia também poderia tornar possível rastrear melhor a restauração de solos anteriormente degradados, aumentando a sua capacidade de servir como base de habitats saudáveis e biodiversos.

8. Fumaça e clima

A mudança climática tem resultado em um maior número de incêndios florestais em todo o mundo. E, com isso, a fumaça na atmosfera aumenta.

O problema é que as partículas liberadas pelas queimadas podem ter impactos ainda mais graves para o clima da Terra. Por exemplo: perturbar os ciclos climáticos normais e alterar a forma como a temperatura e a pressão são distribuídas na atmosfera, bloqueando a luz solar e redistribuindo a humidade no ar.

“As plantas, os animais, outros seres vivos e ecossistemas inteiros evoluíram para acompanhar o fluxo dos ciclos climáticos existentes. Mudanças em grande escala poderiam facilmente alterar o equilíbrio da natureza, com consequências potencialmente prejudiciais para a biodiversidade em grande escala – e para a humanidade, que depende de ecossistemas saudáveis para o nosso próprio bem-estar”, pontuo a autora do artigo sobre o levantamento.

9. Impressão de DNA

No futuro, poderá ser possível utilizar um dispositivo de impressão para produzir DNA. O resultado, porém, seria “uma caixa de Pandora de possíveis impactos para a conservação, tanto positivos como negativos”.

Do lado positivo, a tecnologia poderia ser aplicada para reduzir a necessidade de limpar terras para a agricultura, minimizar fertilizantes e pesticidas que poluem o ambiente, aumentar a resiliência dos organismos às mudanças ambientais e oferecer novos métodos de controle de pragas.

A parte negativa é que o uso indiscriminado poderia tornar possível a produção de variações em organismos existentes e mutações, e isto poderia perturbar os ecossistemas.

10. Previsão de toxicidade

Até hoje, para saber se um produto químico é prejudicial aos seres vivos e aos ecossistemas é preciso aplicá-lo e observar em testes. Mas uma nova abordagem está sendo desenvolvida, chamada de “caminhos de resultados adversos”.

Cientistas estão trabalhando na utilização da informação existente sobre como vários tipos de produtos químicos se comportam no ambiente, nos organismos e a nível molecular para prever se e como novos compostos poderão ter consequências indesejáveis e não intencionais.

Essa solução, baseada em dados, poderá evoluir com a ajuda da inteligência artificial.

11. Arranha-céus que atacam pássaros

Quando é outono no hemisfério Norte, milhões de aves de mais de 100 espécies voam para sul da Europa. Só que no caminho delas, no Mar Vermelho, na Arábia Saudita, está sendo construída uma megacidade cheia de edifícios que atingem até 500 metros de altura.

Esse complexo é coberto com superfícies refletoras e potencialmente equipado com turbinas eólicas, e poderá se tornar uma armadilha mortal para os animais que passam por ele. Isso perturbaria os equilíbrios ecológicos, uma vez que a escassez de pássaros alteraria o sistema de comer-e-ser-comido em ambos as extremidades da rota migratória.

12. Morte dos ouriços

Em 2022, houve uma mortalidade massiva de ouriços-do-mar nos mares das Caraíbas e do Mediterrâneo. Depois, o Mar Vermelho foi atingido. Uma das hipóteses para o ocorrido é uma infecção por um micróbio ciliado.

Se isso for confirmado, poderá ser um sinal de uma mudança nas condições ambientais que favorece o crescimento dos microrganismos em outros ambientes marinhos. E isso poderá ser devastador, uma vez que esta classe de agentes patogênicos infecta peixes, corais, caranguejos e outras criaturas oceânicas.

13. Armazenagem de carbono no oceano

Os oceanos cobrem quase três quartos da superfície da Terra e são reconhecidos pela capacidade de absorver CO2, o que os torna candidatos promissores para a remoção de quantidades excessivas deste gás que é um dos responsáveis pelo aquecimento global.

Dentre as estratégias propostas para isso estão a adição de fertilizante à água do mar, o cultivo e depois o sequestro de carbono por algas, o aumento do pH da água e a injeção ativa de CO2 nas rochas abaixo da superfície.

Mas é preciso ter cuidado ao implementá-las. Primeiro porque ainda não foram testadas e, segundo, porque existe um grande potencial para consequências adversas não intencionais para a biodiversidade e a sociedade.

14. Zona crepuscular do oceano

A zona mesopelágica (ou crepuscular) do oceano, uma região de 200 a 1.000 metros abaixo da superfície, abriga uma variedade de peixes e outras formas de vida, que são responsáveis por fornecer matéria orgânica abundante para as profundezas do oceano e as criaturas que vivem por lá.

À medida que as fezes e as carcaças afundam, parte deste material é enterrado em sedimentos, sequestrando da atmosfera o carbono que aquece o planeta. Mas essa região também está esquentando, e os cientistas temem que isso faça com que a matéria orgânica se decomponha mais rapidamente, reduzindo a sua capacidade de alimentar a vida marinha abaixo e sequestrar carbono.

15. Correntes oceânicas

As alterações climáticas causadas pelo aumento das concentrações de gases de efeito de estufa na atmosfera também estão alterando as correntes de água abaixo da superfície do oceano, criando condições novas e por vezes perturbadoras para a vida marinha.

William Sutherland e sua equipe disseram que uma dessas correntes, a reviravolta do abissal Antártico, merece mais atenção do que tem recebido, pois é esperado que ela diminua drasticamente ao longo do século devido ao derretimento do gelo.

E essa mudança poderia reduzir a disponibilidade de oxigênio na água do mar e alterar a disponibilidade de alimentos e as condições habitáveis para a vida. Além disso, fatores como a mudança dos ventos poderiam criar uma série de impactos que alterariam a vida oceânica de formas imprevistas.