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O que são Microplásticos? Saiba mais sobre essas pequenas partículas que afetam a cadeia alimentar marinha e a nossa

O que são Microplásticos? Saiba mais sobre essas pequenas partículas que afetam a cadeia alimentar marinha e a nossa

Pequenas partículas com menos de cinco milímetros podem ser ingeridas por organismos marinhos, o que gera consequências para toda a cadeia trófica

Há uma parcela da poluição nos mares e nas praias que é visível a qualquer um – basta ver o acúmulo de resíduos nas faixas de areia ou as imagens de animais presos a pedaços de lixo no oceano. No entanto, outro tipo de contaminação é tão perigoso quanto e pode passar despercebido. Os microplásticos são pequenas partículas com menos de cinco milímetros e que, justamente pelo tamanho diminuto, podem ser ingeridas por organismos marinhos, o que gera consequências para toda a cadeia trófica.

Para o membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da UNESCO, Ronaldo Christofoletti, a sociedade passou a ser dominada pela produção de produtos com componentes plásticos nas últimas décadas. “O plástico pode trazer coisas boas quando é de uso prolongado. Eles surgiram para substituir outros tipos de demanda, como retirada de árvores para madeira e de materiais do solo. Os componentes de celulares, computadores, televisões, entre outros produtos, têm grandes quantidades de plástico”, disse.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo produz cerca de 2,1 bilhões de toneladas de lixo todos os anos, do qual parte significativa – cerca de 300 milhões de toneladas – corresponde a apenas um material: o plástico. Contudo, aproximadamente metade do plástico produzido é gerado com a previsão de ser usado apenas uma vez, o que faz com que ele se torne o famoso plástico de uso único ou o descartável. No ambiente marinho, cerca de 80% do lixo encontrado é feito de plástico.

Segundo Christofoletti, o plástico deveria ter uma reciclagem ou reutilização na cadeia de produção dos produtos que o originaram, voltando a ser matéria bruta. “Para isso, precisaríamos de um processo de descarte adequado, e de coleta e reutilização no sistema produtivo, o que não existe. Ao mesmo tempo, o uso indiscriminado aumentou por ser um produto mais barato”, afirmou.

De acordo com a gerente de campanhas da ONG Oceana, Lara Iwanicki, os microplásticos são divididos entre os primários e os secundários. Os primeiros já são fabricados no tamanho reduzido e podem ser facilmente encontrados na composição de cosméticos, produtos de limpeza e nas roupas feitas a partir de fibras sintéticas, como o poliéster. Os secundários são resultantes de um processo de fragmentação de pedaços maiores de plástico, que são lentamente quebrados em pequenas partículas.

“Sabemos que, uma vez no mar, o plástico não se degrada, mas ele se acumula no ambiente e passa pelo processo de quebra em pedaços cada vez menores, dando origem aos microplásticos. Além de já estarem disseminados em todos os ambientes aquáticos, eles atuam como ímãs para poluentes químicos nocivos”, disse Iwanicki. De acordo com um levantamento da Universidade da Califórnia, em comparação com o período da Segunda Guerra Mundial, há dez vezes mais microplásticos nos oceanos. Além disso, a quantidade desse tipo de material vai dobrar a cada quinze anos.

O que chama a atenção sobre o material é que ele vem sendo encontrado nos ambientes mais inusitados, inóspitos e remotos. O microplástico já foi identificado próximo ao topo do Everest, nas geleiras da Antártica e nas profundezas dos oceanos. “A durabilidade desse material, que o tornou tão útil, também é o que o torna uma ameaça ambiental. O plástico tem uma baixa densidade, o que facilita sua dispersão pela água e pelo vento. Como resultado, os resíduos plásticos e os microplásticos são hoje poluentes onipresentes, mesmo nas áreas mais remotas do mundo”, afirmou Iwanicki.

Ao mesmo tempo em que as notícias impressionam – os microplásticos foram encontrados na corrente sanguínea e em pulmões humanos –, ainda não se sabe o real impacto do material na saúde humana e na de outros animais. Em 2017, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma resolução em que discute os microplásticos, assim como a necessidade de criar regulamentos que reduzam sua produção em nome do meio ambiente.

O Reino Unido foi mais assertivo: desde 2018, o país proíbe a produção de cosméticos ou produtos de higiene que contenham microplásticos. Membros da União Europeia pediram à Agência Europeia de Substâncias Químicas que fosse preparada uma proposta de proibição de diversos microplásticos que são intencionalmente adicionados a bens e produtos. O objetivo é reduzir a poluição por esses compostos em quase 400 mil toneladas entre 2030 e 2050.

No entanto, ainda é preciso encontrar uma solução para a demanda de produção de plásticos em geral. De acordo com a diretora da América Latina para a Fundação Ellen MacArthur, Luisa Santiago, a sociedade precisa de uma abordagem abrangente de economia circular. “É necessário ampliar a infraestrutura de coleta seletiva e capacidade de reciclagem para manter os produtos e materiais em circulação e, principalmente, reduzir o uso de plástico como um todo e a substitui-lo por alternativas, onde for possível”, afirmou.