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Viva Água expande ações para SP e Bahia durante seca histórica

Viva Água expande ações para SP e Bahia durante seca histórica

Iniciativa amplia atuação em regiões críticas para impulsionar projetos de conservação, inovação e fortalecimento de ecossistemas essenciais

O Brasil enfrenta uma das secas mais severas desde a década de 1950, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). Em outubro, 13,5% dos municípios estavam em situação de emergência, e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) estima que o país pode perder até 40% da disponibilidade hídrica até 2040. Nesse contexto, o movimento Viva Água — plataforma multissetorial voltada à segurança hídrica, conservação da natureza e adaptação às mudanças climáticas — anuncia sua expansão para duas novas regiões estratégicas: o Sistema Cantareira, em São Paulo, e as bacias dos rios Joanes e Jacuípe, na Bahia.

Idealizado pela Fundação Grupo Boticário, o movimento já atua no Paraná e no Rio de Janeiro, onde mobilizou R$ 27 milhões, impactou 180 mil hectares, beneficiou 6 milhões de pessoas e fortaleceu 62 negócios sustentáveis. Com a ampliação, chega a quatro mananciais e passa a apoiar diretamente mais de 15 milhões de brasileiros. A expansão foi divulgada durante o painel Segurança Hídrica: Motor econômico impulsionado pela Natureza, na COP30, em Belém.

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Guarapiranga, Zona Sul de São Paulo.Foto: Edilson Osorio Junior | Flickr

O Viva Água funciona como um movimento de múltiplos atores, reunindo governos, empresas, academia, organizações da sociedade civil e comunidades para implementar soluções de segurança hídrica, restauração ecológica, práticas agrícolas sustentáveis, turismo responsável e empreendedorismo de impacto. A água é tratada como fio condutor do desenvolvimento socioambiental, com foco em resiliência climática, conservação dos ecossistemas e promoção de uma economia sustentável.

O movimento também conta com o Mecanismo Financeiro Viva Água, que mobiliza recursos públicos, privados e filantrópicos para ações estruturantes e projetos de preservação dos mananciais. Até 2030, a meta é estar presente em seis territórios e impactar 25 milhões de pessoas. A expansão recente também trouxe a entrada do Instituto Itaúsa como parceiro, fortalecendo a governança e a integração entre regiões.

No Sistema Cantareira, manancial responsável por 46% do abastecimento da Grande São Paulo e hoje em nível crítico, a chegada do movimento foi precedida por um Laboratório de Inovação com 47 participantes de 29 instituições. O processo gerou sete protótipos voltados a desafios locais, entre eles um coletivo intermunicipal para gestão conjunta, um fundo de mananciais com recursos contínuos, um hub de soluções inovadoras, iniciativas de restauração de áreas degradadas, canais de captação para restauração ecológica de larga escala e ações de resiliência climática para agricultores familiares. Na Bahia, o movimento atua nas bacias dos rios Joanes e Jacuípe, responsáveis pelo abastecimento de 40% da Região Metropolitana de Salvador. Ali, o laboratório envolveu 53 participantes de 35 instituições e gerou 10 protótipos, abrangendo desde recarga hídrica e educação ambiental até incubação de negócios, restauração de APPs, gestão de resíduos, turismo de experiência, criação de parques e monitoramento da qualidade da água.

“A crise hídrica não é mais um risco futuro, ela é uma realidade que exige cooperação e soluções eficazes”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário. “A expansão do movimento Viva Água para São Paulo e Bahia reafirma a importância da atuação multissetorial e do fortalecimento do letramento sobre segurança hídrica, conectando governos, empresas, academia e sociedade civil.” Ainda este ano, será realizada a Teia de Soluções CAMP Viva Água, iniciativa para estimular a cocriação e o financiamento de ações que façam uso de infraestrutura natural para ampliar a segurança hídrica e a adaptação climática nos quatro territórios onde o movimento já atua.

bacia do rio miringuava
Bacia do rio Miringuava. Foto: Jorge Olavo

Miringuava (Paraná)

Criado em 2019 na região de São José dos Pinhais, o Viva Água Miringuava foi o primeiro território do movimento. A bacia abastece cerca de 500 mil pessoas e concentra 70% da produção agrícola que chega a Curitiba, impactando diretamente a segurança alimentar de 1,5 milhão de habitantes. A região também possui forte potencial para o empreendedorismo sustentável, especialmente ligado à agricultura e ao turismo.

Ao adotar Soluções Baseadas na Natureza (SBN), o movimento atua na restauração de ecossistemas, na conservação de áreas naturais, na produção rural sustentável e no fortalecimento de negócios de impacto. Até 2030, o território pretende recuperar 650 hectares estratégicos, apoiar 30 negócios socioambientais, conservar 1,5 mil hectares por meio de mecanismos financeiros e ampliar práticas sustentáveis em 500 hectares produtivos. A visão de longo prazo é garantir segurança hídrica para 4 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Curitiba até 2050, com aumento da infraestrutura natural e redução da sedimentação na bacia do Alto Iguaçu.

Baía de Guanabara (Rio de Janeiro)

Desde 2021, o Viva Água Baía de Guanabara atua em 17 municípios fluminenses, responsáveis pelo abastecimento de mais de 2,5 milhões de pessoas. A região hidrográfica reúne 481 mil hectares de área terrestre, 292 mil de área marinha e 117 unidades de conservação que protegem 81 mananciais essenciais. A urbanização e atividades econômicas pressionam a vegetação local, mas o movimento busca regenerar ecossistemas e fortalecer cadeias produtivas sustentáveis, como agricultura, pesca, turismo responsável e meliponicultura.

A iniciativa reúne projetos de restauração ecológica, apoio a pequenos produtores, criação de trilhas ecológicas comunitárias e programas de educação ambiental. O Consílio das Águas — laboratório formado em parceria com o Sistema B Brasil, a Firjan e outras organizações — atua para fortalecer a colaboração entre empresas e acelerar negócios de impacto. Desde sua criação, já apoiou 26 empreendimentos e impulsionou ações como o Mangue Doce, que combina restauração ecológica, capacitação em meliponicultura e iniciativas educativas; a Trilha Comunitária pela Restauração da Natureza, voltada à implantação de um roteiro de ecoturismo na Baixada Verde para fomentar a economia local e regenerar a biodiversidade; e o Zip Flor, que desenvolve modelos replicáveis de restauração de matas ciliares e nascentes por meio de sistemas agroflorestais e técnicas de restauração assistida. Todas essas ações ampliam a recuperação ambiental e contribuem para gerar renda nas comunidades envolvidas.