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Pesquisa encontra, pela 1ª vez, micropartículas de plástico no sangue de seres humanos

Pesquisa encontra, pela 1ª vez, micropartículas de plástico no sangue de seres humanos

Os tipos encontrados no estudo holandês são principalmente aqueles usados nas garrafas pet, em embalagens de alimentos e em sacolas plásticas.

Uma pesquisa científica obteve um resultado inédito e muito preocupante. Pela primeira vez, os pesquisadores conseguiram detectar micropartículas de plástico no sangue de seres humanos.

Uma praia suja de lixo tem plástico para tudo que é lado. E esse plástico que a gente vê misturado ao lixo gera inúmeros impactos sobre o meio ambiente. Só que tem um tipo de plástico que os olhos não conseguem ver que é tão mais preocupante do que o plástico visível, como uma sacolinha de supermercado, porque esse material se continuar abandonado por aí ele vai se degradando lenta e progressivamente até virar microplástico. Pedacinhos pequenininhos com 5 mm de tamanho ou menos.

Mas a degradação continua até o microplástico virar algo ainda menor, chamado nanoplástico que pode ter até um nanômetro de tamanho. Para se ter uma ideia, uma folha de papel tem espessura equivalente a 100.000 nm. E quando o plástico fica bem pequenininho, ele entra com facilidade no nosso corpo. E isso já é motivo de muita preocupação.

Pesquisadores holandeses conseguiram detectar, pela primeira vez, fragmentos de plástico no sangue de seres humanos. Eles analisaram amostras de 22 pessoas. De tão pequenas, as partículas não podem ser vistas nem no microscópio. Os cientistas precisaram de uma máquina especial para transformá-las em gás. Um computador identificou a presença do plástico. Os tipos encontrados são principalmente aqueles usados nas garrafas pet, em embalagens de alimentos e em sacolas plásticas.

O médico Juan Garcia, que participou da pesquisa, disse que é necessário fazer mais estudos para saber se as partículas no sangue afetam o sistema imunológico das pessoas.

Pesquisas preliminares em animais mostram a possibilidade de inflamações e de má-formação de órgãos. Em humanos, ainda não há uma resposta.

E como essas micropartículas conseguiram chegar até o sangue?

Os pesquisadores afirmam que o plástico está em tudo à nossa volta. No que a gente come, bebe e até no ar.

“Já estamos inalando e estamos com microplástico dentro do nosso pulmão”, diz Tais Mauad, professora da Faculdade de Medicina da USP.

A professora coordenou uma pesquisa que analisou a quantidade de micropartículas de plástico em frente à Faculdade de Medicina e dentro do escritório.

“O que a gente mostrou é que existem partículas de microplástico. A gente determinou até 50 micros de tamanho. São mais frequentes nos ambientes internos que externos e as principais partículas que a gente inala são polipropileno e polietileno, que são os principais plásticos produzidos no mundo, que são de embalagem, de roupa etc. E até no pneu tem plástico, o que poderia explicar o plástico que a gente acha na rua”, afirma.

Vinte e dois milhões de toneladas de plástico são descartadas na natureza por ano em todo o mundo. Com a pandemia, a quantidade de lixo plástico aumentou com o uso de máscaras e o crescimento das entregas por delivery. A gravidade da situação levou 175 países da ONU a aprovarem, no mês passado, uma resolução histórica. A ideia é aprovar em dois anos um tratado inédito, que combata o plástico descartável.

“Se a gente parar de usar descartável e tiver uma alimentação que deixa de consumir alimentos que vêm embalados, a gente já está fazendo bastante”, explica Tais Mauad,

“Para ter uma ideia, mais da metade da produção de plástico feita no mundo em todos os tempos foi feita desde 2000 para cá. E a gente tem plástico desde o início do século 20. Então é muita coisa e o número está crescente”, diz Marcelo Montenegro, coordenador de programas da Fundação Heinrich-Böll-Stiftung.

“Se faz mal para saúde, é muito óbvio que isso tem que ser banido de alguma forma, substituído. Vai ser difícil, é um grande desafio. Mas acho que a gente já passou da fase de não lidar com isso, ficar negando e usando medidas um pouco paliativas que não resolvem o problema”, afirma Gisela de Figueiredo, professora do Instituto de Biologia da UFRJ.