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Indústria do plástico e limitações da reciclagem

Indústria do plástico e limitações da reciclagem

O estudo “A Fraude da Reciclagem de Plásticos”, da ONG norte-americana Center for Climate Integrity (CCI), divulgado em fevereiro, informou que a indústria do plástico e das grandes petrolíferas mascarou, por mais de 50 anos, que a reciclagem é uma saída para o controle de resíduos plásticos.

Segundo o documento do CCI, é sabido, desde os anos 1980, que a reciclagem de plástico não era nem técnica nem economicamente viável em larga escala e igualmente exibe que a qualidade do plástico degrada-se à medida que é reciclado, limitando tanto a utilização de plástico reciclado como a sua reciclabilidade contínua. A realidade é que os plásticos só podem ser reciclados uma vez, raramente duas vezes.

A Fundação Ellen MacArthur também divulgou, em outubro de 2023, o relatório “O Compromisso Global: Cinco Anos Depois”, em parceria com o Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que já mencionava que atualmente estima-se que 25 mil itens de embalagens plásticas flexíveis acabam no oceano a cada segundo. Se continuarmos nesse caminho, esse número dobrará até 2040, se tornando até lá 20 trilhões de itens de embalagens flexíveis nos oceanos, e muito mais no meio ambiente em geral. Por mais que a reciclagem seja uma possibilidade, no caso das embalagens flexíveis de pequeno formato, a tendência é que elas não sejam coletadas devido ao baixo valor – e, portanto, têm uma probabilidade muito maior de acabar na natureza, de acordo com informações presentes no relatório.

Análise: Victoria Almeida, Gerente da Rede de Empresas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur

O relatório da CCI evidencia o que a Fundação também já vêm destacando há anos: embora a reciclagem seja importante para circular os materiais, ela não é suficiente para resolver o problema atual dos plásticos. Se o modo como lidamos com os plásticos não mudar, até 2040 a quantidade de plástico na economia vai dobrar e o que vaza para o meio ambiente aumentará muito mais. Os estoques de plástico no oceano podem atingir 600 milhões de toneladas, quatro vezes mais do que existia em 2016. A reciclagem não dá conta dessa quantidade. O aumento da coleta e reciclagem de plásticos é limitado pela velocidade em que a infraestrutura necessária para isso pode se desenvolver, especialmente no Sul Global.

Para resolver o problema, precisamos de uma abordagem de economia circular abrangente, em que priorizamos deixar de colocar mais plásticos na economia. Isso pode ser feito a partir de um design de embalagens, produtos e modelos de negócio que evitem a geração de plásticos e, consequentemente, de resíduos.

Para criarmos uma economia circular para os plásticos, na qual eles nunca se tornam resíduos ou poluição, precisamos eliminar todos os itens plásticos problemáticos e desnecesários; inovar para garantir que os plásticos de que precisamos sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis; circular todos os itens de plástico que usamos para mantê-los na economia e fora do meio ambiente.

Além de combater a poluição, uma economia circular para os plásticos é uma solução menos custosa para o todo o sistema; pode reduzir em 25% as emissões de gases de efeito estufa; gerar uma economia de 200 bilhões de dólares por ano; e criar um saldo líquido de 700 mil novos postos de trabalho.

Embalagens à base de cogumelos que podem substituir os plásticos

Como inovar a partir da natureza? Inspirados pela forma como os cogumelos crescem em  lascas de madeira e se unem uns outros pelas raízes, Eban Bayer e Gavin Mcintyre, fundadores da Ecovative, começaram a utilizar o o micélio (raízes de cogumelos) para fabricar embalagens.

O micélio é uma rede fúngica celular que crece de 5 a 7 dias sem precisar de luz ou água digerindo subprodutos agrícolas e ligando-se a qualquer objeto. Além de não ser apto para a alimentação, age como uma cola natural e tem a capacidade de se automontar, tornando-se uma matéria-prima de baixo valor adequada para a fabricação de embalagens.

Para criá-las, a Ecovative cultiva o micélio e, depois de um certo período, submete-o a um processo de desidratação e tratamento térmico para interromper seu crescimento e garantir a ausência de esporos ou alérgenos.

No Brasil, empresa que também utiliza essa tecnologia do micélio para produção de embalagens é a Mush, startup originária do Paraná e fundada em 2019. Além de embalagens, a empresa também produz produtos decorativos a partir dos cogumelos, como luminárias, mesas e diferentes itens ornamentais.

Análise: Victoria Almeida, Gerente da Rede de Empresas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur

A Ecovative e a Mush são exemplos de empresas que inovaram para resolver um dos grandes desafios ambientais gerados pela nossa economia atual que é a poluição por embalagens plásticas. A ideia pioneira dessas empresas reduz os resíduos plásticos na origem, isto é, na criação do produto, ao substituir o plástico pelo micélio, que é um material de base biológica que aproveita uma matéria-prima que seria desperdiçada e se decompõe naturalmente. A substituição dos plásticos por outros materiais é uma das estratégias para resolver a poluição por plásticos na origem. Outras estratégias incluem, por exemplo, repensar o produto, de modo a dispensar a necessidade de uma embalagem, ou repensar o modelo de negócio, implementando um sistema de reutilização de embalagens.

Conheça as estratégias para repensar as embalagens no relatório: “Guia de Inovação na Origem: Um guia de soluções para embalagens”

Fonte:  Envolverde