Maior águia do planeta quase extinta tem mistério revelado

Cientistas localizam ninho de casal de harpias em Corumbá (MS) após mais de uma década de buscas, um marco para a pesquisa e conservação da espécie no Pantanal.
Após mais de uma década de buscas sem sucesso, pesquisadores finalmente localizaram, em julho deste ano, o ninho de um casal de harpias (Harpia harpyja) em Corumbá (MS), no Pantanal. Desde 2012, o paradeiro exato do ninho era um mistério para a ciência.
A confirmação é fundamental para entender melhor o comportamento da ave e fortalecer as iniciativas de proteção contra a extinção.
Como o mistério do ninho da harpia foi revelado no Pantanal
Especialistas retornaram a Corumbá (MS) em julho de 2025 para uma expedição focada na localização de ninhos de harpias durante o período reprodutivo da ave. A busca ocorria 13 anos após o primeiro registro da espécie na região, em 2012.
O biólogo e fotógrafo Gabriel Oliveira de Freitas, que atua na região do Maciço do Urucum, explicou que um possível ninho foi avistado em 11 de julho.
A confirmação veio no dia seguinte, 12 de julho, quando o casal foi observado trazendo ramos para reformar o ninho, indicando a preparação para o período reprodutivo. Essa descoberta histórica é um passo fundamental para os pesquisadores, que ainda não sabiam quantos indivíduos vivem no local.
“Amanhecemos o dia na frente do ninho. Por volta das 8h da manhã o casal chegou trazendo mais ramos para reformar o ninho se preparando para o período reprodutivo” , explicou Gabriel.
Características e o ciclo de vida da harpia, a maior águia do planeta
A harpia é uma das maiores aves de rapina do mundo. Pode atingir 2,20 metros de envergadura, que é a distância de uma ponta da asa à outra. Suas garras estão entre as mais poderosas das aves de rapina.
Conhecida por ser uma espécie reclusa, a harpia prefere matas fechadas e evita áreas abertas, o que torna sua observação na natureza rara e desafiadora. No Maciço do Urucum, seu comportamento é pouco conhecido, diferenciando este estudo de outros realizados, principalmente, na região Amazônica, onde a estrutura florestal é diferente.
O ciclo de reprodução da harpia é lento. Ela costuma pôr dois ovos por vez, mas geralmente apenas um filhote sobrevive. A incubação dura cerca de 56 dias, e o filhote depende dos pais por até dois anos. Devido a esse longo investimento, a espécie se reproduz apenas a cada três anos.
Os ninhos são construídos no alto de árvores robustas e em locais de difícil acesso. Embora busquem árvores gigantes, com mais de 40 metros de altura, em Corumbá o ninho foi encontrado em uma árvore mais baixa que as observadas na Amazônia e Mata Atlântica, mas em uma área ainda de difícil acesso. Os ninhos são grandes plataformas de galhos, revestidas com vegetação macia para abrigar os filhotes.
Para caçar, a harpia utiliza uma estratégia aguçada de espera: permanece imóvel em locais estratégicos por longos períodos, aguardando o momento certo para atacar suas presas. A ave também voa com agilidade entre os galhos das árvores para perseguir.
A importância da harpia para o ecossistema e sua conservação
A harpia é classificada como “quase ameaçada” de extinção na lista nacional do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). No entanto, na lista estadual de Mato Grosso do Sul, é considerada “ameaçada”. O número de registros da espécie tem diminuído em todo o país.
As principais ameaças à sua sobrevivência são a perda de habitat, causada pelo desmatamento e expansão de atividades humanas, além da caça ilegal.
A presença da harpia em uma área é um indicativo de que o ecossistema está saudável. Por necessitar de florestas contínuas e extensas — com territórios que variam de 20 a 35 km² por casal —, a harpia é considerada uma espécie-bandeira na conservação das matas tropicais. Como predadora, ela ajuda a controlar a população de mamíferos que vivem nas árvores, mantendo o equilíbrio do ambiente.
A confirmação da presença constante do casal de harpias e a descoberta de seu ninho fortalecem o monitoramento científico e as iniciativas de conservação da espécie no Pantanal.