Preocupação com mudanças climáticas faz surgir mercado de créditos de carbono
Comércio de carbono deve movimentar US$ 167 bilhões por ano em 2030. E o Brasil poderia tirar proveito das florestas e da agricultura para receber uma boa parte desses investimentos.
De olho na crise climática, o mundo busca medidas para reduzir a emissão de gases poluentes. Uma opção é a regulamentação do chamado mercado de créditos de carbono – em que o Brasil tem potencial bilionário.
Em uma fazenda em Guaíra, no interior de São Paulo, a terra onde se produz soja recebe a cobertura de outras plantas. A técnica reduz a emissão de carbono, um dos gases do efeito estufa, preserva a umidade no solo e aumenta a produtividade no campo.
“Nós estamos buscando um solo altamente fértil e equilibrado. Então, um solo equilibrado, a planta vai ser mais sadia. Quanto mais sadia a planta for, maior vai ser esse sequestro de carbono e a liberação de oxigênio”, destaca Maira Lelis, produtora rural.
A fazenda da Maira é parte do projeto de uma empresa multinacional que atualmente incentiva 1.800 produtores rurais a reduzir as emissões na agricultura.
“O produtor vai implementar práticas sustentáveis na realidade dele para produzir mais. Ao mesmo tempo que ele produz mais alimento, a gente consegue sequestrar mais carbono naquele solo”, explica Fábio Passos, dir. neg. de carbono da Bayer para Am. Latina.
A preocupação com as mudanças climáticas fez surgir o mercado de créditos de carbono. Cada tonelada de carbono que deixa de ser lançada na atmosfera equivale a um certificado, que pode ser negociado. Indústrias e países que não conseguem reduzir as emissões compram créditos de quem, por exemplo, tem projetos de reflorestamento ou investe em agricultura sustentável.
Regras para o mercado de carbono vão ser debatidas na COP 26, a Conferência Global do Clima em Glasgow, na Escócia, que começa no fim do mês. Em um documento, 115 grandes empresas brasileiras pedem que o país seja protagonista dessa negociação. Elas temem que o governo federal possa se posicionar contra regras que garantem o comércio com empresas e países estrangeiros.
Na COP de Madri, em 2019, o Brasil foi acusado de bloquear as discussões sobre o mercado global de carbono.
A presidente do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, Marina Grossi, levou esta semana a posição dos empresários ao ministro das Relações Exteriores, Carlos França: “Mesmo o setor que emite muito como óleo e gás, ele gosta dessa ideia. O mercado de carbono ajuda as empresas a fazerem a transição para uma economia mais limpa. Ela vai migrando de usina e de furar poço de petróleo para a usina eólica e solar. Porque isso passa a ser mais competitivo, já que aquela que está emitindo mais, como óleo e gás, é mais penalizado”.
O comércio de carbono deve movimentar US$ 167 bilhões por ano em 2030. E o Brasil poderia tirar proveito das florestas e da agricultura para receber uma boa parte desses investimentos.
“Estima-se que o Brasil tenha pelo menos 30 a 40% desse mercado. Então, o Brasil poderia, em 2030, já estar negociando de US$ 30 a 70 bilhões. Mas isso precisa que o Brasil entenda que ele quer fazer isso. É como nós vamos trazer essa regulamentação para criar uma estrutura de governança aqui no Brasil para que valorizemos as nossas vantagens competitivas”, afirma Ronaldo Seroa, professor de economia da UERJ.