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Os alimentos que o mundo deve perder por causa das mudanças climáticas

Os alimentos que o mundo deve perder por causa das mudanças climáticas

Tempestades, inundações, geadas fora de época e ondas de calor escaldantes têm afetado a produção de tomates, batatas, milho, pêssegos, uvas, azeitonas e mais alimentos

As condições meteorológicas sempre afetaram a produção de alimentos, no entanto, à medida que o aquecimento global e as mudanças climáticas avançam, aumenta a preocupação sobre como a agricultura vai enfrentar condições extremas do clima.

Como destaca o portal Wired, a preocupação sobre como a agricultura vai sobreviver às mudanças climáticas não é nova. Em 2019, a Comissão Global sobre Adaptação – um grupo de investigação independente patrocinado pelas Nações Unidas, pelo Banco Mundial e pela Fundação Bill & Melinda Gates – previu que as alterações climáticas devem reduzir os rendimentos agrícolas em 30% até 2050, e que o impacto será mais forte sobre os 500 milhões de pequenos agricultores em todo o mundo. Nesse mesmo ano, cientistas da Austrália e dos EUA descobriram que os choques na produção alimentar – quedas súbitas e imprevisíveis na produtividade – têm aumentado todos os anos desde a década de 1960.

2023 trouxe uma prévia sobre os alimentos que mais devem sofrer nos próximos anos com as mudanças climáticas. Tempestades, inundações, geadas fora de época e ondas de calor escaldantes afetaram a produção de tomates, batatas, milho, pêssegos e azeitonas em algumas partes do mundo – o preço do azeite, inclusive, disparou.

Reino Unido e Irlanda registaram a escassez de tomates após um período prolongado de frio. Espanha e Marrocos também tiveram que desistir das colheitas devido à falta de tomates. Na Índia, o preço da fruta subiu 400% após uma série de colheitas desastrosas.

Em junho, produtores de batata na Irlanda do Norte afirmaram que o tempo seco reduziu as colheitas causando um prejuízo de 4,4 milhões de libras. Na Índia, o problema foram as chuvas torrenciais, que deixaram os agricultores impossibilitados de colher milho.

A perda de áreas de cultivo tradicionais – que, num cenário de aquecimento global moderado, espera-se que seja de 30% da produção atual – não afeta apenas as principais culturas básicas. Produções especiais, como as azeitonas e as laranjas, também estão em risco, assim como as culturas que constituem a base para o luxo.

Na Europa, na Austrália e na América do Sul, a produção de vinho caiu para os níveis mais baixos desde 1961, especialmente por conta da colheita prejudicada de uvas.

Recentemente, durante a COP28, em Dubai, 134 países apresentaram um acordo para integrar um plano de agricultura sustentável, que prevê adaptações tanto para os sistemas de cultivo quanto para as próprias plantas. Ainda assim, a preocupação dos cientistas é que alguns alimentos não consigam esperar o tempo necessário para essas adaptações.

“O melhoramento de plantas é um processo lento”, diz James Schnable, geneticista de plantas e professor de agronomia na Universidade de Nebraska-Lincoln, ao Wired. “Demora de 7 a 10 anos para desenvolver e lançar uma nova variedade de milho, por exemplo. Mas sabemos que, como resultado das alterações climáticas, do esgotamento dos aquíferos, das mudanças nas políticas e nos preços das matérias-primas, o ambiente daqui a 7 anos será muito diferente. E realmente não temos como prever quais são as variedades que deveriam ser desenvolvidas hoje para enfrentar esses desafios”, conclui.