Anchor Deezer Spotify

Ondas gigantes, ciclones e secas: relembre os desastres climáticos do ano

Ondas gigantes, ciclones e secas: relembre os desastres climáticos do ano

O ano teve um El Niño forte, com inundações, secas, ciclones, ondas de calor consecutivas e outros fenômenos catastróficos

2023 foi um ano marcado por muitos desastres climáticos não só no Brasil, mas também no mundo. Já em janeiro, em Araraquara (SP), fortes chuvas derrubaram árvores e causaram inundações em várias regiões da cidade. Depois, a primeira onda de calor veio em julho e gerou temperaturas acima dos 40ºC à Europa e aos Estados Unidos, marcando o verão mais quente do hemisfério norte desde 1880, segundo a NASA.’

O calorão também chegou com força ao Brasil em meados de agosto, e em 19 de outubro as temperaturas aqui atingiram o ápice: foram marcados 44,3ºC nos termômetros de Cuiabá (MT), a cidade mais quente do país. Aconteceram pelo menos nove ondas de calor apenas no país em 2023.

No Sul, em setembro, a passagem de um ciclone e consecutivos temporais arrasaram vários municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Enquanto isso, no outro lado do Brasil, na região Norte, a escassez de chuvas provocou secas, e a bacia do rio Amazonas atingiu o nível baixo desde 1902.

Já no outro lado do planeta, na Rússia, um ciclone fez com que as águas do Mar Negro invadissem cidades durante o mês de novembro. Na Índia, fortes tempestades ciclônicas causaram enchentes, e pelo menos cinco pessoas morreram. Já no Havaí, em agosto, a escassez de chuvas ocasionou incêndios florestais que comprometeram 14% do território do arquipélago.

Dados da NASA divulgados no final de novembro colocaram 2023 como o ano com maiores anomalias de temperatura desde 1880. Nos meses de setembro e outubro, termômetros ficaram quase 3ºC acima do usual.

As causas desses desastres climáticos são várias: vão desde o aumento na temperatura terrestre até a passagem de um El Niño atipicamente forte. E não para por aí: para 2024, a perspectiva da Organização das Nações Unidas (ONU) é de que os efeitos do fenômeno continuem até pelo menos meados de abril.

No Brasil, 14,5 milhões de pessoas foram afetadas pelos desastres climáticos, com estragos que renderam prejuízo de R$ 1,4 bilhão, segundo dados divulgados em 12 de dezembro pela Defesa Civil.

Abaixo, relembre os maiores desastres climáticos de 2023:

Ondas de calor no hemisfério Norte

No final de junho e início de julho, sucessivas ondas de calor atravessaram países da Europa, os Estados Unidos e o Japão. Nos EUA, atingiu a região entre os estados da California e do Texas e foi considerada “extremamente perigosa” pelo Serviço Meteorológico Nacional Americano (NWS). A cidade de Fênix, no Arizona, registrou 47°C em 13 de julho, após passar seis dias consecutivos com termômetros acima dos 43ºC.

Na Europa, países como França, Itália, Reino Unido, Espanha e Grécia foram especialmente afetados pela onda de calor. Pelo menos duas pessoas morreram. Na cidade de El Granado, sul da Espanha, os termômetros marcaram 44,4°C, a maior temperatura do ano.

Já no Japão, 20 das 47 prefeituras do país emitiram alerta para golpe de calor. Os termômetros chegaram perto dos 40 ºC em vários pontos, inclusive na capital Tóquio.

Onda de calor na Europa em julho levou ingleses a lotar praias em Brighton — Foto: Daniel LEAL / AFP
Onda de calor na Europa em julho levou ingleses a lotar praias em Brighton — Foto: Daniel LEAL / AFP
Uma mulher se refresca com um miniventilador em Roma, em 14 de julho de 2023, enquanto a Itália é atingida por uma onda de calor — Foto: AFP
Uma mulher se refresca com um miniventilador em Roma, em 14 de julho de 2023, enquanto a Itália é atingida por uma onda de calor — Foto: AFP

Queimadas no Havaí

Em agosto, o Havaí foi atingido por incêndios florestais que foram considerados o pior desastre natural na história do estado. Pelo menos 80 pessoas morreram e mais de 1 mil ficaram desaparecidas. O fogo foi impulsionado pelos ventos do Furacão Dora e pela escassez de chuvas no arquipélago, e deixou as linhas do 190 — número de emergência dos Estados Unidos — fora do ar, o que dificultou os chamados por ajuda. Para fugir dos incêndios, algumas pessoas pularam no mar.

Foto aérea mostra estragos causados por incêndios florestais no Havaí, em agosto de 2023 — Foto: Patrick T. Fallon / AFP
Foto aérea mostra estragos causados por incêndios florestais no Havaí, em agosto de 2023 — Foto: Patrick T. Fallon / AFP
Bombeiros tentam conter as chamas que atingiram o condado de Maui, no Havaí, em meio ao desabastecimento de água — Foto: Patrick T. Fallon / AFP
Bombeiros tentam conter as chamas que atingiram o condado de Maui, no Havaí, em meio ao desabastecimento de água — Foto: Patrick T. Fallon / AFP

Queimadas na Grécia

As ondas de calor na Europa castigaram especialmente a Grécia, que registrou pelo menos 100 incêndios florestais em diversas ilhas do país. Um avião caiu enquanto tentava apagar os focos de fogo, deixando dois mortos.

Além das altas temperaturas — os termômetros chegaram a bater 48ºC nas ilhas de Corfu e Rodes —, ventos fortes dificultaram o trabalho dos bombeiros. De acordo com cientistas, o fenômeno teria sido “praticamente impossível” sem a mudança climática.

Pessoas correram para o mar para fugir de queimadas na Grécia — Foto: Angelos Tzortzinis / AFP
Pessoas correram para o mar para fugir de queimadas na Grécia — Foto: Angelos Tzortzinis / AFP

Ondas de calor no Brasil

De agosto até aqui, o Brasil sofreu com altas temperaturas em várias semanas do ano. Foram pelo menos nove ondas de calor em 2023, que atingiram estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. A maior temperatura registrada aconteceu em Cuiabá (MT): foram 44,3ºC em outubro — mês, aliás, considerado o mais quente da história.

Aconteceram ondas de calor em agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro. Os problemas ocasionados pelas altas temperaturas por aqui foram vários, desde alimentos estragados — e, consequentemente, mais caros — até incêndios no Pantanal.

Praias ficaram cheias com o calorão desta quarta-feira, feriado da Proclamação da República — Foto: Hermes de Paula / Agencia O Globo
Praias ficaram cheias com o calorão desta quarta-feira, feriado da Proclamação da República — Foto: Hermes de Paula / Agencia O Globo
Onda de calor também causou uma segunda-feira com temperaturas acima do normal no Rio — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Onda de calor também causou uma segunda-feira com temperaturas acima do normal no Rio — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Ciclones no Rio Grande do Sul

Em julho de 2023, um ciclone extratropical atravessou o Rio Grande do Sul, deixando pelo menos 15 mortos na região. Ele não foi o único: em setembro, apenas dois meses depois, o estado viu a passagem de outro ciclone deixar ainda mais estragos. Quase 60 mil pessoas ficaram desalojadas, e 37 morreram. Os fenômenos foram impulsionados pelo forte El Niño que passa pelo país.

Pontes, estradas e casas foram destruídas por enchentes, que encheram as ruas de cidades gaúchas de lama. Além dos ciclones, temporais fizeram subir o nível do Guaíba, lago que banha Porto Alegre, e, em novembro, a capital do Rio Grande do Sul viu acontecer a 2ª maior inundação da sua história.

Inundações em Porto Alegre. Um novo ciclone extratropical atinge o Estado do Rio Grande do Sul. — Foto: SILVIO AVILA / AFP
Inundações em Porto Alegre. Um novo ciclone extratropical atinge o Estado do Rio Grande do Sul. — Foto: SILVIO AVILA / AFP
Inundações em Porto Alegre. Um novo ciclone extratropical atinge o Estado do Rio Grande do Sul. — Foto: SILVIO AVILA / AFP
Inundações em Porto Alegre. Um novo ciclone extratropical atinge o Estado do Rio Grande do Sul. — Foto: SILVIO AVILA / AFP

Enchentes e tsunami meteorológico em Santa Catarina

Os ciclones e as tempestades que afetaram o Rio Grande do Sul também chegaram ao estado de Santa Catarina. Desde pelo menos outubro várias cidades da região sofreram com inundações, deixando 133 municípios em situação de emergência.

Em novembro, um tsunami meteorológico atingiu a cidade de Laguna, carregando carros e surpreendendo banhistas na praia do Cardoso. Somente no mês passado, cinco tornados foram registrados no estado. Os fenômenos também foram agravados pelo El Niño.

Foto mostra enchente em Santa Catarina; regiões do Vale do Itajaí ficaram inundadas em outubro — Foto: Anderson Coelho/AFP
Foto mostra enchente em Santa Catarina; regiões do Vale do Itajaí ficaram inundadas em outubro — Foto: Anderson Coelho/AFP
Rio do Sul, no Vale do Itajaí, ficou alagada após temporal em Santa Catarina — Foto: Anderson Coelho/AFP
Rio do Sul, no Vale do Itajaí, ficou alagada após temporal em Santa Catarina — Foto: Anderson Coelho/AFP

Seca histórica nas bacias do Amazonas

Em 2023, a escassez de chuvas levou a bacia do rio Amazonas a uma das piores estiagens registradas desde 1980 (dados do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Provocada pelo fenômeno climático El Niño e agravada pelo aquecimento global, a seca fez com que 95% dos municípios do Amazonas entrassem em situação de emergência — o que deixou milhares de moradores de comunidades indígenas e ribeirinhos em um isolamento quase total, impossibilitados de navegar nas águas do rio.

No Rio Negro, com a bacia rodeada de terras indígenas, o nível de água no fim de outubro desceu a 13 metros, o mais baixo desde 1902. A previsão é de que a seca seja ainda mais intensa de dezembro a fevereiro.

Recuo no leito do Rio Negro impede aproximação até de pequenos barcos na principal orla de São Gabriel da Cachoeira (AM) — Foto: Ana Amélia Hamdan/ISA
Recuo no leito do Rio Negro impede aproximação até de pequenos barcos na principal orla de São Gabriel da Cachoeira (AM) — Foto: Ana Amélia Hamdan/ISA
Os efeitos da seca na Amazônia são visíveis em grandes rios, como o Negro — Foto: Michael Dantas / AFP
Os efeitos da seca na Amazônia são visíveis em grandes rios, como o Negro — Foto: Michael Dantas / AFP

Ressaca ciclônica com ondas gigantes no Rio

Em novembro, uma forte ressaca causada por um ciclone no mar fez com que ondas chegassem até 5 metros no Rio de Janeiro, invadindo calçadões de praias na Zona Sul. A invasão do mar gerou prejuízos aos donos de quiosques, e pegou de surpresa os banhistas, que tiveram que sair apressados da areia. Um adolescente de 16 anos morreu afogado em Ipanema.

Ondas que inundaram as praias do Rio foram formadas por ciclone — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Ondas que inundaram as praias do Rio foram formadas por ciclone — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Tempestade com vendaval forte em São Paulo

Em novembro, a capital de São Paulo e sua região metropolitana foram atingidas por fortes temporais, com ventos de até 100 km/h. Pelo menos três pessoas morreram na tempestade, que também deixou mais de 100 mil endereços sem luz por quase uma semana.

Queda de árvores e falta de luz no Itaim Bibi, Zona Sul de São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo
Queda de árvores e falta de luz no Itaim Bibi, Zona Sul de São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo

Ressaca com inundações no Mar Negro

Uma forte tempestade causou ondas de até 9 metros de altura na costa do Mar Negro em Sochi, na região da Rússia, no final de novembro (veja vídeos). Pelo menos 500 mil pessoas ficaram sem luz no país russo, na Crimeia e na Ucrânia, segundo o Ministério de Energia ucraniano. Além disso, três pessoas morreram com o temporal.

A tempestade que causou a ressaca foi considerada pelo Serviço Nacional de Meteorologia da Rússia a mais forte dos últimos 16 anos na região, com ventos que chegaram a 144 km/h.

Mar Negro invade ruas da Crimeia após fortes chuvas — Foto: Mikhail Mordasov/AFP
Mar Negro invade ruas da Crimeia após fortes chuvas — Foto: Mikhail Mordasov/AFP
Três pessoas morreram com o temporal que causou fortes ondas no Mar Negro — Foto: Mikhail Mordasov/AFP
Três pessoas morreram com o temporal que causou fortes ondas no Mar Negro — Foto: Mikhail Mordasov/AFP

Ciclone com inundações na Índia

O ciclone Michaung passou pela Índia no início de dezembro, fez cinco vítimas e deixou inundações por várias cidades. Um crocodilo foi visto andando na rua em meio às enchentes, e escolas, mercados e fábricas — inclusive da Hyundai — tiveram de ser fechados.

Equipes de resgate em Chennai, cidade afetada pela tempestade ciclônica na Índia — Foto: R. SATISH BABU / AFP
Equipes de resgate em Chennai, cidade afetada pela tempestade ciclônica na Índia — Foto: R. SATISH BABU / AFP
Em Chennai, na Índia, pessoas tiveram que recorrer a caiaques para se locomover pelas ruas — Foto: R. SATISH BABU / AFP
Em Chennai, na Índia, pessoas tiveram que recorrer a caiaques para se locomover pelas ruas — Foto: R. SATISH BABU / AFP