Remédio para diabetes reduz risco de morte por doenças cardiovasculares, diz estudo
Com o mesmo princípio ativo de remédios como Ozempic e Wegovy, versão oral da semaglutida mostrou em testes reduzir a incidência de morte por problemas cardíacos
O Rybelsus, medicamento oral usado no tratamento da diabetes tipo 2 e que contém a mesma substância ativa presente em remédios como Ozempic e Wegovy, pode reduzir em 14% o risco de morte por causas cardiovasculares, como infarto ou AVC, em pessoas com a doença. É o que sugere um estudo feito pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, fabricante do remédio, que divulgou resultados preliminares nesta semana.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o Rybelsus em 2020 para o tratamento da diabetes tipo 2 – uma condição crônica que afeta 90% das pessoas com diabetes no Brasil. O medicamento, que é a forma oral da semaglutida, está disponível em três dosagens: 3 mg, 7 mg e 14 mg.
O estudo analisou 9.650 voluntários com diabetes tipo 2, todos também diagnosticados com doença cardiovascular (DCV) e/ou doença renal crônica (DRC), que foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. Um grupo recebeu o medicamento Rybelsus, enquanto o outro foi tratado com placebo.
Os resultados indicaram que eventos cardiovasculares graves, como morte por causas cardíacas, infarto ou AVC não fatal, aconteceram com menor frequência entre os que tomaram o remédio oral em comparação aos que usaram placebo.
“Estamos satisfeitos em ver que os resultados demonstram que a semaglutida oral reduz o risco de eventos cardiovasculares e que os benefícios da semaglutida oral vêm além do tratamento padrão”, disse Martin Holst Lange, vice-presidente executivo e chefe de Desenvolvimento da Novo Nordisk, em comunicado. “Aproximadamente um em cada três adultos com diabetes tipo 2 também tem doença cardiovascular; portanto, é crucial ter terapias que possam abordar ambas as condições.”
Estima-se que 462 milhões de pessoas sejam afetados pelo diabetes tipo 2, o que corresponde a 6,28% da população mundial. A doença, que ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina que produz, pode ser desenvolvida pelo organismo por conta de excesso de peso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e má alimentação.
O diabetes tipo 2 é um dos principais fatores de risco para doenças cardíacas. Segundo a International Diabetes Federation (IDF), até 80% dos pacientes com essa condição morrem em decorrência de problemas cardiovasculares. Por isso, medicamentos que tratam o diabetes tipo 2 enquanto reduzem o risco de morte por doenças cardíacas podem se tornar uma ferramenta crucial no tratamento.
Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece seis medicamentos de graça pelo programa Farmácia Popular, como a caneta de insulina, além de acompanhamentos com outras especialidades para o tratamento de complicações.
Link com a obesidade
Uma pesquisa sobre o Wegovy, medicamento para o tratamento de obesidade lançado no Brasil em julho deste ano, também apontou uma redução de 20% no risco de doenças cardiovasculares em pessoas com obesidade. Segundo a Associação Americana do Coração (AHA), em 2020, a taxa de mortalidade entre indivíduos com doença devido a essas condições foi de 6,6 por 100 mil habitantes.
A obesidade, classificada como uma doença crônica pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é geralmente diagnosticada pelo Índice de Massa Corporal (IMC), calculado dividindo o peso (em quilos) pela altura elevada ao quadrado (em metros). Além disso, são realizadas avaliações da composição corporal e da circunferência da cintura. O tratamento envolve uma equipe multidisciplinar, que, além dos médicos, deve contar com nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos.
Uma pesquisa publicada na revista científica Diabetes, Obesity and Metabolism em 2019 revelou que as pessoas podem levar até seis anos para buscar tratamento para a obesidade. Essa demora na busca por atendimento médico pode expor pacientes a sérios riscos à saúde, já que a obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e diabetes.
De acordo com dados apresentados no Congresso Internacional sobre Obesidade de 2024, estima-se que até 2044 cerca de 48% dos adultos no Brasil terão obesidade, enquanto 27% apresentarão sobrepeso. Atualmente, 34% da população adulta já convive com a doença, e 22% com sobrepeso. Apesar desse quadro preocupante, o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece medicamentos específicos para o tratamento da obesidade.
Atualização da bula
Atualmente, o Rybelsus e o Wegovy ainda não incluem a redução de risco cardiovascular em suas bulas brasileiras. No entanto, segundo a farmacêutica Novo Nordisk, estudos sobre os benefícios cardíacos desses medicamentos estão em andamento e devem ser publicados em 2025, possibilitando a inclusão dessas informações.
A U.S. Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos, já indica o uso do Wegovy para a redução do risco de complicações cardiovasculares em adultos com doenças cardíacas que também apresentem obesidade ou sobrepeso.
Já no Brasil, o Projeto de Lei 2264/24, encaminhado à Câmara dos Deputados em julho deste ano, propõe a inclusão da liraglutida – princípio ativo também usado em tratamentos da diabetes tipo 2 – e da semaglutida no Sistema Único de Saúde (SUS) e sua inserção na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename).