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Startup que extrai metais preciosos de lixo eletrônico capta R$ 1,04 milhão para potencializar soluções

Startup que extrai metais preciosos de lixo eletrônico capta R$ 1,04 milhão para potencializar soluções

Com modelo de negócio que prevê alta rentabilidade, Recicli projeta um faturamento anual de R$ 61,5 milhões até 2028

De olho no alto volume de lixo eletrônico que é gerado anualmente no Brasil e no mundo e, principalmente, na defasagem de iniciativas de reciclagem para esses materiais, o pesquisador Flávio Pietrobon transformou seu trabalho acadêmico em uma ideia de negócio. Fundada em 2017, a Recicli é uma cleantech que tem como objetivo contribuir para a economia circular a partir da reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos, dos quais extrai matérias-primas como ouro, prata e cobre.

Depois de operar por bootstrap até agosto do ano passado, a empresa decidiu buscar capital de investidores para expandir e modernizar a linha de produção. Por meio da Captable, plataforma de equity crowdfunding, a startup acaba de anunciar a conclusão de uma rodada de R$ 1,043 milhão, com a participação de 217 investidores.

Para atingir o objetivo de expansão, os recursos serão destinados para infraestrutura, aumento de capacidade operacional e desenvolvimento tecnológico a fim de aperfeiçoar a linha de produção, sobretudo para uma maior eficiência do pré-processamento dos materiais. A projeção é que a estrutura buscada com o investimento esteja pronta até o fim deste ano.

De acordo com a Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (Abrelpe), o Brasil gerou mais de 25 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos em 2022, dos quais apenas 3% foram reciclados corretamente. Para ajudar a transformar essa realidade, a Recicli usa uma tecnologia própria baseada em biometalurgia, método que não gera impactos negativos para o ambiente, como emissão de poluentes por processos químicos.

“O que a gente faz é a separação e a recuperação dos metais nobres. O resíduo é triturado e, dentro do equipamento, conseguimos separar metais importantes”, explica Paulo Pietrobon, CPO e um dos sócios fundadores da startup.

Em três anos, o processo de manufatura reversa – ou seja, desmonte, descaracterização e reciclagem de produtos que chegaram ao fim da vida útil – já permitiu a destinação adequada de 30 toneladas de equipamentos. A empresa visa recuperar aproximadamente 50 kg de metais nobres a cada tonelada de equipamentos eletrônicos, o que resulta em cerca R$ 116 mil gerados por tonelada.

A tecnologia usada pela startup é inteiramente patenteada, o que, para os fundadores, representa um aspecto importante para a atração dos atuais e potenciais investidores, tendo em vista a exclusividade da solução e a barreira de mercado imposta para possíveis concorrentes. De acordo com Flávio Pietrobon, a proteção jurídica é dos elementos que possibilitam a expectativa de crescimento, que é ancorada também no potencial do mercado.

Além dos resíduos eletrônicos provenientes de uma relação direta da startup com as grandes indústrias, os fundadores do negócio desenvolveram uma spin off para estruturar a cadeia de suprimentos dos resíduos. Batizado de REEEturn (nome que vem da sigla REEE, referente a Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos), o negócio funciona como uma plataforma digital de logística reversa que orienta os consumidores sobre o descarte adequado de eletrônicos e, em parceria com a Recicli, facilita a chegada dos produtos à operação da empresa.

Para expandir as atividades, a startup incluiu as baterias de veículos elétricos na sua mira. A partir de pequenas alterações na tecnologia, a Recicli é capaz de recuperar metais preciosos como lítio, cobalto, e níquel, essenciais para a produção de novas baterias. A empresa também planeja desenvolver uma metodologia para reciclar placas fotovoltaicas usadas em sistemas de energia solar para recuperar metais e semimetais necessários para a produção de novas unidades.

“Temos insumos que praticamente não têm custo e, na outra ponta, temos como produto os metais de grande valor. Então, na medida em que você dá escala, isso gera uma projeção de receita e de lucratividade bastante relevante”, avalia Paulo Pietrobon.

Depois de faturar pouco mais de R$ 1 milhão em 2023, a empresa projeta um faturamento anual de cerca de R$ 61,5 milhões até 2028. Até 2031, a expectativa é alcançar uma receita acima dos R$ 2 bilhões. Neste ano, a startup quer processar de 20 a 24 toneladas; até o final de 2028, a ideia é chegar a 3 mil toneladas. Além da rodada de investimento concluída e das novas tecnologias, os fundadores da Recicli planejam estruturar uma nova captação em 2025. A expectativa é conquistar cerca de R$ 20 milhões.