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Terremotos podem mudar trajeto de rios e cientistas tentam prever como

Terremotos podem mudar trajeto de rios e cientistas tentam prever como

Não é novidade para a ciência que terremotos sejam capazes de alterar o curso de rios. Em 2016, um tremor de 7,8 graus de magnitude na Nova Zelândia tirou o rio Waiau Toa — também conhecido como Rio Clarence — de seu caminho original, causando uma enchente nos arredores e nunca mais voltando ao seu trajeto anterior. Agora, um estudo de pesquisadores do país tenta prever quais áreas podem ser afetadas pela água em eventos semelhantes.

Mapeamento global de encontros entre rios e falhas geológicas (Imagem: Erin McEwan et al./Reprodução via Science Advances)

Enquanto inundações e terremotos já estão entre os desastres que mais causam danos ao redor do mundo, pouco já foi estudado sobre a ocorrência simultânea destes fenômenos. Pode parecer algo raro, mas dezenas de milhares de falhas geológicas ativas na crosta terrestre encontram o curso de algum rio — e onde esse encontro acontece, os riscos se sobrepõem.

Durante um terremoto, os blocos de rochas em cada lado de uma falha podem se mover verticalmente um em relação ao outro, criando desníveis de alguns centímetros até vários metros. Em 2016, o terremoto de Kaikōura originou um bloqueio no canal do Waiau Toa, com uma elevação permanente de 6,5 metros de altura, mudando o caminho do rio.

Mudança no curso do rio Waiau Toa, na Nova Zelândia, após terremoto em 2016. O trajeto do rio cortava a imagem, mas a porção do terreno à direita da linha vermelha subiu até 6,5 metros, fazendo com que o córrego tivesse seu trajeto alterado (Imagem: Erin McEwan et al./Reprodução via Science Advances)

Como prever esses fenômenos?

Não há como prever exatamente onde e quando terremotos irão acontecer, mas conhecendo as falhas geológicas em uma região e onde elas passam por cursos d’água, pesquisadores já conseguem estimar áreas que podem ser afetadas pelas mudanças no trajeto dos rios causadas pelos tremores.

Para isso, a equipe neozelandesa construiu dois modelos computacionais de inundação, tentando simular o comportamento na falha que rompeu em 2016 — os resultados puderam ser validados através do mundo real, vendo para onde o rio passou a ir. Ainda que não seja possível saber o quanto de deslocamento vertical vai acontecer, a ferramenta permite investigar a extensão dos impactos em cenários em que ele é maior ou menor. Além disso, os modelos mostraram que, se o volume do rio é baixo no momento do tremor, a mudança de curso será significativamente mais lenta.

Simulação do trajeto do rio em diferentes cenários. Cada linha representa um diferente volume de água correndo no rio, enquanto cada coluna traz deslocamentos verticais e horizontais distintos ao longo da falha geológica (Imagem: Erin McEwan et al./Reprodução via Science Advances)

Os resultados mostram como estar preparado pode salvar vidas em desastres como estes. As duas descobertas permitem que autoridades responsáveis por locais de risco possam planejar ações emergenciais ou mesmo medidas preventivas em relação destas enchentes, como a construção de barragens.