Por que sociedades médicas e estudo científico defendem tratamento mais rigoroso para pressão alta?

Nova Diretriz Brasileira de Hipertensão altera recomendações para tratamento da hipertensão. Pesquisa publicada na revista científica ‘The Lancet’ já havia mostrado que metas mais ambiciosas podem ser essenciais para reduzir a ocorrência de problemas cardiovasculares.
O controle da pressão arterial, especialmente para pessoas com hipertensão, é essencial para manter a qualidade de vida. E, a partir de agora, esse tratamento deverá ser ainda mais rigoroso.
➡️Isso porque a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025 mudou a meta para controle da pressão. A recomendação é que o nível fique abaixo de 13 por 8 (<130/80 mmHg) para todos os hipertensos, independentemente da idade, sexo ou presença de outras doenças.
🫀Entenda: “mmHg” é a abreviatura de milímetros de mercúrio, a unidade de medida usada para representar a pressão arterial. A pressão é sempre apresentada como dois números (sistólica/diastólica), por exemplo, 120/80 mmHg.
De acordo com os autores da nova diretriz, o limite mais baixo é fundamental para reduzir complicações cardíacas.
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O que muda no tratamento da hipertensão — Foto: Thalita Ferraz/Arte g1
Recentemente, um estudo publicado na revista científica “The Lancet” mostrou que tratamentos mais intensivos podem ser essenciais para reduzir a ocorrência de problemas cardiovasculares como infarto e AVC.
Segundo a pesquisa, metas mais ambiciosas de manejo da pressão – reduzindo o índice para 130 mmHg ou até 120 mmHg – em pessoas hipertensas podem diminuir eventos de risco cardíaco, além de reduzirem o número de mortes relacionadas ao coração.
“É bem reconhecido que valores mais baixos de pressão arterial estão associados a menor risco de eventos. Este estudo traz uma análise com um compilado de estudos recentes cujo objetivo foi demonstrar se o controle mais intenso da pressão traria mais benefício do que risco em diferentes populações”, analisa Luiz Bortolotto, cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do InCor.
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O estudo analisou dados de mais de 80 mil pacientes de seis grandes ensaios clínicos que testaram diferentes metas de pressão. O resultado foi uma redução de 1,73% no risco de problemas como AVC e infarto em pessoas com níveis mais baixos de pressão.
Sheyla Ferro, cardiologista e especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), analisa que considerando a abrangência da pesquisa, a redução é bastante significativa.
Apesar das conclusões do estudo, ela pondera que, como estabelecido na Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, a meta de pressão deve ser definida individualmente.
“Sempre é preciso considerar a idade, a presença de doença cardiovascular e possíveis fatores de risco”, detalha a médica.
Para quem vale o controle mais intensivo?
Os especialistas explicam que, com a nova diretriz, a orientação é que pacientes com hipertensão arterial mantenham a pressão sempre abaixo de 130/80 mmHg.
“O tratamento deve ser voltado para atingir esta meta principal, e buscar valores mais baixos, desde que tolerados para maior proteção”, comenta Bortolotto.
Ele ainda pontua que, se forem observadas alterações como aumento da massa do coração ou lesões renais, o controle deve ser mais rigoroso.
Para Sheyla Ferro, são justamente esses pacientes de alto risco que podem ser os mais beneficiados por um controle mais intensivo da pressão.
O estudo também aponta que os mais jovens e com maior risco cardiovascular associado tiveram os melhores resultados a partir de estratégias de tratamento mais rigorosas.
“Isso ocorre provavelmente porque ainda não houve tempo de acontecer lesões vasculares e em outros órgãos pelo tempo de exposição da doença”, analisa o cardiologista do Incor.
Riscos dos tratamentos intensivos
A pesquisa ainda ponderou que há riscos associados ao controle mais intensivo da pressão – apesar do benefício final ser superior aos possíveis efeitos colaterais.
👉Entre os principais eventos adversos observados, os pesquisadores relataram:
- Aumento de eventos relacionados à função renal, como lesão renal aguda
- Hipotensão, isto é, episódios de pressão excessivamente baixa
- Desmaios
- Quedas, principalmente associadas à pressão baixa e tontura
- Arritmia
Os efeitos renais foram os mais presentes entre os pacientes sob tratamento intensivo, tanto de forma aguda como crônica. Segundo os pesquisadores, esse foi o principal custo do manejo mais rigoroso da pressão.
“Nesses casos, é preciso um monitoramento mais frequente pelo exame de sangue da função renal, e dentro do possível, manter sempre uma hidratação adequada, evitar uso concomitante de anti-inflamatórios”, recomenda Bortolotto.
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Impacto da hipertensão no corpo — Foto: Bruna Azevedo/Arte g1
Como controlar a pressão?
Segundo os especialistas, o controle da pressão, seja ele de forma mais ou menos intensiva, passa por uma mudança de estilo de vida.
Sheyla Ferro explica que o tratamento da hipertensão deve aliar o uso de medicamentos com a busca por hábitos mais saudáveis, com alterações na alimentação e prática de exercício físico.
🏃🏻Nesse processo, as principais recomendações são:
- Redução do consumo de sal e de alimentos com grande quantidade de sódio
- Prática regular de atividades físicas
- Controle do peso corporal para evitar o desenvolvimento de obesidade
- Cuidado com a saúde mental para melhor administração do estresse
“É muito importante nunca acreditar em dietas, fórmulas ou remédios milagrosos. A hipertensão é uma doença crônica que deve ser tratada por toda a vida”, alerta a cardiologista.