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Músico autista fala sobre diagnóstico tardio: “Não conseguia aprender nada”

Músico autista fala sobre diagnóstico tardio: “Não conseguia aprender nada”

O paulista Vitor Fadul, que chegou a trabalhar com produtor de ‘Sandy & Junior’, divide dificuldades da infância e como o autismo hoje faz parte do seu processo criativo

A neurodivergência não é algo raro no mundo pop (é fácil achar exemplos que vão da cultura aos bilionários). É também parte da rotina de Vitor Fadul, 26, desde antes de ser diagnosticado autista em abril de 2021. “Não tive acesso a pediatras e o autismo nunca tinha sido descoberto”, diz Fadul, que nasceu em uma família de baixa renda em Itanhaém, na Baixada Santista, e se mudou, ainda aos 2 anos, para São Paulo.

“Sofri muito imaginando que era burro, porque não conseguia acompanhar os meus colegas na escola, não conseguia aprender nada. Tinha pavor de saberem das minhas dificuldades”, diz à GQ Brasil. “Se soubesse do autismo logo quando criança, creio que tudo teria sido diferente”.

Violência física e verbal vinda dos colegas de escola marcaram a memória do músico sobre a infância em São Paulo: “Lembro de um tapa no rosto que levei de um menino, nunca entendi o motivo”, conta. Em outra ocasião, chegou a levar pedradas dos garotos com quem estudou. “Isso e a falta de conhecimento do autismo representaram um verdadeiro transtorno para minha autoestima”, lembra.

Hoje, Vitor Fadul tem debaixo do braço três singles. O último deles, Ying & Yang, teve videoclipe gravado em março em Portugal. A produção foi assinada por Rique Azevedo, frequente colaborador da dupla Sandy & Junior e produtor de Dig Dig Joy e Desperdiçou.

O autismo, segundo Fadul, é hoje parte de seu processo criativo. O músico conta que, ao chegar de carro em casa certo dia, ficou parado no farol atento aos sons ao redor. “Meus olhos bateram em um sinalizador de garagem, aquelas luzinhas que ficam piscando de um lado e do outro para alertar que ali pode sair carro a qualquer instante. Reparei imediatamente que o barulho da seta era o mesmo movimento da troca de luz e achei isso o máximo, naquele momento veio a composição de uma música com aquele ritmo”, diz.

A carreira a que tem se dedicado desde que abriu um canal de covers ano passado e gravou seu single inaugural em setembro é para Fadul uma busca pessoal. “De alguma forma, é como se quisesse ser amado por todos aqueles que não gostavam de mim. A música tem esse efeito de cura comigo”.