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Uma em cada 8 pessoas no mundo está obesa

Uma em cada 8 pessoas no mundo está obesa

Dados divulgados pela revista “The Lancet” mostram progresso na redução de pessoas passando fome no mundo, mas também crescimento alarmante de outro tipo de subnutrição

A taxa global de obesidade quadruplicou entre as crianças e duplicou entre os adultos desde 1990. É o que diz uma nova análise publicada pela revista científica britânica The Lancet nessa sexta-feira. Cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo – uma em cada oito – são obesas ou têm um índice de massa corporal (IMC) superior a 30.

Francesco Branca, diretor do departamento de nutrição e segurança alimentar da OMS, disse que a organização tinha estimado anteriormente que a proporção global de obesidade atingiria a marca de um bilhão de pessoas em 2030. Esse marcador foi alcançado oito anos antes, em 2022.

“Ficamos realmente surpresos com a rapidez com que as coisas aconteceram nos últimos anos”, disse o coautor do estudo, o professor Majid Ezzati, do Imperial College London, em entrevista coletiva na quinta-feira.

Esse crescimento não está acontecendo onde você poderia esperar. Os novos dados mostram que, embora as taxas de obesidade estejam começando a estabilizar nos países mais ricos (com a exceção dos EUA), elas estão crescendo rapidamente entre adultos e crianças em países de renda média e baixa (LMIC, na sigla em inglês), como Egito, Iraque, Líbia, África do Sul e Chile. Síria, Turquia e México também não ficam muito atrás.

No Brasil, os dados da pesquisa também apontam para um crescimento na obesidade. Em 1990, 9% dos brasileiros tinham o IMC superior a 30, contra 29% em 2022.

“Nenhum dos países industrializados tradicionais ou nações ricas, exceto os Estados Unidos, aparece realmente no grupo superior [das nações mais obesas]. É quase exclusivamente coberto por países de renda médio-baixa”, disse Ezzati.

Queda no número de pessoas que passam fome

Os novos dados da The Lancet refletem também um progresso na redução do número de pessoas que passam fome em todo o mundo. Nos últimos 30 anos, a proporção global de adultos com baixo peso caiu pela metade. Entre a população com menos de 18 anos, a queda foi de 20% nas meninas e de 33% nos meninos.

No Brasil, por exemplo, a quantidade de pessoas com o IMC abaixo de 18,5, o que configura estar abaixo do peso, caiu de 6% em 1990 para 2% em 2022.

No entanto, o estudo mostra que, apesar dos grandes progressos no combate à fome, em alguns países a situação não melhorou. A proporção de adultos abaixo do peso em países como Etiópia e Uganda, por exemplo, quasenão se alterou.

Outros países, como Índia, Bangladesh e Paquistão, registaram declínios acentuados na proporção de adultos com baixo peso. Mas ao que tudo indica, o Paquistão parece apenas ter trocado um problema por outro.

A proporção de adultos no país com baixo peso caiu de 27% para 7% desde 1990. Mas durante esse mesmo período, a proporção de adultos obesos aumentou de 3% para 24%. Essa é uma taxa de obesidade mais elevada do que a maioria dos países da União Europeia.

Outros países da África Subsariana, por exemplo, assistiram ao mesmo tipo de troca, especialmente entre as mulheres. Lá, o declínio do baixo peso foi contrabalanceado pelo aumento da obesidade.

Por que países de renda média ou baixa?

Para Francesco Branca, a transformação do sistema alimentar, a chamada “biology of double burden” (biologia do duplo fardo em tradução livre) e a falta de políticas de saúde pública são alguns dos motivos pelos quais o aumento tem sido tão acentuado nos países de média e baixa renda

“Os últimos 30 anos foram marcados pela rápida industrialização em países LMIC, como o Egito e México, que transformaram os sistemas alimentares, especialmente nas áreas urbanas”, disse Branca.

“O maior aumento está nas vendas de alimentos ou bebidas industrializadas e o número de supermercados e pontos de venda. Uma transformação muito rápida desse sistema alimentar e não para melhor”, relatou o diretor do departamento de nutrição e segurança alimentar da OMS.

A “biologia do duplo fardo”, segundo ele, diz respeito à forma como as crianças com baixo peso devido à subnutrição ao nascer ou à falta de acesso a alimentos suficientes na infância são frequentemente mais propensas a ficarem com excesso de peso ou obesas quando adultas. Isto poderia potencialmente ajudar a explicar as mudanças na África Subsaariana.

“O importante aqui é que, no passado, pensávamos na obesidade como um problema dos ricos”, disse Branca. “A obesidade é um problema para o mundo e é um problema dos países pobres que não estão preparados para lidar com isso.”

Ao contrário dos países mais ricos, a maioria dos de renda média e baixa têm muito poucas ou zero políticas em vigor para conter ou neutralizar a “enorme” pressão sobre a comercialização de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal e snacks.

enk (ots)