Anchor Deezer Spotify

Microrganismos ancestrais encontrados em rocha facilitam busca por vida

Microrganismos ancestrais encontrados em rocha facilitam busca por vida

Inclusões fluidas primárias

Cientistas descobriram autênticas “cápsulas do tempo”, que preservaram sinais de vida primordial por quase 1 bilhão de anos.

Sara Gomes e seus colegas da Universidade Oeste da Virgínia, nos EUA, estavam estudando rochas muito antigas coletadas na Austrália, de cerca de 830 milhões de anos, chamadas halitas – é o mesmo sal de cozinha, só que de origem sedimentar, por isso também chamado de sal de rocha, sal-gema ou sal fóssil.

O interesse de Sara estava nas inclusões fluidas encontradas na halita, que são pequenas bolhas no interior do mineral. Quando a halita se formava, tipicamente por evaporação, uma parte do líquido ou do ar atmosférico ia ficando presa em seu interior.

E lá ficou até agora, sem nenhum contato com o mundo exterior.

Inclusões fluidas são conhecidas há muito tempo, sendo um material importante de estudo para os geólogos, paleontólogos, climatologistas e estudiosos de vários outros campos.

A diferença agora é que Sara encontrou nas inclusões fluidas da halita sólidos e líquidos orgânicos. E, ao analisá-los de forma não-destrutiva – sem precisar quebrar a rocha e coletar as bolhinhas de água – os resultados mostraram que esses “objetos” são consistentes em tamanho, forma e resposta fluorescente a células de procariontes e algas e agregados de compostos orgânicos.

Isto mostra que microrganismos de ambientes deposicionais salinos, que dão origem a esse tipo de rocha sedimentar, podem permanecer bem preservados por centenas de milhões de anos e podem ser estudados in situ apenas com métodos ópticos, sem riscos de contaminação.

Isto tem implicações para a busca de vida em rochas sedimentares químicas não apenas aqui na Terra, mas também em amostras extraterrestres.

Microrganismos ancestrais encontrados em rocha facilitam busca por vida

Estudar as inclusões fluidas apenas com luz, sem precisar abri-las, é um grande avanço para dar confiabilidade aos resultados.
[Imagem: Sara Schreder-Gomes et al. – 10.1130/G49957.1]

Vida aprisionada

À medida que os cristais de halita crescem em águas superficiais salinas, eles podem reter a água-mãe naquilo que os geólogos chamam de inclusões fluidas primárias. Além da água, podem também ficar presos quaisquer sólidos que estavam na água perto ou sobre a face do cristal.

Esses sólidos incluem minúsculos cristais de minerais evaporíticos ou orgânicos. Estudos anteriores de halitas modernas a permianas (até 299 milhões de anos atrás) documentaram a presença de organismos procarióticos e eucarióticos e compostos orgânicos, incluindo beta-caroteno.

Além de voltar muito mais longe no tempo – 830 milhões de anos – este estudo conseguiu detectar os compostos usando apenas métodos ópticos, especificamente petrografia por luz visível e por ultravioleta.

Isto reforça a utilidade dos métodos ópticos não-destrutivos como um primeiro passo – antes de quebrar as rochas e coletar as amostras – no exame de sedimentos químicos em busca de bioassinaturas. O contexto petrográfico das inclusões fluidas é vital para garantir que o conteúdo das inclusões fluidas represente as águas originais e, portanto, tenham a mesma idade da halita.

Ao demonstrar que os microrganismos podem ser preservados em inclusões fluidas por milhões de anos, o estudo indica que bioassinaturas poderiam ser detectadas em sedimentos químicos de Marte ou das luas de Júpiter e Saturno.

Bibliografia:

Artigo: 830-million-year-old microorganisms in primary fluid inclusions in halite
Autores: Sara Schreder-Gomes, Kathleen Benison, Jeremiah Bernau
Revista: Geology
DOI: 10.1130/G49957.1