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Rico em vitamina C, fruto camu-camu é aposta para nova cadeia sustentável de impacto

Rico em vitamina C, fruto camu-camu é aposta para nova cadeia sustentável de impacto

Estudo do Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam) e da Fundação Certi traça um raio-x dos obstáculos do mercado que ainda é pouco conhecido no Brasil

Um pequeno fruto da Amazônia é a maior fonte de vitamina C já identificada na natureza, com uma concentração cem vezes maior que a do limão e 20 vezes maior que a da acerola. Apesar de tanta riqueza nutritiva (e saborosa), o mercado brasileiro praticamente não conhece o camu-camu. Essa realidade é justamente o que instituições de fomento da região amazônica planejam mudar.

Hoje, enquanto o Peru arrecada milhões de dólares exportando o camu-camu, no Brasil, o fruto está presente, basicamente, em pequenos mercados de rotas turísticas de Roraima e Amazonas, no formato de geleia ou de licor.

Pensando em soluções para impulsionar a cadeia no Brasil, o Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam) e a Fundação Certi publicaram, recentemente, um estudo que traça um raio-x dos obstáculos.

Conhecido como “ouro da Amazônia”, o camu-camu também é chamado de caçari ou araçá-d’água. O fruto pode ser consumido de várias formas, como suco e doces variados, por exemplo.

Além do uso da polpa para alimentação, a semente e a casca são úteis para a indústria cosmética e a farmacêutica. O estudo do Idesam e da Certi identificou que o camu-camu vem sendo usado na fabricação de uma bebida consumida nos Estados Unidos e de um cosmético na Alemanha.

A ocorrência da “superfruta” é observada, principalmente, na beira de rios, nas regiões Oeste e Norte da Amazônia, em especial nos estados do Amazonas e de Roraima. Comunidades ribeirinhas são seus principais consumidores, e doces do fruto são pontualmente encontrados em passeios turísticos pela floresta. O estudo identificou que menos de uma dezena de toneladas de polpa é exportada da Amazônia brasileira anualmente.

Hoje, o camu-camu é pouco conhecido até na Região Norte. Coordenador do Centro de Economia Verde da Fundação Certi, André Noronha disse que, no desenvolvimento do estudo, verificou-se que 90% dos moradores de Roraima não conheciam o fruto.

— Não é novidade que a Amazônia tem potencial gigantesco pouco explorado. Não teve investimento suficiente nas cadeias produtivas para fazer a floresta prosperar de maneira sustentável. O Japão tem três vezes mais espécies catalogadas na nossa Amazônia do que nós — explica Noronha.

Uma dificuldade da cadeia produtiva do camu-camu é a distância entre as comunidades ribeirinhas extrativistas e possíveis centrais de abastecimento. Assim, uma proposta seria aproximar pequenos barcos com equipamentos de coleta e processamento, como é feito com o açaí.

Mas, para a cadeia ganhar escala, é necessário aumentar o volume de produção.

— Temos uma cadeia em potencial, com tecnologia agrícola disponível e mapeamento de onde o fruto ocorre — diz Noronha.

O passo seguinte seria o incentivo econômico, partindo para um modelo sustentável de produção.

— Queremos continuar tirando floresta ou achar uma forma de produzir e continuar com ela? Há uma decisão a ser feita nos próximos poucos anos que vai repercutir no resto das nossas vidas — explica Noronha, referindo-se ao contexto das mudanças climáticas. — Já estamos engolindo tantas consequências bizarras que não dá mais para fechar os olhos. Para a urgência florestal que temos, precisamos de reação à altura da pressão que a gente sofre.