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Pesquisadores conseguem congelar e reviver corais pela primeira vez

Pesquisadores conseguem congelar e reviver corais pela primeira vez

Técnica pode ajudar a preservar os organismos, cada vez mais prejudicados pelo aquecimento dos mares

Ainda estamos bem longe (se é que um dia estaremos próximos) de imitar os filmes de ficção científica em que pessoas são congeladas e voltam a viver centenas de anos depois. Mas cientistas já avançaram muito para fazer algo parecido com seres muito importantes: os corais, que poderiam ser congelados e depois revividos para ajudar a restaurar os oceanos dos efeitos das mudanças climáticas.

Pesquisadores conseguiram pela primeira vez congelar e reviver com segurança pequenas quantidades do organismo, conforme divulgado na revista científica Nature Communications. A expectativa com a criopreservação é preservar os corais, que aquecem e acidificam devido às mudanças climáticas causadas pelo homem; e, uma vez que a humanidade tenha freado o aquecimento global, usá-los na restauração das condições dos mares.

Conforme contaram ao site Science News, o termodinamicista Matthew Powell-Palm, da Texas A&M University em College Station, e sua equipe fizeram experiências com o congelamento de pedaços de coral do tamanho de uma ervilha, um antozoário chamado Porites compressa.

Usando mentol e luz, os pesquisadores primeiro removeram micróbios que poderiam interferir na preservação dos organismos. Em seguida, os fragmentos foram selados dentro de câmaras de metal preenchidas com uma solução química especial, que desidratava parcialmente os corais e ajudaria a evitar o crescimento de gelo. Em seguida o organismo foi mergulhado em nitrogênio líquido.

Em meio às temperaturas de cerca de -200° C, banhadas por produtos químicos e restringidas pelas paredes da câmara, a água restante nos corais solidificou-se numa forma vítrea, sem se expandir em cristais de gelo. Em condições tão frias, diz Powell-Palm, as reações metabólicas e outros processos vitais “ficam a um ritmo tão infinitamente lento que seria possível preservar [espécimes vivos] por centenas, possivelmente milhares de anos”.

Mas o verdadeiro teste veio a seguir. Depois de alguns minutos de criopreservação, os corais foram retirados do nitrogênio e submetidos a uma cuidadosa rotina de descongelamento e recuperação de 24 horas. Então, os pesquisadores mediram quanto oxigênio os corais descongelados consumiam. Um dia após o descongelamento, os corais estavam vivos e bem.

Desafios com corais

Pesquisadores já haviam criopreservado e revivido larvas de corais com sucesso. Mas as larvas só são acessíveis quando os corais desovam – ou seja, apenas algumas poucas noites por ano, diz a cientista marinha Liza Roger, da Universidade Estadual do Arizona. “Isso é colocar muitos ovos na mesma cesta”, aponta.

O que é pior, diz ela, é que a reprodução dos corais está em dificuldades e cada vez menos larvas sobrevivem, graças ao aquecimento dos mares. Portanto, uma solução é criopreservar colônias de corais maduros, que estão disponíveis o ano todo.

No entanto, desafios persistem. Espécimes maiores são mais difíceis de criopreservar, pois é mais difícil prevenir a formação de gelo, que danifica os tecidos do coral.

Além disso, no experimento que teve sucesso, alguns dias após o descongelamento os corais foram fragilizados pelo processo de criopreservação, e acabaram sendo mortos por bactérias com as quais normalmente vivem em harmonia. Os próximos passos da pesquisa devem envolver planejar formas de ajudar os corais revividos a sobreviver no longo prazo, diz Roger.