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Pomba-rosada se recuperou da extinção, mas vem perdendo diversidade genética

Pomba-rosada se recuperou da extinção, mas vem perdendo diversidade genética

A pomba-rosada, espécie endêmica das Ilhas Maurício, retornou após quase ser extinta, mas estudos demonstram que a ave ainda tem perdido diversidade genética após reintrodução na natureza.

Nos anos 1980, havia apenas cerca de 10 espécimes na natureza, na mesma ilha do Oceano Índico que abrigava o extinto dodô. Entre os anos 1970 e 1980, a Mauritian Wildlife Foundation capturou 12 indivíduos da espécie para estabelecer uma população cativa e permitir sua recuperação: entre 1990 e os anos 2000, os pássaros foram devolvidos à natureza, chegando a mais de 400 animais vivos atualmente. Apesar de sair da lista de risco de extinção para a lista vulnerável, o gargalo populacional tem causado erosão genômica.

Espécime de pomba-rosada em Le Pétrin, nas Ilhas Maurício (Imagem: Michael Hanselmann/CC-BY-4.0)
Espécime de pomba-rosada em Le Pétrin, nas Ilhas Maurício (Imagem: Michael Hanselmann/CC-BY-4.0)

Perigos genéticos

A pomba-rosada, assim como os dodôs e outros pássaros das Ilhas Maurício, foi alvo fácil dos gatos, ratos e outros predadores trazidos pelos seres humanos, que também chegaram perto de derrubar toda a floresta nativa local. Apesar de ter escapado da extinção por pouco, os animais não estão totalmente seguros: cientistas publicaram um estudo na revista científica Conservation Biology tratando das ameaças enfrentadas pela espécie atualmente.

Os pesquisadores sequenciaram o DNA de 175 pássaros entre 1993 e 2010, durante a recuperação populacional, e notaram uma perda contínua na variedade genética, mesmo com os números crescentes de indivíduos na natureza. As amostras foram comparadas com as de 1.112 pombos de zoológicos europeus e estadunidenses, coletadas por quatro décadas, que incluem o nível de sucesso reprodutivo e longevidade, além de endocruzamento.

A carga genética dos animais é alarmantemente grande, dizem os pesquisadores, porque há excesso de indivíduos relacionados entre si, gerando mutações recessivas perigosas em grande quantidade. Isso acaba gerando um número reduzido de ovos que chocam e de filhotes que se emplumam (ou seja, que conseguem voar). Com variedade genética suficiente, essas mutações acabam sendo eliminadas, mas populações menores são mais vulneráveis às flutuações genéticas nocivas.

Se os filhotes de dois pombos-rosados herdam as mesmas mutações nocivas que eles trazem, por serem “parentes”, elas se tornam mais perigosas ainda, gerando as falhas na eclosão e na emplumada. Os cientistas acreditam ser isso a causa da contínua erosão genética das populações de pombo-rosado na natureza.

A falta de variedade genética pode acabar com a pomba-rosada em gerações futuras (Imagem: Trisha M. Shears/Domínio Público)
A falta de variedade genética pode acabar com a pomba-rosada em gerações futuras (Imagem: Trisha M. Shears/Domínio Público)

Todos os 480 indivíduos têm alguma relação com os dez que sobreviveram à extinção nos anos 1980 e aos 12 que foram mantidos em cativeiro. Já que apenas os mais adaptados tinham filhotes capaz de chocar, emplumar e reproduzir, poucos indivíduos contribuíram com material genético para as próximas gerações. Assim, mesmo com muitos indivíduos, há pouca variação genética.

E agora?

Os pesquisadores afirmam que uma solução seria reintroduzir os filhotes de pombos-rosados ainda presentes em zoológicos europeus e estadunidenses, que ainda têm algumas variações em seus genes que já foram perdidas nos exemplares das Ilhas Maurício, o que pode diminuir o nível de parentesco entre os pássaros locais.

Uma lição maior do estudo é a de que esforços de conservação não podem simplesmente parar após uma aparente recuperação dos números da população animal, sendo necessárias análises genômicas para avaliar o potencial de recuperação e as eventuais necessidades genéticas.

Eles ainda apontam a importância do Earth Biogenome Project, cujo objetivo é sequenciar, catalogar e categorizar genomas de dois milhões de espécies em um período de dez anos, para uso futuro na preservação da biodiversidade e sustentabilidade das vidas humanas e animais. Os dados serão instrumentais na identificação de espécies em risco de extinção, servindo de guia para esforços de conservação no futuro, além de avaliar a biodiversidade do planeta.