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Relatório alerta que 22 dos 34 ‘sinais vitais’ da Terra atingiram recordes e reforça urgência de ação

Relatório alerta que 22 dos 34 ‘sinais vitais’ da Terra atingiram recordes e reforça urgência de ação

“O tempo é curto, mas não acabou. Mudanças sociais e políticas podem se espalhar rapidamente, basta uma ação coletiva sustentada para virar o jogo”, afirmam os cientistas

O planeta Terra dá sinais claros de colapso. Segundo o relatório State of the Climate 2025, publicado na revista científica BioScience, 22 dos 34 “sinais vitais” do sistema terrestre — como temperatura dos oceanos, extensão do gelo marinho e níveis de CO₂ atmosférico — atingiram recordes históricos. O documento, assinado por mais de 20 cientistas liderados por William Ripple, da Universidade Estadual do Oregon, nos Estados Unidos, descreve uma “emergência planetária” e alerta que o mundo está “rumo ao caos climático”.

Os pesquisadores afirmam que 2024 foi o ano mais quente já registrado, provavelmente mais quente até mesmo do que o pico do último período interglacial, há cerca de 125 mil anos. O aquecimento acelerado tem sido impulsionado pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa associadas à queima de combustíveis fósseis e pela redução do resfriamento causado por aerossóis — partículas finas suspensas no ar, como poeira, fuligem e sulfatos liberados por atividades humanas, que antes refletiam parte da luz solar de volta para o espaço.

Rastro de destruição deixado pelo furacão Melissa na Jamaica — Foto: Reprodução/Redes sociais
Rastro de destruição deixado pelo furacão Melissa na Jamaica — Foto: Reprodução/Redes sociais

Outro fator é o escurecimento da superfície terrestre provocado pelo derretimento de gelo e neve, especialmente no Ártico e na Antártida. À medida que áreas brancas e refletivas são substituídas por solo e oceano, mais escuros, a absorção de calor solar aumenta, intensificando ainda mais o aquecimento global.

“O planeta está em sofrimento sistêmico”, escreveu Ripple.

“Sem ações rápidas, entraremos em uma trajetória perigosa para a humanidade.” Entre os dados mais alarmantes, o relatório destaca o derretimento recorde das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida, o aquecimento sem precedentes dos oceanos e a maior perda de cobertura vegetal por queimadas desde que há registro — com aumento de 370% nas florestas tropicais primárias em relação a 2023. O calor marinho extremo provocou o maior branqueamento de corais já observado, afetando 84% dos recifes do planeta.

Um voluntário de busca e resgate segura uma camiseta e uma mochila com as palavras Camp Mystic em Comfort, Texas — Foto: Getty Images
Um voluntário de busca e resgate segura uma camiseta e uma mochila com as palavras Camp Mystic em Comfort, Texas — Foto: Getty Images

Desastres climáticos como enchentes, incêndios e furacões intensos, como o Melissa, que deixou a Jamaica em estado de calamidade nesta semana, estão mais letais e custosos. Só as enchentes no Texas, em 2024, deixaram 135 mortos, e os incêndios na Califórnia somaram perdas superiores a US$ 250 bilhões. Desde os anos 2000, os eventos climáticos extremos já geraram prejuízos globais de mais de US$ 18 trilhões.

O relatório também aponta para um possível enfraquecimento da circulação meridional do Atlântico, corrente oceânica essencial para a regulação do clima global. Caso se confirme, esse processo pode desencadear uma série de rupturas climáticas em cascata.

Além das mudanças físicas, os cientistas alertam para o impacto sobre a biodiversidade: mais de 3.500 espécies já estão sob risco, e há evidências de colapsos populacionais ligados diretamente ao aquecimento global. As crise climática também ameaça a segurança alimentar e hídrica, reduzindo a produtividade agrícola e aumentando o potencial de conflitos por água.

Vista aérea das casas destruídas pelo incêndio em Pacific Palisades, Los Angeles, Califórnia. — Foto: Mario Tama/GettyImages
Vista aérea das casas destruídas pelo incêndio em Pacific Palisades, Los Angeles, Califórnia. — Foto: Mario Tama/GettyImages

A equipe de pesquisadores reforça que a principal força motriz da crise continua sendo o modelo econômico baseado em consumo excessivo e uso de combustíveis fósseis. Em 2024, o consumo de carvão, petróleo e gás atingiu o maior nível da história, superando em 31 vezes o uso combinado de energia solar e eólica. “Não basta tecnologia. Precisamos repensar o modo de vida e o que valorizamos como sociedade”, afirma Ripple.

Apesar do diagnóstico grave, os autores destacam que ainda há caminhos possíveis para desviar do colapso. Estratégias de mitigação, como proteção florestal, transição para energias renováveis e dietas com menor impacto ambiental, são urgentes e economicamente viáveis. “O tempo é curto, mas não acabou. Mudanças sociais e políticas podem se espalhar rapidamente, basta uma ação coletiva sustentada para virar o jogo”, conclui o relatório.

Ilse Noguez/GettyImages — Foto: Enchentes no Rio Grande do Sul.
Ilse Noguez/GettyImages — Foto: Enchentes no Rio Grande do Sul.