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Mudanças climáticas estão destruindo construções mais antigas do mundo no Iraque

Mudanças climáticas estão destruindo construções mais antigas do mundo no Iraque

Aumento nas concentrações de sal e a alta incidência de tempestades de areia estão corroendo patrimônios históricos

Considerado o berço da civilização, o Iraque tem sofrido os efeitos da crise climática. Alguns dos edifícios e construções mais antigos do mundo, conhecidos como maravilhas do patrimônio histórico mundial, estão sendo destruídos pelo aumento nas concentrações de sal e a alta incidência de tempestades de areia.

É o que vêm acontecendo com os restos da cidade de Babilônia, por exemplo, que é reconhecida pela Unesco e tem cerca de 4.000 anos, mas está desaparecendo com o tempo. Por lá, o minério salgado cobre os tijolos de barro. No Templo de Ishtar, a deusa suméria do amor e da guerra, a base das paredes está desmoronando.

Outras construções afetadas estão em Samarra, a capital da era islâmica que está sendo sofrendo com as tempestades de areia, e em Umm al-Aqarib com seu Templo Branco.

A grande Mesquita de Samarra está sendo engolida por tempestades de areia — Foto: Getty Images

A grande Mesquita de Samarra está sendo engolida por tempestades de areia — Foto: Getty Images

O país tem “dezenas de milhares de sítios desde o Paleolítico até as eras islâmicas”, explicou a professora de arqueologia da Mesopotâmia na Universidade de Cambridge, Augusta McMahon, ao jornal The Guardian. E completou: “Danos a sítios como a lendária Babilônia deixarão lacunas em nosso conhecimento da evolução humana, do desenvolvimento das primeiras cidades, da gestão de impérios e das mudanças dinâmicas no cenário político da era islâmica”.

Segundo arqueólogos, a Mesopotâmia, terra entre os dois rios do atual Iraque, é rica em sal, mas esse mesmo minério pode ter poder destrutivo, a medida que suas concentrações aumentam em meio à escassez de água causada por barragens construídas na Turquia e Irã, além da má gestão dos recursos hídricos e da agricultura. Não à toa, o geoarqueólogo Jaafar Jotheri descreveu o sal como: “agressivo, destrói as tábuas cuneiformes, destrói tudo”.

Especialista explicam que a salinidade no rio Shatt al-Arab – formado pela confluência dos rios Tigre e Eufrates – começou a aumentar a partir dos anos 90. O engenheiro civil que estuda a qualidade da água nos rios do Iraque, Ahmad NA Hamdan, disse ao Guardian que 2018 foi um ano de “crise”, quando a água salobra estava com qualidade ruim e chegou a levar cerca de 118 mil pessoas ao hospital.

Desde então, as mudanças climáticas têm piorado o problema, com o aumento das temperaturas e as secas. De acordo com previsões da ONU, os termômetros devem aumentar 2°C até 2050 no país, enquanto as chuvas devem cair até 17% durante a estação chuvosa e o número de tempestades de areia deve mais do que dobrar: de 120 para 300 por ano. Enquanto isso, o aumento da água do mar está empurrando mais sal para o Iraque e em menos de 30 anos, partes do sul podem estar completamente inundadas.

“Imagine que nos próximos 10 anos a maioria de nossos sítios estará sob água salgada”, destacou Jotheri, professor de arqueologia da Universidade Al-Qadisiyah.