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99% dos filhotes de tartaruga tem nascido fêmeas como resultado do aquecimento global

99% dos filhotes de tartaruga tem nascido fêmeas como resultado do aquecimento global

Diferentemente de outros animais, tartarugas e jacarés dependem de um fator externo para que o sexo do futuro filhote seja determinado. É a temperatura da areia onde os ovos são colocados que vai estabelecer se nascerá um filhotinho ou uma filhotinha. Temperaturas altas (acima de 30 ºC) produzem mais fêmeas e mais baixas (abaixo de 29 ºC) machos.

E com a crise climática pesquisadores já tem notado o impacto do aumento das temperatura em todo o mundo sobre a população de tartarugas. Já em 2018, um grupo de cientistas tinha feito uma análise com tartarugas-verdes da Grande Barreira de Corais, na Austrália.

Em praias com temperaturas mais amenas da região, a estimativa é que as filhotes fêmeas eram entre 65% e 69% dos novos nascimentos. Já nas regiões mais quentes da Grande Barreira de Corais, essa porcentagem chegava a 99%.

“A combinação de nossos resultados com dados de temperatura mostra que as colônias de tartarugas verdes do norte da Grande Barreira de Corais produzem principalmente fêmeas há mais de duas décadas e que a feminização completa dessa população é possível em um futuro próximo”, alertaram os cientistas em um artigo científico na publicação Current Biology.

Agora, quatro anos mais tarde, um novo alerta chega da Flórida. O estado americano tem tido alguns dos verões mais quentes de sua história, e com isso, biólogos também têm notado a explosão no nascimento de tartarugas fêmeas.

“Cientistas que estão estudando filhotes e ovos de tartarugas marinhas não encontraram tartarugas marinhas machos, então apenas tartarugas marinhas fêmeas nos últimos quatro anos”, revelou Bette Zirkelbach, diretora do Turtle Hospital Zirkelbach, em entrevista à jornalista Maria Alejandra Cardona, da agência de notícias Reuters.

O aumento do número de tartarugas fêmeas no mar pode, obviamente, afetar a sobrevivência e a variabilidade genética de diversas espécies desses animais.

O acasalamento das tartarugas-marinhas ocorre em águas profundas ou costeiras, normalmente próximas às áreas de desova. A fêmea pode ser fecundada por vários machos, menores (em tamanho) que elas.

Tartarugas marinhas são animais que podem viver mais de 100 anos. No mundo todo, até hoje, são conhecidas sete espécies. Cinco delas são encontradas na costa brasileira: cabeçuda ou mestiça, verde ou aruanã, de pente ou legítima (a mais ameaçada), couro ou gigante (a maior de todas as espécies) e oliva. Todas elas, em maior ou menor grau, estão em risco de extinção.


Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.