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Por que o sangramento nas fezes deve sempre ser investigado?

Por que o sangramento nas fezes deve sempre ser investigado?

Sintoma pode sinalizar tanto condições benignas, como uma fissura anal ou hemorroidas, quanto um câncer de intestino; veja as orientações de especialistas

Encontrar um pouco de sangue nas fezes, na maior parte das vezes, está associado a condições benignas como uma fissura na região anal ou hemorroidas. Apesar da dor e do desconforto, essas doenças não evoluem para quadros mais perigosos. O problema é que, em alguns casos, o sangue é sintoma de algo mais grave, como o câncer do intestino grosso (ou colorretal).

Por conta da imprevisibilidade do sintoma, sempre que houver uma evacuação com sangramento, os especialistas pedem para que os pacientes fiquem em alerta. “Pode ser um ou outro, e pode ser os dois. Tanto o tumor do intestino quanto as hemorroidas e as fissuras anais são muito frequentes, sobretudo após os 50 anos”, explica Sergio Eduardo Alonso Araujo, médico coloproctologista, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia Einstein Família Dayan – Daycoval.

O especialista destaca que, para o diagnóstico, são indicados exame físico em consultório, como o exame proctológico que avalia o ânus e o reto, e a colonoscopia (endoscopia pelo ânus). A partir dessas avaliações, o médico verifica a presença de pólipos — lesões precursoras do câncer colorretal — ou se há sinais de fissura anal ou hemorroidas, por exemplo.

Fique atento aos sinais

Embora a consulta com o especialista seja a principal orientação, Araujo destaca que é possível diferenciar algumas características do sangramento retal entre aquelas mais associadas às condições benignas e às mais observadas em casos malignos.

“Quando o sangramento retal vem acompanhado de dor anal, é mais provável que seja uma doença do tipo fissura ou hemorroida. Além disso, quando vem associado a fezes mais endurecidas, e a pessoa sangra quando evacua fezes endurecidas, novamente existe uma chance aumentada de esse sangramento ser das hemorroidas ou das fissuras anais”, exemplifica o especialista.

No caso do câncer do intestino, o médico tende a considerar esse diagnóstico quando o sangramento surge mesmo com fezes amolecidas ou até líquidas. “Ou quando o número de evacuações e o hábito intestinal do paciente se alterou, especialmente se houve um aumento. Nessa situação, a chance de que seja algo no intestino grosso, e não uma fissura no ânus, é maior”, argumenta.

Sangue nas fezes pode sinalizar tanto uma fissura anal ou hemorroidas, quanto um câncer de intestino (Foto: Giorgio Trovani/ Unsplash)
Sangue nas fezes pode sinalizar tanto uma fissura anal ou hemorroidas, quanto um câncer de intestino (Foto: Giorgio Trovani/ Unsplash)

Outro sinal que gera preocupação é, além do sangramento, a sensação de evacuação incompleta. “É um indicativo de que talvez haja uma lesão benigna ou maligna. É como se o reto estivesse parcialmente ocupado pelo tumor e, mesmo que a pessoa esvazie o intestino, a parte ocupada pelo tumor sinaliza ao cérebro que ainda tem fezes a esvaziar”, explica o especialista, que cita o termo médico para essa sensação de evacuação incompleta: tenesmo.

Atenção à idade

O câncer do intestino grosso vem se manifestando em pessoas cada vez mais jovens, mesmo antes dos 50 anos, segundo Sidney Klajner, cirurgião do aparelho digestivo, coloproctologista e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Antes, a condição era mais comum em idosos. Isso coloca em alerta os especialistas que, se não costumavam investigar o sangramento em pacientes adultos, agora precisam de maior atenção na investigação, além do rastreamento em pacientes assintomáticos (que não manifestam sintomas).

“Mesmo que eu identifique a hemorroida ou a fissura no paciente, eu não sei se foi ela que causou o sangramento, ou se há um câncer em desenvolvimento também. Como a incidência aumentou muito entre jovens, sempre precisamos descartar a presença do câncer de intestino”, detalha Araujo. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são cerca de 40 mil novos casos todos os anos, no Brasil.