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Minúscula e delicada flor, que sobreviveu a desmatamentos, é batizada de “milagre”

Minúscula e delicada flor, que sobreviveu a desmatamentos, é batizada de “milagre”

Serra da Centinela, na Cordilheira dos Andes, no Equador, sempre foi conhecida por abrigar inúmeras plantas. Na década de 70, estudos ali apontaram que havia pelo menos 90 espécies, todas endêmicas, ou seja, só existentes naquela área e em nenhum outro lugar do mundo.

Todavia, abandonada à própria sorte, Centinela quase foi destruída, vítima do desmatamento, resultante do avanço do cultivo de café, cacau e banana na região. Foi então que na década de 90 botânicos soaram um alerta de que ela precisava ser salva. E mais de 30 anos depois, uma minúscula e delicada flor, que resistiu à devastação, é o mais novo símbolo da resiliência desse ecossistema.

E não haveria nome mais apropriado para batizá-la do que “milagre“. Medindo apenas 5 centímetros, a Amalophyllon miraculum tem pequenas flores brancas e folhas serrilhadas e iridescentes. Ela foi encontrada em fragmentos de floresta, dentro de uma propriedade rural.

“Os esforços heroicos dos proprietários de terras locais que mantiveram pequenos trechos de florestas – geralmente ao redor de cachoeiras – foram fundamentais para a conservação desses fragmentos remanescentes”, diz o botânico John Clark, principal autor do artigo científico que descreve a nova espécie.

A pequena Amalophyllon miraculum cresce em rochas, contudo, necessita de umidade.

“Seu ciclo de vida está intimamente ligado a áreas persistentemente úmidas, especialmente em rochas que recebem névoa perpétua de cachoeiras”, explica Clark. “Mesmo pequenas alterações nas condições do habitat podem levar à ausência desta pequena espécie, destacando o delicado equilíbrio necessário para a sua sobrevivência.”

Minúscula e delicada flor, que sobreviveu a desmatamentos, é batizada de "milagre"

A folha serrilhada e de um verde muito brilhante da Amalophyllon miraculum
Foto: John Clark

Em 2022, outra planta encontrada em Centinela também ganhou as manchetes internacionais. Considerada extinta, pois só tinha sido observada uma vez e em 40 anos nunca mais foi avistada, uma rara flor de pétalas alaranjadas foi redescoberta em meio aos fragmentos florestais das montanhas. Seu nome?: Gasteranthus extinctus.

Extinctus recebeu esse nome marcante à luz do extenso desmatamento no oeste do Equador”, afirmou na época Dawson White, pesquisador de pós-doutorado no Field Museum de Chicago e autor principal do artigo sobre a descoberta. “Mas se você alegar que algo desapareceu, ninguém mais sairá para procurar. Ainda existem muitas espécies importantes por aí, embora, no geral, estejamos nesta era de extinções.”

Mais de 97% das florestas na metade ocidental do Equador foram derrubadas e convertidas em terras agrícolas. O que resta é um mosaico de pequenas ilhas de vegetação em meio a grandes plantações de bananas e outras culturas.

Minúscula e delicada flor, que sobreviveu a desmatamentos, é batizada de "milagre"

A Gasteranthus extinctus, outra sobrevivente da destruição de Centinela
Foto: Thomas L. P. Couvreur