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Inesperado: estações de qualidade do ar captam DNA e podem ser estratégicas para monitorar biodiversidade

Inesperado: estações de qualidade do ar captam DNA e podem ser estratégicas para monitorar biodiversidade

Estudo com duas estações no Reino Unido identificou mais de 180 espécies animais e vegetais

Estações de monitoramento da qualidade do ar tiveram uma nova utilidade descoberta recentemente: elas estão captando partículas invisíveis de material genético de animais e plantas, criando uma espécie de “cofre de dados de biodiversidade” que apenas está começando a ser explorado.

Pesquisadores abordaram a novidade em um artigo científico publicado na revista científica Current Biology. Segundo contam, milhares de filtros de ar espalhados pelo mundo que visam medir a quantidade de metais pesados e outros poluentes na atmosfera estão captando também partículas de DNA transportadas pelo ar por meio de pedaços de pelos, penas, saliva e pólen.

Testes de duas estações de qualidade do ar na Inglaterra e na Escócia revelaram a presença de mais de 180 fungos, insetos, mamíferos, pássaros e anfíbios, incluindo corujas, ouriços, texugos e tritões. DNA vegetal também foi coletado, incluindo margaridas, trigo, soja e repolho.

Cientistas especulam que os dados podem dizer quais espécies vivem nas proximidades, e podem se tornar uma ferramenta importante para observar variações dos níveis de biodiversidade. “Isso pode mudar totalmente nossa abordagem de monitoramento da biodiversidade em terra”, apontam os pesquisadores no artigo publicado.

Andrew Brown, do Laboratório Físico Natural do Reino Unido, e um dos autores do artigo, se mostrou empolgado com a descoberta: “Nas últimas duas décadas, tenho trabalhado na poluição do ar para avaliar a exposição da população a poluentes potencialmente nocivos. Descobrir que essa rede pode ser usada por um campo totalmente diferente da ciência – e que tem todo esse potencial oculto sobre o qual nunca pensamos – é extremamente emocionante”, afirmou ao The Guardian, que noticiou a descoberta.

Caso prove-se viável em larga escala, o estudo da biodiversidade e de espécies específicas por meio das estações de qualidade do ar permitiria estabelecer uma forma não invasiva de rastrear a vida selvagem, sem a necessidade de o animal estar por perto (uma exigência em métodos como armadilhas fotográficas ou monitoramento acústico).

Consultado pelo The Guardian, o pesquisador Fabian Roger, da Universidade de Lund, na Suécia, considera “empolgante“ que “esses filtros sejam coletados de uma rede já existente, aproveitando um material já em funcionamento que pode ser ‘cooptado’ para monitoramento da biodiversidade”.

No entanto, ele disse que ainda é preciso aguardar para saber a real utilidade desse sistema para um monitoramento mais amplo da biodiversidade. “Detectar algumas espécies em ocasiões específicas não é o mesmo que detectar um sinal de mudança na biodiversidade”, alertou.

A taxa crescente de perda da biodiversidade é uma grande preocupação para os cientistas. No final do ano passado, após muitas discussões a respeito, 190 países chegaram a um acordo histórico para proteger os ecossistemas naturais, frear e reverter a perda de milhares de espécies de animais e vegetais.

O “Acordo Global de Biodiversidade Kunming-Montreal” inclui 23 metas a serem alcançadas até 2030. Entre elas, a de assegurar que pelo menos 30% das áreas terrestres e marítimas do mundo, especialmente áreas de particular importância para a biodiversidade e para as pessoas, sejam conservadas e restauradas até 2030. Atualmente, apenas 17% e 10% das áreas terrestres e marinhas do mundo, respectivamente, estão sob proteção.