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Rio Grande do Sul enfrenta epidemias após enchente

Rio Grande do Sul enfrenta epidemias após enchente

Seis meses após as enchentes que devastaram regiões no Rio Grande do Sul, o estado enfrenta agora epidemias de leptospirose e dengue. O aumento dos casos dessas enfermidades está diretamente relacionado à tragédia que afetou 85% dos municípios gaúchos.

“Quando temos uma inundação desse tamanho, a água acaba carregando todas essas doenças para dentro da casa da população. Com um cenário de lama e água de esgoto, a bactéria e o vírus podem sobreviver por meses. É o que está acontecendo no sul do país, uma expressiva transmissão, que acaba assumindo um perfil epidêmico”, explica Christovam Barcellos, especialista em saúde pública do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo dados do Ministério da Saúde, 910 casos de leptospirose e 79 óbitos pela doença foram registrados no estado entre abril e agosto deste ano – quase três vezes mais casos e o dobro de mortes contabilizados nos seis meses anteriores às enchentes. Entre outubro de 2023 e março de 2024, forma 343 casos confirmados e 47 óbitos.

“Trata-se do recorde da série histórica. Nunca houve tanto caso e nunca morreu tanta gente de leptospirose no Rio Grande do Sul. A letalidade da doença é considera alta, em torno de 10%. E a transmissão continua acontecendo, à medida que a remoção de destroços e a limpeza de áreas lamacentas não forem feitas adequadamente”, diz Barcellos.

Número pode ser maior

Na avaliação de Túlio Batista Franco, professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), o número de contaminações e mortes por leptospirose pode ser muito maior do que o registrado oficialmente.

“As subnotificações se tornam uma realidade em casos de tragédias dessa proporção. Podemos citar casos em que o paciente ficou assintomático e não foi ao hospital. Mas também há pessoas que moram em comunidade, ficaram doentes e morreram antes de buscar por tratamento.  Os sintomas da leptospirose em muitos casos são confundidos com problemas mais brandos”, destaca Franco.

Causada pela bactéria Leptospira interrogans, a leptospirose é transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais infectados, principalmente ratos. Os principais sintomas da doença são dores musculares, febre, dor de cabeça, fraqueza, falta de apetite, além de náuseas e vômitos. Em casos graves, pode levar à falência de órgãos e morte.

O tratamento é feito com o uso de antibióticos. Para se prevenir, é recomendado evitar contato com lama de enchentes e utilizar luvas e botas de borracha para fazer a limpeza de locais atingidos.

Explosão nos casos de dengue

Os casos de dengue também apresentam um aumento preocupante no Rio Grande do Sul. Em 2024, os registros da doença chegaram ao maior patamar da série histórica iniciada em 2015. Segundo dados do governo do estado, neste ano, já foram registrados 195.853 casos da doença. Esse número supera em cinco vezes todo os casos de 2023, quando o estado contabilizou 38 mil infecções.

“As enchentes possibilitam muitos focos de água parada, ou seja, o melhor ambiente possível para o desenvolvimento do mosquito. Além da remoção desses pontos hídricos, a dedetização aparece como principal medida profilática”, ressalta Franco.

Já o número de mortes por dengue no estado chegou a 281, ultrapassando o total de óbitos pela doença da série histórica, que registrou ao todo 140 mortes de 2015 a 2023. Atualmente, 466 municípios estão infestados pelo mosquito transmissor da dengue, o Aedes Aegypti. Isso corresponde a praticamente 95% do território gaúcho.