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Intervenção humana está acelerando “ciclo do sal” em escala global; entenda

Intervenção humana está acelerando “ciclo do sal” em escala global; entenda

Revisão de estudos mostra que atividades como a mineração e o desenvolvimento de terras estão acelerando processos salinos que podem ter consequências devastadoras

As atividades humanas estão tornando o ar, o solo e a água doce da Terra mais salgados, podendo ameaçar a vida no planeta no futuro. É o que mostra uma revisão de estudos publicada nesta terça-feira (31) na revista Nature Reviews Earth & Environment.

Segundo a pesquisa, liderada por Sujay Kaushal, professor de Geologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, os processos geológicos e hidrológicos trazem sais para a superfície da Terra de modo natural, mas as atividades como mineração e desenvolvimento de terras estão acelerando o “ciclo do sal”.

Outras atividades devastadoras para este ciclo são a agricultura, tratamento de água e estradas, além de outras tarefas industriais, que podem intensificar a salinização. Em casos extremos, isso pode até tornar a água potável insegura para consumo.

“Se você pensar no planeta como um organismo vivo, quando você acumula tanto sal, isso pode afetar o funcionamento de órgãos vitais ou ecossistemas”, diz Kaushal em comunicado. “Remover o sal da água requer muita energia e é caro, e o subproduto de salmoura que você obtém é mais salgado do que a água do oceano e não pode ser facilmente descartado.”

Ciclo de sal antropogênico

Os cientistas revisaram pesquisas considerando a variedade de íons de sal encontrados no subsolo e na água superficial. A pesquisa estima que a salinização causada pelo homem afetou cerca de 2,5 bilhões de acres de solo em todo o mundo — uma área do tamanho dos Estados Unidos.

O estudo ressalta ainda que os humanos estão por trás do que chamam de “ciclo de sal antropogênico”. “As atividades antropogênicas aceleraram os processos, escalas de tempo e magnitudes dos fluxos de sal e alteraram a sua direcionalidade, criando um ciclo antropogênico do sal”, diz a pesquisa.

Além de afetarem o solo, os íons de sal também aumentaram em córregos e rios nos últimos 50 anos. Enquanto isso, o ar também ficou mais salgado: em algumas regiões, os lagos estão secando e enviando plumas de poeira salina para a atmosfera.

Já onde existe neve, os sais usados para aumentar a segurança das estradas, evitando o deslizamento de carros, podem se tornar aerosolizados, criando material particulado de sódio e cloreto. “O sal tem um pequeno raio iônico e pode se encaixar facilmente entre as partículas do solo”, explica Kaushal. “De fato, é assim que os sais de estrada impedem a formação de cristais de gelo.”

A poeira salina, por sua vez, pode acelerar o derretimento da neve. Isso é especialmente ruim para o oeste dos EUA, onde comunidades dependem da água congelada para se abastecerem. O problema se agrava quando os íons de sal se ligam a contaminantes em solos e sedimentos, formando “coquetéis químicos”.

Perante isso, Kaushal recomenda políticas que limitem o derramamento de sais em estradas congeladas. Washington e várias outras cidades dos Estados Unidos, por exemplo, começaram a tratar as vias congeladas com suco de beterraba, que tem o mesmo efeito, mas contém significativamente menos sal.

Assim como há medidas para diminuir as emissões de CO2 por conta das mudanças climáticas, os autores do estudo pedem que sejam implantados limites em nosso planeta para o uso seguro e sustentável do sal.

“Este é um problema muito complexo porque o sal não é considerado um contaminante primário na água potável nos EUA, então regulá-lo seria uma grande empreitada”, avalia Kaushal. “Mas eu realmente considero que é uma substância que está aumentando no ambiente para níveis prejudiciais.”