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Sob risco de liquefação do solo após terremoto, mortos em Mianmar já passam de mil

Sob risco de liquefação do solo após terremoto, mortos em Mianmar já passam de mil

Entenda o que causou o terremoto de magnitude 7,7 desta sexta (28) em Mianmar e na Tailândia

Neste sábado (29), os governantes militares de Mianmar deixaram entrar centenas de equipes de resgate estrangeiras, após o saldo de vítimas fatais do desastre ambiental mais mortal no país já passa de mil pessoas. Nesta sexta-feira (28), um terremoto de magnitude 7,7 levou o caos à nação do Sudeste Asiático, paralisando aeroportos, pontes e rodovias em meio a uma guerra civil que já destruiu a economia e deslocou milhões.

Na vizinha Tailândia, onde o reflexos do terremoto sacudiram prédios e derrubaram um arranha-céu em construção na capital Bangkok, pelo menos nove pessoas morreram.

O modelo preditivo do Serviço Geológico dos EUA estima que o número de mortos em Mianmar pode passar de 10.000 e que as perdas decorrentes do terremoto poderiam exceder a produção econômica anual do país. O Serviço dos EUA também aponta que regiões do país asiático podem passar por um processo de liquefação do solo, um fenômeno em que a perda de resistência de solos soltos e saturados de água, causada pelo tremor, resulta em um solo que se comporta mais como um líquido do que como um sólido, enfraquecendo as bases sob construções e estradas.

“A liquefação pode causar o tombamento de edifícios, a expulsão de areia e água em “vulcões de areia” e a deformação permanente da superfície do solo”, diz o USGS. O órgão americano classifica o risco do fenômeno como “extensivo”, uma vez que a área vulnerável ultrapassa os 1 mil km², o que abarca uma área com uma população de mais de 1 milhão de pessoas.

Eventos anteriores onde ocorreram liquefação, como no terremoto de 2011 em Christchurch, na Nova Zelândia, mostram carros parcialmente afundados no solo.

Um carro preso em solo afundado após dois terremotos de magnitude 6,0 e 5,5 em 13 de junho de 2011 em Christchurch, Nova Zelândia. — Foto: Getty Images
Um carro preso em solo afundado após dois terremotos de magnitude 6,0 e 5,5 em 13 de junho de 2011 em Christchurch, Nova Zelândia. — Foto: Getty Images

Mianmar fica na fronteira entre duas placas tectônicas e é um dos países mais sismicamente ativos do mundo, embora terremotos grandes e destrutivos tenham sido relativamente raros na região. “O limite entre a Placa da Índia e a Placa da Eurásia corre aproximadamente de norte a sul, cortando o meio do país”, disse à Reuters Joanna Faure Walker, professora e especialista em terremotos da University College de Londres, na Inglaterra.

Walker explica que as placas se movem uma sobre a outra horizontalmente em velocidades diferentes. Embora isso cause terremotos normalmente são menos poderosos do que aqueles vistos em “zonas de subducção” como Sumatra, na Indonésia, onde uma placa desliza sob a outra, eles ainda podem atingir magnitudes de 7 a 8. O evento de sexta-feira foi “provavelmente o maior” a atingir Mianmar em 75 anos, disse à agência Bill McGuire, outro especialista em terremotos da UCL.

Segundo Roger Musson, pesquisador honorário do British Geological Survey, a profundidade rasa do terremoto, com um epicentro a apenas 10 km abaixo da terra, fez com que os danos fossem mais severos. “Isso é muito prejudicial porque ocorreu em uma profundidade rasa, então as ondas de choque não são dissipadas à medida que vão do foco do terremoto até a superfície. Os edifícios receberam toda a força do tremor.”