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Iniciativa mapeia negócios e projetos sustentáveis do Brasil

Iniciativa mapeia negócios e projetos sustentáveis do Brasil

Iniciativas mostram como a relação pessoal com a natureza se converte em negócios com impacto socioambiental positivo

Do interior paulista às florestas do Paraná, do litoral cearense às ilhas fluminenses, histórias reais demonstram como a ligação íntima com a natureza pode se transformar em modelo de negócio, projeto comunitário ou ato educativo diário. Iniciativas que unem geração de renda e proteção ambiental: atraem visitantes para contemplar aves na Mata Atlântica, garantem a rastreabilidade de um produto símbolo paranaense, transformam redes de pesca descartadas em design artesanal e estimulam o turismo responsável no Nordeste. São negócios e projetos sustentáveis que geram impactos positivos que vão além do lucro. 

De acordo com o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental, o universo do empreendedorismo socioambiental focado em soluções verdes aumentou de 49% para 53%, entre 2021 e 2023. Elaborado pela Pipe.Social e pelo Quintessa, o estudo aponta que muitas dessas iniciativas vão além da preservação ambiental, integrando negócios de impacto positivo e cidadania, envolvendo famílias locais e transformando comunidades.

Com atuação direta no apoio a mais de 1,8 mil iniciativas de conservação do patrimônio natural brasileiro, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, no ano em que completa 35 anos, promove uma jornada que convida toda a população a se reconectar com a natureza, compreender a sua importância e assumir o compromisso com a conservação. “Mais do que inspirar mudanças individuais, cuidar da natureza fortalece comunidades, cria oportunidades econômicas e protege a vida em todas as suas formas. Neste ano especial, nossas ações têm mostrado a importância de estarmos On com a natureza, porque sem ela não há futuro”, destaca a diretora executiva da instituição, Malu Nunes.

negócios na Mata Atlântica
Estimular negócios ligados ao turismo em áreas naturais é um dos focos do programa Natureza Empreendedora. Foto: Fundação Grupo Boticário

Incentivar a conexão com a natureza é o ponto de partida para o crescimento de negócios e iniciativas ambientais. Confira a seguir histórias que contam com o apoio da Fundação Grupo Boticário e podem inspirar novos caminhos para uma economia mais justa e regenerativa.

Espinheiro-Negro: de área degradada a santuário para aves

Entre Juquitiba e Miracatu, no interior paulista, o Sítio Espinheiro-Negro é hoje um destino de ecoturismo e observação de aves. Mas seu passado foi bem diferente: cenário de desmatamento, grilagem e desmanche de veículos.

Em 2011, Jô Bernardes e Jiri Trnka compraram a propriedade com o desejo de viver em meio à Mata Atlântica e preservá-la. Com o tempo, a exuberância da floresta e a riqueza de aves despertaram um compromisso mais profundo com a conservação. “O dia aqui começa ainda escuro, preparando frutas para os pássaros. Mas a conexão se dá quando ouço os primeiros piados das Saíras multicoloridas chegando para sua primeira refeição do dia”, conta Jô.

pássaro colotido
Foto: Sítio Espinheiro-Negro

Um post despretensioso com fotos de aves chamou a atenção de observadores, que, em 2014, visitaram o local e abriram caminho para uma nova fase: o turismo de observação. O sítio ganhou restaurante, suítes, biblioteca e trilhas planejadas com cuidado ambiental, consolidando-se como hotspot para birdwatching e referência em conforto sustentável — tudo alinhado ao ecoturismo que gera renda e mantém a floresta em pé.

SEM²: tecnologia para manter a floresta viva

No Paraná, o desafio era outro. Embora a erva-mate seja um símbolo cultural e econômico do estado, gerando renda para mais de 100 mil pessoas, a produção declina em regiões distantes da indústria de beneficiamento, deixando de ser viável para pequenos produtores.

A resposta veio com o SEM²: Secador de Erva-Mate Móvel, um secador compacto, eficiente e inspirado nos saberes tradicionais, que permite processar até 500 quilos por dia diretamente na propriedade. Isso reduz custos, fortalece o produtor familiar e valoriza os terroirs da floresta.

“A virada para mim foi perceber que a cadeia do alimento podia ter impacto ambiental, social e cultural. A erva-mate é regenerativa por natureza: cresce sob a sombra das araucárias, preserva a biodiversidade e protege as águas. Consumir erva-mate de forma sustentável ajuda a regenerar o planeta”, conta o criador do SEM², Luiz Mileck, que idealizou o projeto durante um programa de inovação conduzido pela Fundação Grupo Boticário.

Além de gerar renda, a iniciativa evita o desmatamento e resgata uma tradição que é parte da identidade regional.

erva-mate chimarrão
Foto: Juan Pablo Sorondo por Pixabay

Icapuí: turismo de experiência e conservação costeira

No litoral do Ceará, a cerca de 200 quilômetros de Fortaleza, o município de Icapuí é conhecido por suas praias e falésias, mas vem enfrentando o desafio de um turismo desordenado. Para mudar isso, nasceu o projeto Conhecer para Conservar, desenvolvido pela Associação Aquasis.

Felipe Braga, biólogo e educador socioambiental do projeto, fala com paixão sobre a vida no mar e o trabalho com comunidades tradicionais. “Eu moro aqui em Icapuí, numa casinha que fiz para ver o mar. Meu trabalho é meu dia a dia. Se um peixe-boi encalhar, eu vou ajudar. Estou sempre em contato com pescadores, marisqueiras, falando de aves migratórias, de lixo, de hábitos que podem mudar”, diz.

Com mais de 15 anos dedicados à educação socioambiental, Felipe acredita no poder do conhecimento compartilhado. “A maior parte do que sei veio das comunidades. São eles que têm o saber real.”

 

 

Com o apoio da Fundação, o projeto mapeou as atividades locais e ofereceu formações para que moradores se tornassem guias de observação de aves, peixes-boi e experiências com a comunidade. Aprenderam como preparar uma refeição junto a uma marisqueira, por exemplo. Tudo para garantir um turismo mais responsável e justo, que gere renda sem ameaçar os ecossistemas.

“A ideia é valorizar as potencialidades locais e construir tudo de forma participativa”, destaca Felipe. Além das capacitações, o projeto aprimorou a sinalização e prevê uma plataforma online para turistas e apoio à comercialização de produtos locais. Para agendar uma visita a Icapuí, preencha esse formulário online.

peixe boi
Peixe-boi. Foto: PublicDomainImages por Pixabay

Marulho: redes de pesca que viram design e renda local

Em Ilha Grande (RJ), o mar da cor esmeralda é fascinante, mas também pode esconder um problema grave: redes de pesca descartadas, poluindo o oceano e ameaçando a vida marinha. Foi ao se deparar com essa realidade que a oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, transformou uma inquietação pessoal em negócio de impacto socioambiental.

“Cresci no interior, sempre muito próxima da natureza, mas não do mar. Foi quando mergulhei a primeira vez que descobri um outro mundo natural e me encantei. Vivo numa ilha onde muita gente sonha passar férias, mas morar e trabalhar aqui é bem diferente. A conexão com a natureza está em tudo, mas com o mar não se brinca. Se o tempo fecha, ficamos ilhados. Tem que respeitar.”

sandália feita com redes de pesca
Sandália Matariz. Foto: Marulho

Fundada em 2019, a Marulho reaproveita redes de pesca abandonadas – ou que seriam descartadas – para criar bolsas, ecobags e fruteiras artesanais. O trabalho é feito em parceria com pescadores e moradores das praias do Matariz e Provetá. O primeiro produto, o “redeco”, virou símbolo da marca e é um substituto às sacolas plásticas usadas em supermercados. Durante a pandemia, Beatriz mergulhou no empreendedorismo social, reformulou o modelo de negócio e lançou o site da Marulho.

Hoje, o projeto envolve diretamente 22 moradores — entre redeiros e costureiras — que participam do design dos produtos e recebem parte das vendas. Além do e-commerce, a Marulho vende via redes sociais, lojas colaborativas e encomendas para empresas. Em 2024, o faturamento chegou a R$ 450 mil, com expectativa de R$ 490 mil para 2025.

marulho
Fotos: Marulho

On pela natureza

Em celebração aos 35 anos da Fundação Grupo Boticário, a jornada “On pela Natureza” traz uma série de ações para reforçar a importância de se conectar e proteger a natureza. Entre elas, um programa de 24 horas, transmitido pelas redes sociais no Dia do Meio Ambiente, contou com a participação de especialistas, atletas e influenciadores que discutiram temas ambientais.

A cada minuto ao vivo, uma árvore foi plantada, totalizando 1.440 mudas e levando o impacto das redes para a vida real. Na mesma data, a Fundação interrompeu por uma hora a programação do Canal Off, especializado em esportes ao ar livre, para alertar sobre a importância de manter a natureza “ON”. A iniciativa também lançou uma página especial com sugestões práticas para quem deseja contribuir com a construção de um futuro mais sustentável.

Quer saber mais? Acesse www.fundacaogrupoboticario.org.br

instagram Fundação Grupo Boticário
Imagens: Instagram | Fundação Grupo Boticário