Poluição do ar já mata mais do que cigarro e HIV, aponta estudo
O impacto da poluição do ar sobre a expectativa de vida da população mundial é consideravelmente maior e mais letal do que o cigarro, acidentes de automóvel e até mesmo a pandemia do HIV. É o que revela o novo relatório desenvolvido por professores e pesquisadores da Universidade de Chicago, mostrando que a poluição poderá tirar 2,2 anos de vida de cada ser humano em média, confirmando assim a péssima qualidade do ar que respiramos como a maior ameaça externa contra a vida humana em todo o planeta.
Intitulado Air Quality Life Index (AQLI), o estudo detalha em números comparativos o efeito nocivo da poluição sobre nossas saúdes, bem como revela o ganho em anos de vida que determinadas populações receberiam, caso os níveis de poluição fossem reduzidos – na Índia, por exemplo, tal número chega a impressionantes 5,9 anos de vida. “Nós não estamos apenas deixando isso acontecer, estamos causando isso”, afirmou o professor Michael Greenstone, da Universidade de Chicago, e um dos líderes do estudo. “O mais impressionante é que em grandes países há efetivamente a combinação de normas governamentais e sociais que permitem que as pessoas vivam vidas dramaticamente mais curtas e menos saudáveis”, comentou.
As comparações deixam claro a dimensão do impacto, bem como o quanto tal problema não costuma ser visto e retratado com a justa preocupação: segundo o estudo, a redução de 2,2 anos provocada pela poluição é maior que a redução global média de 1,9 anos provocada pelo cigarro. A diferença se agrava diante de outros motivadores costumeiramente mais retratados como ameaças, tal que o impacto de 0,77 provocado pelo álcool e as drogas, de 0,59 anos pela falta de condições sanitárias, 0,39 por acidentes de trânsito, 0,3 pelo HIV, 0,28 pela Malária e 0,02 pelo terrorismo.
A situação da Índia é, segundo o relatório e com larga diferença, a mais grave de todo o planeta: em algumas regiões, massas de cerca de 480 milhões de pessoa respiram dez vezes mais poluição do que em todo o resto do mundo, causando em determinadas partes reduções de até 9 anos na expectativa de vida. Em partes da Nigéria o número é semelhante aos indianos, com média de 5 anos de redução, com a média do país em 3,4 anos, enquanto em Bangladesh a redução média é de 5,4 anos, e no Nepal chega a 3,9 anos por conta da qualidade do ar – a China é o exemplo mais complexo, já que os números ainda mostram um impacto de 2,6 anos de vida, mas onde o intenso combate à poluição reduziu em 29% os níveis nos últimos anos, promovendo um ganho em 1,5 ano de vida em sua população como uma excelente notícia, mostrando que é possível alterar tal curva em pouco tempo.
A principal causa da poluição no ar é, segundo os pesquisadores, a queima de carvão na maior parte do mundo. “Se os custos de saúde fossem incluídos no preço, o carvão deixaria de ser viável em praticamente todo o planeta”, afirma Greenstone, lembrando que o quadro se agrava com as mudanças climáticas, que provocam incêndios florestais, por exemplo. A análise do relatório AQLI se baseia em informações coletadas por satélites, comparando a estimativa de vida de diferentes populações em diferentes pontos do planeta.