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Tomate geneticamente modificado pode ser nova fonte de vitamina D

Tomate geneticamente modificado pode ser nova fonte de vitamina D

A partir da edição de genes pela técnica CRISPR-Cas9 e da exposição aos raios UVB, o fruto pode produzir níveis de vitamina D necessários à saúde humana

A vitamina D é produzida em nossos corpos mediante a exposição da pele à luz UVB — mas não apenas por isso. As maiores fontes desse nutriente também estão presentes em alimentos como carne vermelha, ovos, peixes e laticínios — que estão ausentes ou pouco presentes na dieta de pessoas vegetarianas ou veganas. Mas isso pode mudar.

Um grupo de pesquisadores britânicos transformou um tomate simples em uma fonte capaz de produzir a vitamina D, uma inovação simples e sustentável que promete auxiliar a saúde global. A deficiência desse composto vitamínico acomete mais de 1 bilhão de pessoas no planeta e está atrelada a um maior risco de câncer, demência e muitas da principais causas de mortalidade no globo.

A técnica publicada na Nature Plants nesta segunda-feira (23) informa que, a partir da edição de genes, os pesquisadores inativaram uma molécula específica no genoma da planta, aumentando a provitamina D3 tanto nos frutos quanto nas folhas dos tomateiros por meio da exposição à luz UVB.

Experimento

Os tomates têm compostos naturais de vitamina D em sua formação, chamados provitamina D3 ou 7-desidrocolesterol (7-DHC), a mesma substância presente no organismo humano. Acontece que, nos tomates, ela é encontrada em baixa quantidade e se perde durante o amadurecimento do fruto.

Analisaram pesquisas anteriores, os cientistas descobriram que uma enzima específica, a Sl7-DR2, é responsável por converter o 7-DHC em outras moléculas, inclusive a vitamina D. No experimento, os pesquisadores usaram a técnica de edição de genes CRISPR-Cas9 para desligar a Sl7-DR2 no tomate para que o 7-DHC se acumulasse no fruto. E deu certo: a quantidade de 7-DHC que havia nos tomates editados aumentou nas folhagens, polpa e casca.

Em uma segunda etapa, os cientistas decidiram replicar nos tomates o processo que o corpo humano realiza para produção de vitamina D e expuseram os frutos editados à luz UVB. O experimento  mostrou que apenas uma hora de exposição foi o suficiente para aumentar a quantidade do nutriente. Um tomate continha níveis de vitamina D equivalente a dois ovos de tamanho médio ou 28 gramas de atum.

A técnica, ainda em fase experimental, diz que a vitamina pode ser aumentada em frutas maduras durante a secagem ao sol, devido a exposição prolongada ao UVB. Outras plantas, como berinjela, batata e pimenta, têm a mesma via bioquímica, de modo que o método pode ser aplicado a elas também.

No início deste mês, o governo do Reino Unido anunciou uma revisão oficial para examinar se alimentos e bebidas deveriam ser fortificados com vitamina D para tratar as desigualdades na saúde. No inverno e em latitudes mais altas, as pessoas precisam obter vitamina D através da alimentação ou de suplementos, porque o sol não é forte o suficiente para que o corpo a produza naturalmente.

“A pandemia de Covid-19 ajudou a destacar a questão da insuficiência de vitamina D e seu impacto em nossa função imunológica e saúde geral. Essa é uma ótima notícia para as pessoas que adotam uma dieta rica em vegetais, vegetariana ou vegana, e para o crescente número de pessoas em todo o mundo que sofrem com o problema de insuficiência de vitamina D”, disse o primeiro autor do estudo, Jie Li.

Folhas de tomate

Além de consumir o alimento, a coautora Carthie Martin destaca que, a partir da edição de genes, as folhas do tomate que antes eram consideradas resíduos podem ser usadas para a fabricação de suplementos de vitamina D3 veganos ou para fortificação de alimentos. O experimento mostrou que as folhas das plantas editadas continham até 600 microgramas (ug) de provitamina D3 por grama de peso seco. A ingestão diária recomendada de vitamina D é de 10 ug para adultos.

“Não estamos apenas abordando um enorme problema de saúde, mas também ajudando os produtores, porque as folhas de tomate que atualmente são desperdiçadas podem ser usadas para fazer suplementos a partir das linhagens editadas por genes”, destaca em comunicado.