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Sustentáveis e sem crueldade animal, calçados veganos ganham espaço no mercado

Sustentáveis e sem crueldade animal, calçados veganos ganham espaço no mercado

No mundo, setor deve movimentar R$ 130 bilhões em 2020, com tendência de crescimento acima de 7% até 2030, aponta estudo

O interesse maior por produtos sustentáveis, livres de crueldade animal e com menor pegada ambiental tem feito crescer cada vez mais o mercado global de calçados veganos.

A estimativa é que o setor movimente US$ 24,86 bilhões – R$ 130 bilhões – em 2020, com expectativa de expansão de 7,2% até 2030, segundo relatório do Future Market Insights (FMI).

O estudo ainda aponta que gigantes deste mercado como Nike, Adidas, Puma, Under Armour e outras estão incorporando mais programas de reciclagem e coleções de calçados à base de planta para atrair um novo público que busca o consumo consciente.

No Brasil, a certificação de produtos veganos não é obrigatória e não há uma regulamentação formal sobre o tema. Mas há empresas que buscam um selo como o da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), que já certificou mais de 2.900 itens, incluindo calçados.

O programa de certificação, focado em produtos, não empresas, existe desde 2013, de acordo com Maria Eduarda Lemos, engenheira de alimentos e gerente de certificação da organização. Segundo ela, mais de 500 modelos de calçados já obtiveram o selo, que tem validade anual e precisa ser renovado.

Atualmente, apenas dois modelos da marca Anacapri têm a certificação da organização. Mas, desde julho de 2020, 12 empresas de calçados procuraram a SVB para pleitear ou obter o selo.

Para a certificação de calçados, a SVB conta com um técnico especialista que faz visitas às fábricas e analisa a produção. “Não avaliamos só o material utilizado, mas o processo produtivo e os equipamentos. Pode ser que algum utensílio ou ferramenta tenha origem animal, e isso invalida o processo de certificação”, explica Maria Eduarda.

De acordo com Gabriel Silva, CEO da Ahimsa, marca de calçados veganos, ainda existem muitas fábricas que, apesar de utilizarem matérias-primas veganas, têm procesoss que não são totalmente livres de crueldade animal. “Há fábricas que usam escovas de acabamento para dar brilho com pelo de cavalo ou cera de abelha. Então, o calçado deixa de ser vegano sem que o consumidor saiba”, afirma. A empresa possui o certificado da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), uma das maiores organização do mundo que se dedica à causa animal.

Silva afirma que a Ahimsa possui produção verticalizada e 100% interna, o que garante o controle do processo de ponta a ponta. “Nós utilizamos tecidos e sintéticos de composições variadas, desde algodão orgânico, reciclado, convencional, poliéster, sintéticos de poliuretano, microfibra com poliuretano, tudo buscando o melhor produto, livre de crueldade animal, vegano e mais sustentável possível”, conta.

Com o setor em expansão, o CEO conta como a empresa se adapta ao que o público busca. Em 2013, no início do negócio, a Ahimsa buscava fugir do visual do couro, porém, a partir de 2015, a empresa mudou a postura para aumentar seu público alvo.

“Fizemos uma mudança buscando materiais que simulam o visual do couro para que pudéssemos ampliar nosso foco, não só para pessoas simpatizantes da causa vegana, e sim para qualquer pessoa que se interessasse em ter um calçado vegano e sustentável”, ressalta.

Gabriel Silva afirma que o preço final dos produtos da Ahimsa são compatíveis com o mercado quando comparado às empresas similares. “Nosso produto consome 17 vezes menos água do que um de couro, então, cada peça vendida faz diferença no meio ambiente. Procuramos converter pessoas que ainda não despertaram para o consumo consciente.”

Um dos fatores que mais têm impulsionado o mercado de calçados veganos são as menores pegadas ambientais da produção. “Independente de a pessoa ser vegana ou vegetariana, vivemos um momento que o planeta está falando com a gente. A mudança climática, que era hipotética, agora é visível. Devemos pensar no nosso próprio consumo, independente de abrir mão da carne, devemos pensar além disso”, finaliza.