Muito além das alergias e da floração: o surpreendente efeito do pólen na formação de nuvens e chuvas
Estudo apontou que o pólen atua como um núcleo de gelo, influenciando a temperatura de congelamento da água nas nuvens e promovendo a precipitação em escala regional e sazonal
Estudos anteriores, como um realizado em 2015 pela Universidades de Michigan e o Texas A&M, dos Estados Unidos, já haviam identificado que surtos de pólen na primavera podem afetar a formação de nuvens e chuvas. Mas um trabalho recente, liderado pelo Instituto de Meteorologia da Universidade de Leipzig, da Alemanha, e publicado no Environmental Research Letters, é o primeiro a provar essa ligação fora do laboratório.
Como explicou Jan Kretzschmar, principal autor do estudo, o pólen atua como um núcleo de gelo, influenciando a temperatura de congelamento da água nas nuvens e promovendo a precipitação.
Os cientistas, usando observações terrestres e de satélite, analisaram contagens de pólen de 50 locais nos Estados Unidos ao longo de uma década, e descobriram que um aumento na quantidade do elemento na estação das flores leva a mais gelo nas nuvens e mais precipitação – mesmo em temperaturas entre -15ºC e -25ºC.
Sem as partículas nucleadoras de gelo (INPs), a água nas nuvens congela apenas em temperaturas abaixo de menos 38ºC. “No projeto Breathing Nature Cluster of Excellence, perguntamos se esse efeito poderia ser detectado fora do laboratório e como as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade o afetam”, disse o coautor Johannes Quaas, professor de Meteorologia Teórica na Universidade de Leipzig.
Os pesquisadores explicaram que, em uma escala global, o efeito do pólen na formação de gelo é relativamente pequeno comparado, por exemplo, à poeira, mas é significativo em uma escala regional e sazonal, particularmente na primavera, grandes quantidades são liberadas, subindo para a atmosfera e entrando em camadas de ar frio.
“Nosso estudo destaca a importância de fragmentos menores de pólen, que são produzidos quando o pólen se rompe em condições úmidas. Essas partículas menores permanecem no ar por mais tempo e, em quantidades suficientes, podem entrar em camadas atmosféricas frias, onde desencadeiam a formação de gelo”, acrescentou o principal autor, Jan Kretzschmar.
Alterações climáticas intensificam o impacto do pólen
A mudança climática antropogênica está mudando o início da temporada de pólen, prolongando-a e aumentando as concentrações do elemento no ar. Espera-se que essas tendências se intensifiquem até o final do século, o que pode levar a chuvas locais mais frequentes e intensas.
Um outro aspecto do estudo é a biodiversidade, já que muitas espécies de plantas liberam grandes quantidades de pólen ao mesmo tempo a cada primavera, o que afeta a formação de nuvens e a quantidade de partículas de gelo na atmosfera.
Contudo, para entender melhor o papel do pólen na evolução do clima e incorporar isso em futuros modelos climáticos, mais pesquisas são necessárias. “Se pudermos simular corretamente o efeito do pólen e como ele interage com o clima, seremos capazes de fazer previsões mais precisas”, completou Kretzschmar.