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Segredos do fundo do mar: como algas microscópicas influenciam o clima da Terra

Segredos do fundo do mar: como algas microscópicas influenciam o clima da Terra

Pesquisa revela que esqueletos de diatomáceas se transformam em argila em tempo recorde, alterando a química oceânica e o ciclo global de carbono

No silêncio profundo dos sedimentos marinhos, um processo químico de alta velocidade redefine a compreensão científica sobre o ciclo do carbono. Um estudo demonstra que os esqueletos de algas microscópicas, as diatomáceas, podem converter-se em minerais de argila em meros 40 dias. Esta descoberta revela um mecanismo dinâmico e até então subestimado que modela a química dos oceanos e, por consequência, o clima global.

A pesquisa, conduzida no Instituto de Tecnologia da Geórgia, desvendou os mecanismos do chamado intemperismo reverso. Os cientistas recriaram em laboratório as condições do fundo do mar, observando a completa transformação da sílica biogênica – os esqueletos vítreos das diatomáceas – em argilas ricas em ferro. A velocidade do processo, anteriormente estimada em centenas de anos, surpreendeu a equipe.

Estas algas unicelulares, conhecidas por suas intricadas e belas conchas, já eram reconhecidas por seu papel ecológico. Enquanto vivas, realizam fotossíntese, absorvem dióxido de carbono da atmosfera e constituem a base de cadeias alimentares marinhas. No entanto, a nova evidência indica que sua influência se estende por muito tempo após sua morte.

A rápida formação de argilas autigênicas atua como um regulador da química oceânica. Este processo controla a disponibilidade de sílica na água, influencia a liberação ou o armazenamento de dióxido de carbono e recicla metais traço e nutrientes essenciais para os ecossistemas marinhos. A transformação ajuda a resolver um mistério de longa data: o paradeiro da sílica que entra nos oceanos, mas não é depositada nos sedimentos.

A descoberta redefine a percepção do leito marinho, que deixa de ser um cemitério passivo para ser entendido como um motor químico ativo. As reações em escala molecular, embora microscopicamente pequenas, reverberam em ciclos elementares globais. Esta nova visão oferece dados vitais para aprimorar os modelos climáticos que preveem a resposta dos oceanos às mudanças ambientais.

As implicações são vastas, fornecendo uma base mais sólida para projetar cenários de acidificação costeira e alcalinidade oceânica. O próximo passo da investigação é explorar como variações na química da água afetam essas transformações e validar as descobertas de laboratório com amostras de ambientes costeiros e de águas profundas. O estudo serve como um poderoso testemunho de como processos aparentemente obscuros no fundo do mar integram os ciclos do silício, do carbono e do clima do planeta.