Oceano Atlântico abriga uma “cidade perdida”. Agora, o Pacífico o superou

Cientistas identificaram no Pacífico o sistema hidrotermal Kunlun, responsável por uma grande produção de hidrogênio
Pesquisadores anunciaram a descoberta de um sistema hidrotermal inédito no Oceano Pacífico, considerado um dos mais impressionantes já identificados. A formação, chamada de sistema Kunlun, desafia antigas hipóteses sobre como e onde o hidrogênio pode ser gerado nas profundezas oceânicas.
Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo, a estrutura encontrada é mais de 100 vezes maior que o campo hidrotermal Lost City, a “Cidade Perdida” do oceano Atlântico. O novo sistema é composto por 20 crateras arredondadas no fundo do mar, cada uma com centenas de metros de diâmetro, ocupando uma área total de 11,1 km².
Um campo com produção inédita de hidrogênio
De acordo com a pesquisa publicada na revista Science Advances, o sistema Kunlun se destaca pelo fluxo excepcionalmente alto de hidrogênio e por sua escala sem precedentes. “O sistema Kunlun se destaca por seu fluxo de hidrogênio, escala e configuração geológica única”, afirmou o professor Weidong Sun, autor correspondente do estudo.
As medições realizadas apontam que a formação é responsável por pelo menos 5% de todo o hidrogênio abiótico liberado globalmente em fontes submarinas. Para um único sistema, trata-se de uma contribuição significativa.
Atividades hidrotermais e distribuição de enxames de tubos na placa em subducção próxima à Fossa de Mussau (Imagem: IOCAS)
O processo de serpentinização
A geração desse hidrogênio ocorre por meio da serpentinização, processo em que rochas ricas em olivina reagem com a água do mar, formando minerais e liberando hidrogênio. Até então, acreditava-se que esse mecanismo só ocorria em cordilheiras meso-oceânicas, como no caso do Lost City, situado na dorsal mesoatlântica.
O sistema Kunlun, no entanto, fica localizado dentro de uma placa oceânica, mostrando que a serpentinização pode ocorrer também longe dessas regiões. “Isso demonstra que a geração de hidrogênio impulsionada pela serpentinização pode acontecer distante das dorsais oceânicas, desafiando suposições antigas”, destacou Sun.

Origem da vida e potencial ecológico
Assim como o Lost City, o novo sistema poderá funcionar como um laboratório natural para estudos sobre a origem da vida na Terra. Os autores do estudo sugerem que o ambiente de Kunlun, com crateras que oferecem estabilidade ao longo do tempo, pode ser ainda mais adequado para abrigar processos evolutivos iniciais.
Além disso, os pesquisadores observaram uma rica biodiversidade no local. Foram identificados camarões, lagostas, anêmonas e tubeworms, organismos que podem depender da quimiossíntese baseada no hidrogênio. “O que é particularmente intrigante é seu potencial ecológico”, acrescentou Sun.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.