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Vacina contra esquistossomose pode ser desenvolvida com anticorpos de macacos

Vacina contra esquistossomose pode ser desenvolvida com anticorpos de macacos

Na busca pelo desenvolvimento de uma vacina contra a esquistossomose — doença parasitária que também é chamada de doença do caramujo ou barriga d’água —, uma equipe de pesquisadores internacionais investiga a capacidade dos anticorpos do macaco rhesus (Macaca mulatta) em conter a condição. Anualmente, mais de 200 milhões de pessoas contraem o parasita no mundo.

O sistema imunológico da espécie de primata que habita a Índia, China e Afeganistão, mas também é muito usada em pesquisas científicas, pode ser a chave para a potencial vacina contra a esquistossomose. Essa é a conclusão de um estudo realizado por cientistas do Instituto Butantan com outros pesquisadores do Brasil, da Inglaterra, da Holanda e da França.

Sistema imunológico dos macacos rhesus pode ser a chave de vacina contra a esquistossomose (Imagem: Reprodução/AlbertoCarrera/Envato Elements)

Publicado na revista científica Nature Communications, o estudo demonstrou que, ao se curarem espontaneamente da esquistossomose, os macacos rhesus conseguem gerar anticorpos poderosos contra os parasitas. Além disso, os macacos permanecem protegidos caso sofram uma segunda infecção.

Hoje, o único medicamento de combate à esquistossomose, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é o Praziquantel. No entanto, a fórmula traz algumas limitações, já que é ineficaz contra formas jovens do parasita e por não prevenir infecções.

Entenda o impacto dos anticorpos do macaco

Desde os anos 2000, pesquisas apontavam para a capacidade do macaco rhesus em combater, naturalmente, uma primeira infecção com o Schistosoma mansoni, o agente causador da esquistossomose. Agora, a equipe de pesquisadores, incluindo Sergio Verjovski Almeida e Murilo Sena Amaral, do Laboratório de Parasitologia do Butantan, induziram reinfecções da doença parasitária nos animais. A ideia do estudo era entender se, em caso de reinfecção, a memória imune dos macacos funcionava.

Na primeira parte da pesquisa, 12 macacos rhesus foram infectados. Em cada um, foram introduzidos 700 parasitas de Schistosoma mansoni. Enquanto o organismo dos animais reagia, os pesquisadores monitoravam a infecção pela medida de um antígeno específico do parasita liberado na circulação sanguínea do macaco. Todos os macacos se curaram entre a 12ª e 17ª semana do experimento.

Depois de 42 semanas — e os macacos já livres dos parasitas —, os cientistas monitoraram o mesmo indicador após uma segunda infecção. A conclusão foi que os macacos se recuperavam ainda mais rápido da segunda vez.

Nos casos de reinfecção, os macacos não apresentaram sintomas clínicos da doença — somente na primeira infecção é que alguns animais tiveram sintomas leves, como diarreia e desidratação. Além disso, entre a primeira e a quarta semanas da reinfecção, os esquistossomos nem chegaram a amadurecer e nem se tornaram vermes adultos. Em outras palavras, a doença foi controlada, sem prejuízos para os animais.

Segundo análise dos pesquisadores, menos de três vermes — todos atrofiados — foram recuperados de cada macaco, o que levantou a hipótese de que os anticorpos bloquearam de alguma forma a maturação e a alimentação dos parasitas, já que não conseguiram se desenvolver.

Precisamos de uma vacina contra a esquistossomose?

Estudos buscam desenvolver uma vacina contra a esquistossomose (Imagem: Reprodução/Edalin/Envato)

Em uma outra etapa do estudo e já pensando na potencial vacina, os anticorpos gerados pelos macacos foram incubados com parasitas em laboratório. De acordo com os cientistas, essa incubação levou à morte dos parasitas, e nove genes da via de autofagia do parasita foram identificados como inibidos pela defesa imune do macaco. Agora, a próxima fase será a identificação das proteínas do parasita que são alvejadas pelos anticorpos e os testes destas proteínas como candidatos vacinais em camundongos (estágio pré-clínico).

Vale lembrar que a vacina, caso concluída com sucesso, será uma importante aliada para a saúde pública, incluindo a brasileira. No estado de São Paulo, é observado um aumento na incidência da doença e o movimento está presente em outras regiões também.

De forma geral, os parasitas infectam pessoas que têm contato com água contaminada e se instalam no interior dos vasos sanguíneos do intestino e do fígado, onde se acumulam os ovos que causam a doença. Como o ser humano não consegue eliminar o parasita sozinho, a doença se torna perigosa. Isso porque provoca complicações graves nos órgãos atingidos e pode levar até à morte.

Para acessar o estudo completo sobre o sistema imunológico dos macacos contra a esquistossomose, publicado na revista científica Nature Communications, clique aqui.