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Novos estudos apontam relação entre a Covid-19 e uma piora das doenças inflamatórias intestinais

Novos estudos apontam relação entre a Covid-19 e uma piora das doenças inflamatórias intestinais

Vírus infecta trato digestivo e pode exacerbar sintomas de quem sofre do problema

Dois novos estudos sugerem que, entre os vários impactos da Covid-19 no organismo, há ainda a chance de uma piora nos quadros que geram as doenças inflamatórias intestinais.

Um deles, publicado no periódico científico Inflammatory Bowel Diseases, avaliou quase 3 mil pacientes portadores dessas doenças e constatou que é muito comum a ocorrência de sintomas intestinais como diarreia e dor abdominal durante a Covid-19.

Já o outro, publicado no American Journal of Gastroenterology, apresenta dois casos de adolescentes que eram saudáveis, mas tinham histórico familiar de doenças inflamatórias intestinais. Eles desenvolveram a doença de Crohn após a infecção pelo coronavírus.

“Sabe-se que o coronavírus infecta o trato gastrointestinal, tanto que é comum os pacientes manifestarem sintomas como diarreia e náusea”, explica o gastrenterologista Rafael Ximenes, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.

“A Covid-19 pode ser, sim, um gatilho para a exacerbação dos sintomas em quem já tem a doença inflamatória”, complementa. No entanto, ainda segundo o especialista, não é possível afirmar que o coronavírus seja o único responsável pelo desenvolvimento da doença em pacientes até então saudáveis.

“Não podemos excluir a possibilidade que essas pessoas desenvolveriam a doença no futuro de qualquer forma”, diz Ximenes.

Vale ressaltar que pessoas que têm doença inflamatória intestinal devem procurar orientação do seu médico caso tenham Covid-19 para ajustar os medicamentos, se necessário, mas nunca interromper o tratamento por conta própria, como orienta o especialista.

Ação e diagnóstico

As doenças inflamatórias intestinais afetam quase 10 milhões de pessoas no mundo e são o nome genérico para vários distúrbios crônicos que acometem o trato gastrointestinal. As mais comuns são a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Em comum, sabe-se que elas não têm uma causa bem definida, mas é certo que possuem componentes genéticos e imunológicos.

A doença de Crohn pode acometer qualquer parte do sistema digestivo, como estômagoesôfago e intestino. A inflamação nesses casos costuma ser mais profunda e atingir toda a parede do órgão. Já a colite causa feridas no cólon (intestino grosso) e reto, mas normalmente é mais superficial. Elas têm períodos de exacerbação e outros de melhora, com sintomas como dores abdominais, diarreia, fezes com muco, entre outros.

“Essa é uma das razões da demora no diagnóstico”, diz Ximenes. Na dúvida, é indicada a dosagem de substâncias inflamatórias no sangue e nas fezes, além de exames de imagem como tomografia ou ressonância. Mas a colonoscopia é o principal exame para diagnosticar o problema e excluir outras causas, como tumores.

Na maioria dos casos, não é possível identificar um gatilho para o surgimento da inflamação. Pesquisas mostram uma relação com excesso de alimentos industrializados. Infecções por microrganismos como o citomegalovírus ou o Clostridium difficile também podem gerar exacerbação do quadro em quem tem doença inflamatória intestinal.

Embora não haja uma cura para essas doenças, é possível mantê-las sob controle para evitar novas crises. O tratamento inclui mudanças nos hábitos de vida, como a dieta, e remédios. Os mais modernos são os biológicos – anticorpos produzidos em laboratório que combatem a inflamação. Em casos de obstrução intestinal, às vezes é preciso a realização de procedimento cirúrgico.

Sem tratamento, a inflamação pode agredir as paredes do órgão, formando uma cicatriz, a fibrose, que nem sempre regride, podendo causar estreitamento. No caso da retocolite, pode aumentar a chance de tumor no intestino.

Fonte: Agência Einstein