Por que cérebros femininos resistem mais ao tempo, mas sucumbem mais ao Alzheimer?

Estudo longitudinal com milhares de imagens cerebrais revela que a atrofia é mais acelerada nos homens, desafiando explicações simples para a maior prevalência do Alzheimer em mulheres
Num intricado quebra-cabeça da neurologia, um extenso estudo revela um contraste intrigante: o cérebro dos homens encolhe a um ritmo mais veloz que o das mulheres com o avançar da idade. Esta descoberta, no entanto, aprofunda um dos maiores mistérios da saúde cerebral, já que são as mulheres que apresentam taxas significativamente mais altas de doença de Alzheimer. A pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, analisou mais de 12.500 ressonâncias magnéticas de 4.726 indivíduos cognitivamente saudáveis, coletadas em 14 bancos de dados distintos.
A análise das imagens cerebrais, realizadas com um intervalo médio de três anos, focou em alterações na espessura da massa cinzenta e no volume de estruturas ligadas à memória, como o hipocampo. Os resultados demonstram que os homens experimentam uma redução de volume em um número maior de regiões cerebrais. Para ilustrar, o córtex pós-central, área responsável por processar sensações como tato e dor, registrou um declínio anual de 2,0% nos homens, contra 1,2% nas mulheres. Esse padrão sugere que o envelhecimento cerebral masculino é estruturalmente mais acelerado.
Especialistas ponderam que a complexidade das doenças neurodegenerativas exige cautela na interpretação. Se um declínio cerebral mais pronunciado fosse o fator determinante para o Alzheimer, a expectativa seria encontrar uma atrofia maior em áreas vulneráveis, como o hipocampo, justamente nas mulheres. Como isso não foi observado, a investigação precisa se voltar para outras hipóteses. A suscetibilidade biológica feminina à patologia da doença ou diferenças na longevidade e sobrevivência após o diagnóstico emergem como possíveis explicações.
A robustez do estudo é reconhecida, mas especialistas alertam para limitações. A amostra era composta majoritariamente por indivíduos com alto nível de escolaridade, um conhecido fator de proteção contra demências, o que a torna pouco representativa da diversidade da população global. Faltaram também dados sobre etnia e a idade de início da menopausa nas participantes, variáveis que influenciam o risco da doença. Curiosamente, quando os pesquisadores ajustaram a análise para o nível educacional, algumas das diferenças na taxa de declínio entre os sexos desapareceram.
Este trabalho reforça que a doença de Alzheimer é uma condição multifatorial, cuja compreensão exige estudos longitudinais que incluam tanto pessoas saudáveis quanto aquelas diagnosticadas com a condição. Observar apenas a atrofia cerebral relacionada à idade parece insuficiente para decifrar as complexidades por trás do maior número de casos em mulheres. O caminho para desvendar esse paradoxo demanda investigações mais abrangentes e diversificadas.