Novos indícios de que impacto de cometa resfriou a Terra há 12.800 anos

No ano passado, geólogos encontraram rochas que dão suporte à ideia do impacto de um cometa que mudou o clima da Terra.
Agora, depois de ampliar sua área de busca, a mesma equipe encontrou indícios similares também no fundo do mar.
Essa hipótese propõe que um cometa colidiu com a atmosfera da Terra há 12.800 anos, causando uma mudança climática generalizada que, entre outras coisas, levou à inversão abrupta da tendência de aquecimento da Terra, e a um período quase glacial anômalo chamado Dryas Recente.
O nome da época vem da planta dríade-branca (Dryas octopetala): O Dryas Recente e o Dryas Antigo foram batizados devido às grandes quantidades de pólen dessa planta encontradas em amostras de solo datadas daqueles períodos. Durante esses períodos frios, a dríade-branca era muito mais disseminada do que hoje, quando a tundra dominava áreas atualmente cobertas por florestas. Durante o resfriamento abrupto – o evento Dryas Recente – as temperaturas caíram cerca de 10 ºC em um ano ou menos, com as temperaturas mais baixas durando cerca de 1.200 anos.
Muitos pesquisadores acreditam que não há cometa envolvido, e que foi o degelo glacial que causou o resfriamento do Oceano Atlântico, enfraquecendo significativamente as correntes que transportam água tropical quente para o norte. Já a hipótese do Impacto Dryas Recente postula que a Terra passou por detritos de um cometa em desintegração, com inúmeros impactos e ondas de choque desestabilizando camadas de gelo e causando enormes inundações de água de degelo – e foram essas águas que interromperam as principais correntes oceânicas.
Para esclarecer a questão, há muito tempo os geólogos andam atrás de indícios dos detritos do cometa. E agora eles encontraram vários.

[Imagem: Christopher R. Moore et al. – 10.1371/journal.pone.0328347]
Indícios de impacto
Christopher Moore e colegas da Universidade da Carolina do Sul, nos EUA, analisaram a geoquímica de quatro núcleos do fundo do mar da Baía de Baffin, perto da Groenlândia. A datação por radiocarbono sugere que os núcleos incluem sedimentos depositados quando o evento Dryas Recente começou.
A análise detalhada, utilizando diferentes técnicas, revelou detritos metálicos cuja geoquímica é consistente com poeira cometária. Esses detritos estão em partículas esféricas microscópicas, cuja composição indica uma origem predominantemente terrestre, com alguns materiais considerados extraterrestres – sugerindo que essas microesférulas podem ter-se formado quando fragmentos do cometa explodiram logo acima ou ao atingir o solo, fundindo juntos materiais terrestres e extraterrestres. A análise também revelou nanopartículas ainda menores, com altos níveis de platina, irídio, níquel e cobalto, que podem ser indícios de origem extraterrestre.
Em conjunto, os resultados indicam uma anomalia geoquímica que ocorreu por volta do início do evento Dryas Recente. No entanto, eles não fornecem evidências diretas que sustentem a hipótese de impacto. Mais pesquisas serão necessárias para confirmar se estes resultados são de fato evidências de impacto e para vincular firmemente esse impacto ao resfriamento climático.
“Nossa identificação de uma camada de impacto do Dryas Recente em sedimentos marinhos profundos ressalta o potencial dos registros oceânicos para ampliar nossa compreensão deste evento e seus impactos climatológicos,” concluiu Moore.
Artigo: A 12,800-year-old layer with cometary dust, microspherules, and platinum anomaly recorded in multiple cores from Baffin Bay
Autores: Christopher R. Moore, Vladimir A. Tselmovich, Malcolm A. LeCompte, Allen West, Stephen J. Culver, David J. Mallinson, Mohammed Baalousha, James P. Kennett, William M. Napier, Michael Bizimis, Victor Adedeji, Seth R. Sutton, Gunther Kletetschka, Kurt A. Langworthy, Jesus P. Perez, Timothy Witwer, Marc D. Young, Mahbub Alam, Jordan Jeffreys, Richard C. Greenwood, James A. Malley
Revista: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.pone.0328347