Monitorar vírus, fungos e bactérias pode evitar novas pandemias, dizem especialistas
A pandemia da Covid-19 deve mudar a forma como a ciência e a medicina lidam com novas doenças e vírus, fazendo um monitoramento ainda mais rígido para evitar novos surtos. Essa é a opinião de especialistas durante a 4ª Conferência FAPESP com o tema “Desafios à Saúde Global”.
“É muito importante termos sistemas de sentinela que permitam que uma pandemia, no início do seu surgimento, seja rapidamente detectada e combatida. Mas tudo isso requer uma interação, uma cooperação, que nem sempre são naturais”, explicou Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.
Além dos vírus, como o que causou a pandemia do coronavírus, é importante ficar de olho em bactérias e fungos, que também causam doenças e podem fugir de controle. O alerta é de Andrea Dessen, pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), da França.
Segundo a especialista existe uma grande preocupação com bactérias pois a forma mais eficiente de combate elas é com antibióticos, no entanto, nos últimos anos o número de pessoas resistentes a esses medicmaneots está aumentando e poucas novas drogas do tipo foram criadas desde a década de 1960.
Monitoramento de vírus para evitar pandemia
No Brasil, o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), apoiado pela FAPESP, foi criado com a ideia de monitorar novos arbovírus (patógenos transmitidos por artrópodes). No entanto, com a pandemia da Covid-19, o projeto foi expandido e passou a monitorar outros tipos de doenças.
“Esperávamos uma epidemia de dengue no ano passado e ela não veio. A dengue talvez seja uma doença sensível à mobilidade. Observamos uma queda nos casos quando a mobilidade caiu por conta da [restrição impostas para conter a] Covid-19. Mas este ano o mais preocupante é chikungunya, que pode vir quando voltar a movimentação de pessoas. Já houve casos em Santos e outros lugares”, disse Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e líder do programa.
“Precisamos do SUS [Sistema Único de Saúde], das universidades e do poder público entendendo o que se está falando para poder conseguir definir melhor as políticas. E isso tem de ser feito antes que as epidemias aconteçam para que possamos fazer algo em tempo de melhorar nossa resposta”, completou ainda.
Arnaldo Colombo, professor da EPM-Unifesp comentou sobre fungos. O especialista diz que esses patógenos hoje correspondem a 30% dos agentes que emergem como patógenos em plantas, inclusive grãos, sendo capaz de comprometer cerca de 20% do que se colhe em diferentes regiões do mundo.
“É fundamental discutir modelos econômicos que sejam mais compatíveis com a saúde planetária, como o desenvolvimento sustentável. Estamos atrasados em conter o aquecimento do planeta, que tem levado patógenos a se aclimatarem à temperatura de 37° C e, com isso, nos infectar”, disse o especialista.