“Lixo é matéria-prima no século 21”, diz Milton Pilão, especializada em valorização de resíduos sólidos

Em entrevista ao podcast Entre no Clima, empresário fala sobre “ressignificação” de valores na sociedade e as oportunidades da economia circular para alavancar a “agenda verde” no Brasil
Responde rápido: o que é lixo para você? Cada brasileiro produz em média 380 quilos de resíduos por ano, o que na soma nacional daria para encher 160 estádios de futebol do tamanho do Maracanã. Tudo isso que a gente julga sem valor é matéria-prima e dinheiro para o empresário Milton Pilão.
Ele está à frente da Orizon VR, empresa de tratamento e valorização de resíduos que investe em inovação e tecnologia para gerar energia limpa e desenvolver a economia circular. Romper a lógica do “extrair-produzir-descartar” e adentrar num movimento mais cíclico baseado em “fabricar, reutilizar e reciclar” depende da mudança de olhar.
“O Brasil tem um grande problema de resíduos sólidos, tanto no destino quanto no tratamento. Infelizmente 40% do nosso lixo ainda vai para lixões […] A saída está na valorização, transformar o resíduo em um produto, como biogás, plástico verde, crédito de carbono. A gente resolve um passivo e gera um produto verde”, diz ao Podcast Entre no Clima.
É isso o que a empresa tem feito há mais de dez anos. Após o licenciamento dos seus ‘ecoparques’ — aterros especialmente desenvolvidos para receber resíduos e transformá-los em novos produtos — a Orizon VR entrou num ciclo de crescimento sustentável que culminou ano passado com sua estreia na B3. “Hoje, estamos introduzidos na agenda verde da descarbonização”.
Mostrar ao mercado o valor do lixo, segundo ele, é um dos caminhos mais potentes para alavancar a agenda verde no Brasil e reduzir o atual passivo ambiental negativo dos resíduos. “O grande salto da criação de valor é ter uma cadeia produtiva que captura o resíduo antes que ele vire poluição”, diz, citando como exemplo positivo o alumínio, onde o país é referência mundial em reciclagem, com uma taxa de mais de 97%.
“Quando a gente cria valor no resíduo com a introdução de tecnologia para transformá-lo num produto a gente acaba girando uma roda [na cadeia produtiva] que não depende apenas da consciência ambiental e boa vontade para eliminarmos o problema”, diz.
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Milton Pilão, CEO da Orizon. — Foto: Divulgação
A combinação entre tecnologia, novas ideias e, claro, disposição política, compõem a base de um processo que, para Pilão, pode destravar a vocação nacional de potência ambiental do Brasil no século 21. Uma mudança que passa por ressignificar práticas cotidianas, comportamentos e, invariavelmente, a cultura.
Referência em geração de créditos de carbono a partir do lixo, a Orizon VR vai neutralizar as emissões da 18ª edição do SP-Arte, a maior feira de arte e design da América Latina, que acontece de 6 a 10 de abril no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. As emissões serão neutralizadas com os créditos de carbono gerados pela valorização de resíduos nos cinco ecoparques da empresa, no Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba, que recebem diariamente materiais descartados por quase 50 milhões de brasileiros.
A Orizon VR captura o gás metano, que sai da decomposição dos resíduos, e evita que ele seja lançado na atmosfera. Ao invés de contribuir para o aquecimento global, o gás é transformado em energia. Com essa investida, a empresa espera usar a feira como uma plataforma que expande a consciência ambiental por meio da arte. A venda de créditos de carbono também capitaliza a tendência ascendente de compensação de carbono de grandes eventos.
E, como um exemplo de empresa dos novos tempos, onde a sigla ESG impera, parte da receita obtida alimenta um novo ciclo próspero. Na SP-Arte, a Orizon patrocina a exposição “Arte Natureza: Ressignificar para viver”, que reúne obras de artistas que dialogam com a natureza e seus ciclos de renascimento e morte, como Frans Krajcberg, Ernesto Neto, Joseph Beuys e Daiara Tukano. Se na natureza nada se perde, tudo se transforma, na economia circular a transformação de um problema pode gerar benefício comum.