Plantas do deserto do Atacama são ‘mina de ouro’ genética para as plantações
No combate ao aquecimento global e pelo futuro das plantações (e, com isso, da própria alimentação humana) pode estar no Atacama, no Chile – mais precisamente, alguns palmos abaixo do solo do deserto andino. Para uma nova pesquisa sendo realizada na região, as plantas que crescem no Atacama, ao norte do país, são uma verdadeira “mina de ouro” genética, que podem ser instrumentais para o desenvolvimento de frutas e vegetais mais resistentes e capazes de crescer em condições adversas no futuro – especialmente no contexto da crise ambiental.
Tratam-se, afinal, de plantas que nascem e vivem no deserto mais alto mais seco, entre os desertos não polares, do planeta – os 128 mil quilômetros quadrados do Atacama têm o solo composto essencialmente de pedras, salinas e areia. “Em uma era de mudança climática acelerada, é fundamental descobrir a base genética para melhorar a produção e a resiliência das safras sob condições secas e pobres em nutrientes”, afirmou Gloria Coruzzi, professora da Universidade de Nova York e principal autora do estudo, diante das mais de 200 espécies de plantas que florescem na região.
Apesar de se tratar de uma das regiões mais áridas do planeta – comumente apontado como a parte da Terra mais parecida com Marte – e de receber somente cerca de 0,01 centímetro de chuva por ano, o deserto do Atacama apresenta diversas regiões com tapetes de plantas e flores, especialmente durante a primavera. “Nosso estudo de plantas no Deserto de Atacama é diretamente relevante para regiões do mundo que estão se tornando cada vez mais áridas, com fatores como secas, temperaturas extremas, e o sal na água e no solo, representando uma ameaça significativa à produção global de alimentos”, afirmou o professor Rodrigo Gutierrez, da Pontifícia Universidade Católica do Chile, e coautor principal do estudo.
Estabelecendo no deserto uma espécie de laboratório natural, os pesquisadores coletaram, ao longo de dez anos, as 32 plantas mais dominantes no deserto, retiradas de 22 locais diferentes. As amostras foram mantidas em nitrogênio e enviadas para Santiago, no Chile, onde tiveram seus DNAs mapeados. O estudo apontou 256 alterações genéticas na sequência de proteínas que podem servir de base para adaptações de outras plantas a condições semelhantes. “Como algumas plantas do Atacama estão intimamente relacionadas a culturas básicas, incluindo grãos, legumes e batatas, os genes candidatos que identificamos representam uma mina de ouro genética para produzir safras mais resistentes, uma necessidade dada a crescente desertificação de nosso planeta”, comentou Gutierrez.