Peste negra ainda existe? Sim, e segue oferecendo riscos. Conheça os sintomas e saiba como se prevenir

Apesar de ter marcado a história com milhões de mortes, a peste nunca foi erradicada e ainda circula entre animais e pode ser transmitida para humanos em diversas partes do mundo
Autoridades da Califórnia, nos Estados Unidos, confirmaram recentemente um caso de peste em um morador de South Lake Tahoe, provavelmente após ter sido picado por uma pulga infectada quando estava em um acampamento. Em julho, um morador do Arizona, também nos EUA, morreu de peste pneumônica, o tipo mais grave da doença, quando a bactéria se espalha para os pulmões. Diante do cenário, muitos têm se perguntado se a peste, uma ameaça que dizimou grande parte da população da Europa na década de 1340, ainda represente risco em 2025.
Embora os avanços médicos tenham transformado a doença em algo tratável, ela continua sendo uma ameaça. A bactéria Yersinia pestis permanece em circulação em roedores como cães-da-pradaria, esquilos e ratazanas, mas também pode atingir animais domésticos, como cães e gatos. A transmissão ocorre principalmente por pulgas infectadas, mas no caso da forma pneumônica, a doença também pode passar de pessoa para pessoa por gotículas respiratórias.
Nos Estados Unidos, há em média 7 casos em humanos por ano, especialmente no Oeste do país, em estados como Novo México, Colorado, Arizona e Califórnia. No mundo, os focos mais comuns estão em Madagascar, Peru e República Democrática do Congo.
Embora rara hoje em dia, a peste não deixou de ser perigosa: sem tratamento rápido com antibióticos, pode levar à morte. Além disso, especialistas alertam que a doença continua sendo uma ameaça para algumas espécies em risco, como o furão-de-pés-pretos, que depende de roedores como alimento.
“É improvável que consigamos erradicar a peste”, afirma Paul Mead, pesquisador do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA ao National Geographic. “Ela está enraizada em ecossistemas específicos e pode ressurgir como um incêndio em diferentes pontos”.
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Peste negra dizimou população europeia no passado
Historicamente, a peste foi responsável por pandemias generalizadas com alta mortalidade. A peste atingiu em cheio a Europa na década de 1340, matando cerca de 50 milhões de pessoas, grande parte da população do continente na época. O surto começou no que hoje é o Quirguistão, antes de se espalhar pela Eurásia e ficou conhecido como Peste Negra, devido às manchas pretas que apareciam nos corpos dos doentes, infectados com Yersinia pestis após serem picados por pulgas que viviam em roedores.
A peste bubônica é a forma mais comum de peste e é causada pela picada de uma pulga infectada. O bacilo da peste entra na picada e viaja pelo sistema linfático até o linfonodo mais próximo, onde se replica. Em estágios avançados da infecção, os linfonodos inflamados podem se transformar em feridas abertas cheias de pus. A transmissão da peste bubônica de pessoa para pessoa é rara. A peste bubônica pode avançar e se espalhar para os pulmões, que é o tipo mais grave de peste, chamado peste pneumônica, sua forma mais virulenta, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Qualquer pessoa com peste pneumônica pode transmitir a doença por meio de gotículas para outros humanos. A peste pneumônica não tratada, se não diagnosticada e tratada precocemente, pode ser fatal. No entanto, as taxas de recuperação são altas se detectada e tratada a tempo (dentro de 24 horas do início dos sintomas).
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Situação no Brasil
Como doença animal, a peste é encontrada em todos os continentes, exceto na Oceania. Existe risco de peste humana onde quer que coexistam focos naturais de peste (a bactéria, um reservatório animal e um vetor) e a população humana, afirma a OMS.
No Brasil, existem duas áreas distintas consideradas focos naturais, no Nordeste e em Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, segundo o Ministério da Saúde.
Existem outras áreas pestígenas localizadas no território mineiro do vale do Rio Doce e vale do Jequitinhonha, que podem ser consideradas como extensão do foco do nordeste. O foco do nordeste encontra-se distribuído nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco (com pequena extensão para o Piauí), Alagoas e Bahia. O Brasil não registra casos humanos de peste desde 2005. O último caso ocorreu no estado do Ceará, no município de Pedra Branca.
Prevenção e sintomas
Para prevenir a exposição à peste, as autoridades recomendam o seguinte:
– Evite o contato com animais selvagens. Nunca alimente ou manuseie roedores selvagens e evite áreas onde eles vivem. Não toque em animais doentes ou mortos.
– Evite pulgas. Use um repelente de insetos e coloque as barras das calças para dentro das meias para ajudar a prevenir picadas de pulgas.
– Use tratamentos antipulgas aprovados por veterinários em animais de estimação e mantenha-os longe de áreas que sabidamente são habitadas por roedores selvagens.
– Previna infestações de roedores removendo arbustos, pilhas de pedras, lixo e madeira ao redor de casas e dependências. Armazene os alimentos em recipientes à prova de roedores.
– Não acampe perto de tocas de roedores e evite dormir diretamente no chão.
– Procure atendimento veterinário para animais de estimação doentes. Se o seu animal apresentar sintomas como febre alta ou linfonodos inchados, estiver letárgico, com perda de apetite ou com tosse ou secreção ocular, entre em contato com um veterinário imediatamente.
– Esteja ciente de que os gatos são altamente suscetíveis à peste e, embora possam ficar doentes por causa de uma variedade de doenças, um gato doente (especialmente um que pode correr solto ao ar livre) deve receber cuidados de um veterinário para diagnóstico e tratamento adequados.
Os sintomas mais comuns da peste negra são cansaço excessivo, febre alta, gânglios inchados e doloridos, dores fortes de cabeça e alterações na cognição e na marcha. Já a peste pneumônica, que pode acontecer de forma primária ou como complicação da peste bubônica ou septicêmica, tem os seguintes sintomas: dificuldade para respirar, dor no peito, tosse com sangue.