Pesquisa descobre genes que podem causar ou inibir obesidade
Pesquisadores da Universidade da Virgínia (UVA), nos Estados Unidos, divulgaram recentemente um estudo, publicado na revista científica PLOS Genetics, no qual conseguiram identificar 14 genes que podem causar e três que podem inibir a obesidade. Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica, a enfermidade afeta hoje 2,6 bilhões de pessoas no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e mata cerca de 4 milhões por ano.
Questionando uma posição do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), o estudo discorda do argumento de que o aumento da obesidade nas últimas décadas possa ser atribuído a um “ambiente obesogênico, que oferece fácil acesso a alimentos de alto teor calórico, mas limita as oportunidades de atividade física”. O problema da pesquisa foi: por que, mesmo compartilhando um ambiente que favorece a obesidade, nem todos se tornam obesos?
Para responder a essa questão, a hipótese adotada propõe que uma parte considerável da variação de peso entre adultos pode ser atribuída a fatores genéticos. Afinal, já se sabe que centenas de variantes genéticas possuem maior probabilidade de aparecer em pessoas que sofrem de obesidade. No entanto, “‘mais probabilidade de aparecer’ não significa causar a doença”, explica uma das autoras do estudo, Eyleen O’Rourke, professora da UVA.
Metodologia da pesquisa: os vermes
O C. elegans. (Fonte: Kbradnam/Wikipedia/Reprodução.)Fonte: Kbradnam/Wikipedia
O grande desafio foi descobrir quais genes convertem o alimento excessivo em gordura, para então desativá-los com algum tipo de medicamento e desvincular o ato de comer excessivamente, da ocorrência de obesidade. Isso não se resume a uma questão de estética corporal, mas de eliminar um fator de risco para comorbidades graves, como doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral e câncer.
Na busca de sistemas in vivo que permitissem testes experimentais com um rendimento e custo plausíveis, O’Rourke e sua equipe utilizaram vermes Caenorhabditis elegans, um animal presente na maioria dos experimentos genéticos. Magrinhos, transparentes e bissexuais, esses bichinhos de menos de um milímetro habitam a vegetação podre e se banqueteiam com microrganismos. Mas compartilham conosco mais de 70% dos seus genes. E engordam.
Aproveitando essas similaridades, os pesquisadores desenvolveram um modelo de “verme da obesidade”, alimentando uma parte deles com uma dieta regular e outros com uma dieta rica em um tipo de açúcar de alto poder adoçante (frutose). Passaram então a testar 293 genes associados à obesidade em estudos anteriores, para comprovar de forma empírica quais são os genes que causam e os que inibem a doença.
Resultados obtidos com os C. elegans
Esses modelos de obesidade foram automatizados em um sistema de aprendizado de máquina assistido que permitiu, entre a miríade de dados analisados, estabelecer 14 genes que causam efetivamente a obesidade e três genes que a inibem. E, o que é mais importante, a descoberta mostrou que, ao bloquear a ação desses três genes que impedem que os vermes se tornem obesos, também os faz viver vidas mais longas e com uma função neurolocomotora melhor.
Quando a técnica foi estendida a ratos de laboratório, foi capaz de evitar ganho de peso, melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis de açúcar no sangue.
ARTIGO PLOS Genetics: https://doi.org/10.1371/journal.pgen.1009736