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Risco climático: do carbono ao prejuízo financeiro

Risco climático: do carbono ao prejuízo financeiro

O aquecimento global deixou de ser uma previsão distante para se tornar uma realidade concreta que já impacta economias no mundo inteiro. O aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa elevou a temperatura média do planeta e desencadeou um ciclo de anomalias climáticas cada vez mais frequentes – estiagens prolongadas, chuvas torrenciais, vendavais e ondas de calor. O que antes parecia um problema ambiental restrito hoje se converte em risco econômico e financeiro de grande magnitude.

A face brasileira da crise climática

No Brasil, os efeitos já são intensos e mensuráveis. Em outubro de 2024, um apagão prolongado em São Paulo provocou R$ 1,82 bilhão em perdas para o comércio e serviços, segundo a FecomercioSP. Só o varejo respondeu por R$ 589 milhões desse montante, e o Dia das Crianças registrou R$ 211 milhões em vendas não realizadas. Empresários relataram prejuízos de até R$ 500 mil em um único estabelecimento pela perda de produtos perecíveis. Para a Enel SP, os números também se agravaram: as compensações pagas por falhas de energia saltaram de R$ 80,9 milhões em 2022 para R$ 104,8 milhões em 2023, e em 2024 já somavam mais da metade do total do ano anterior.

Em setembro de 2025, um vendaval atingiu a planta da Toyota em Porto Feliz (SP), interrompendo a produção de motores e paralisando fábricas em Sorocaba e Indaiatuba. O impacto foi imediato: a montadora estima que 25 mil veículos deixarão de ser produzidos até o fim de 2025, com perda de 16 mil unidades a cada 20 dias de paralisação. Mais de 5,7 mil funcionários entraram em férias coletivas emergenciais, e fornecedores em todo o país foram afetados. O episódio adiou o lançamento de novos modelos e deverá custar meses de recuperação à companhia.

No campo, a vulnerabilidade é ainda mais evidente. Safras de café, soja, milho e cana vêm sofrendo perdas de 10% a 30% em diferentes regiões por conta de secas prolongadas ou chuvas fora de época. Em estados do Centro-Oeste e Nordeste, estiagens severas já provocaram prejuízos bilionários em anos recentes. Além da queda de produtividade, aumentam os custos com seguros rurais, irrigação e adaptação tecnológica, elevando a pressão sobre produtores e exportadores.

Esses episódios deixam claro: o risco climático não é mais um evento isolado, mas sim um vetor estrutural de instabilidade. Ele pressiona balanços, desorganiza cadeias de suprimento, aumenta passivos financeiros e obriga empresas, governos e bancos a revisarem sua forma de operar.

Do impacto ambiental ao impacto financeiro

O risco climático atravessou o limite da sustentabilidade corporativa para se tornar questão estratégica. Ele afeta custos de produção, atratividade de investimentos, reputação de marcas e até a continuidade dos negócios. Cada evento extremo gera impactos que vão além dos danos físicos: perda de produtividade, aumento no custo dos seguros, queda no valor de ativos e necessidade de aportes financeiros emergenciais.

Ao não incorporar a variável climática em seus planos, empresas se expõem a riscos crescentes e a desvantagens competitivas frente a concorrentes que já tratam a sustentabilidade como eixo estratégico.

O recado é inequívoco: ignorar o risco climático custa caro. Por outro lado, a transição para uma economia de baixo carbono abre oportunidades significativas — da adaptação de cadeias produtivas à inovação em finanças verdes. As companhias que conseguirem equilibrar mitigação de riscos e criação de valor estarão mais preparadas para liderar esse novo capítulo econômico global.