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Por que a poluição plástica se tornou uma crise global?

Por que a poluição plástica se tornou uma crise global?

Grande parte do planeta está nadando em plástico descartado, algo que está prejudicando muito a saúde animal e humana. Será que é possível reverter essa situação?

poluição plástica tornou-se um dos problemas ambientais mais urgentes, pois o rápido aumento da produção de produtos plásticos descartáveis supera a capacidade do mundo de lidar com eles. A poluição plástica é mais visível nos países em desenvolvimento da Ásia e da África, onde os sistemas de coleta de lixo geralmente são ineficientes ou inexistentes.

Mas o mundo desenvolvido, especialmente em países com baixos índices de reciclagem, também tem problemas para coletar adequadamente os plásticos descartados. O lixo plástico se tornou tão onipresente que motivou esforços para redigir um tratado global negociado pelas Nações Unidas (ONU).

Por que o plástico foi inventado?

Os plásticos produzidos a partir de combustíveis fósseis têm pouco mais de um século de existência. A produção e o desenvolvimento de milhares de novos produtos plásticos se aceleraram após a Segunda Guerra Mundial, transformando a era moderna de tal forma que a vida sem plásticos seria irreconhecível hoje. No plástico, os inventores encontraram um material leve e durável que pode ser usado em tudo, desde o transporte até a medicina.

O plástico revolucionou a medicina com dispositivos que salvam vidas, possibilitou viagens espaciais, tornou carros e jatos mais leves – economizando combustível e poluição – e salvou vidas com capacetes, incubadoras e equipamentos para água potável.

As conveniências oferecidas pelos plásticos, no entanto, levaram a uma cultura de descarte que revela o lado sombrio do material: atualmente, os plásticos de uso único representam 40% do plástico produzido todos os anos. Muitos desses produtos, como sacolas plásticas e embalagens de alimentos, têm uma vida útil de apenas alguns minutos ou horas, mas podem persistir no meio ambiente por centenas de anos.

Plástico no mundo em números 

Alguns fatos importantes:

  • Metade de todos os plásticos já fabricados foi produzida nos últimos 20 anos.
  • A produção aumentou exponencialmente, de 2,3 milhões de toneladas em 1950 para 448 milhões de toneladas em 2015. Espera-se que a produção dobre até 2050.
  • Todos os anos, cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos escapam para os oceanos das nações costeiras. Isso é o equivalente a colocar cinco sacos de lixo cheios de lixo em cada metro de litoral do mundo.

Os plásticos geralmente contêm aditivos que os tornam mais fortes, flexíveis e duráveis. Porém, muitos desses aditivos podem prolongar a vida útil dos produtos se eles se tornarem lixo, com algumas estimativas que variam de pelo menos 400 anos para se decomporem.

Como os plásticos circulam pelo mundo

maior parte do lixo plástico nos oceanos, o último reservatório da Terra, vem da terra. O lixo também é transportado para o mar pelos grandes rios, que atuam como correias transportadoras, coletando cada vez mais lixo à medida que se deslocam rio abaixo. Uma vez no mar, grande parte do lixo plástico permanece nas águas costeiras. Mas, uma vez capturado pelas correntes oceânicas, ele pode ser transportado para o mundo todo.

Na Ilha Henderson, um atol desabitado no Grupo Pitcairn, isolado a meio caminho entre o Chile e a Nova Zelândia, os cientistas encontraram itens de plástico da Rússia, dos Estados Unidos, da Europa, da América do Sul, do Japão e da China. Eles foram levados para o Pacífico Sul por uma corrente oceânica circular.

Microplásticos – uma nova ameaça à saúde

Uma vez no mar, a luz solar, o vento e a ação das ondas decompõem os resíduos plásticos em pequenas partículas, geralmente com menos de um quinto de polegada de diâmetro. Eles são chamados microplásticos e estão espalhados por todos os cantos do globo terrestre, desde o Monte Everest, o pico mais alto, até a Fossa das Marianas, a fossa mais profunda.

Os microplásticos estão se decompondo em pedaços cada vez menores. Enquanto isso, microfibras de plástico foram encontradas em sistemas municipais de água potável e no ar.

Não é de surpreender, portanto, que os cientistas tenham encontrado microplásticos nas pessoas. As minúsculas partículas estão em nosso sangue, pulmões e até mesmo nas fezes. A quantidade exata de microplásticos que pode estar prejudicando a saúde humana é uma pergunta que os cientistas estão tentando responder com urgência.

Danos à vida selvagem

A maioria das mortes de animais é causada por emaranhamento ou fome. Focas, baleias, tartarugas e outros animais são estrangulados por equipamentos de pesca abandonados ou por anéis de embalagem descartadosMicroplásticos foram encontrados em mais de 100 espécies aquáticas, incluindo peixes, camarões e mexilhões destinados aos nossos pratos.

Em muitos casos, esses pequenos pedaços passam pelo sistema digestivo e são expelidos sem consequências. Mas também se descobriu que os plásticos bloquearam os tratos digestivos ou perfuraram órgãos, causando a morte. Estômagos tão cheios de plásticos reduzem a vontade de comer, causando inanição.

Os plásticos foram consumidos por animais terrestres, incluindo elefantes, hienas, zebras, tigres, camelos, gado e outros mamíferos de grande porte, em alguns casos causando a morte.

Os testes também confirmaram danos ao fígado e às células e interrupções nos sistemas reprodutivos, fazendo com que algumas espécies, como as ostras, produzam menos ovos. Novas pesquisas mostram que os peixes larvais estão comendo nanofibras nos primeiros dias de vida, levantando novas questões sobre os efeitos dos plásticos nas populações de peixes.

Como acabar com a poluição plástica

Uma vez no oceanoé difícil – se não impossível – recuperar os resíduos plásticos. Sistemas mecânicos, como o Mr. Trash Wheel, um interceptor de lixo no porto de Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos, podem ser eficazes na coleta de grandes pedaços de plástico, como copos e recipientes para alimentos. Porém, uma vez que os plásticos se decompõem em microplásticos e ficam à deriva na coluna d’água no oceano aberto, é praticamente impossível recuperá-los.

A solução é, em primeiro lugar, evitar que os resíduos plásticos entrem nos rios e mares, afirmam muitos cientistas e conservacionistas, inclusive a National Geographic Society. Isso poderia ser feito com sistemas aprimorados de gerenciamento de resíduos e reciclagem, melhor design de produtos que leve em conta a curta vida útil das embalagens descartáveis e uma redução na fabricação de plásticos de uso único desnecessários.