Índia testa nova técnica para melhorar qualidade do ar: chuvas artificiais
 
					Governo de Nova Déli aposta na semeadura de nuvens para combater a poluição recorde, mas especialistas alertam para eficácia limitada e riscos ambientais
Em meio a uma das piores crises de poluição atmosférica de sua história, o governo regional de Nova Déli, na Índia, iniciou nesta semana um experimento inédito de chuva artificial para tentar melhorar a qualidade do ar da capital. A cidade é frequentemente classificada como a mais poluída do mundo, lembra a revista Times of India.
O projeto foi anunciado na quinta-feira (22) pela ministra-chefe Rekha Gupta, em post nas redes sociais. Ele envolve o uso da chamada “semeadura de nuvens”, uma técnica que consiste em liberar partículas de iodeto de prata na atmosfera, por meio de aviões ou drones, para estimular a condensação da água e provocar precipitação.
A iniciativa ocorre poucos dias depois da realização do festival de Diwali. Essa comemoração hindu, também conhecida como “festival das luzes”, é celebrada uma vez ao ano e caracteriza-se por um dia em que as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e lançam fogos de artifício.
Essas explosões no céu agravam tradicionalmente a já precária qualidade do ar de Nova Déli. Segundo o Conselho Central de Controle da Poluição (CPCB), em 2025, o Índice de Qualidade do Ar (IQA) atingiu 305, um nível classificado como “muito ruim”, enquanto alguns bairros chegaram à faixa “severa”, com índices acima de 400. Veja imagens:
O ministro do Meio Ambiente, Manjinder Singh Sirsa, confirmou que o primeiro voo de teste foi realizado ontem (22) na região de Burari, e retornou com sucesso. Espera-se que a primeira chuva artificial ocorra na próxima quinta-feira (29), caso as condições meteorológicas se mantenham favoráveis.
“Nossa iniciativa não é apenas histórica do ponto de vista técnico, mas também visa estabelecer um método científico para combater a poluição em Nova Déli”, explica Gupta. “O objetivo é restaurar o equilíbrio ambiental da capital.”
Ceticismo da comunidade científica
Apesar do otimismo do governo, alguns especialistas estão céticos quanto à real eficácia da medida. Em entrevista ao jornal The Guardian, os professores Shahzad Gani e Krishna AchutaRao, do Centro de Ciências Atmosféricas de Nova Déli, classificaram a proposta como um “truque político”.
“É um caso clássico de ciência mal aplicada e ética ignorada”, afirmaram os pesquisadores, comparando o projeto às “torres de poluição” instaladas por gestões anteriores. Além do alto custo das obras, elas têm os seus resultados bastante questionados em termos de eficiência.
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Semear nuvens pode, de fato, aumentar levemente a chance de chuva, mas a técnica depende da presença prévia de nuvens adequadas. E isso é algo raro nos meses de inverno, quando a poluição atinge o pico.
Além disso, os especialistas destacam que a proposta não enfrenta as causas estruturais da crise: as emissões de veículos, as queimadas agrícolas e a poluição industrial. “Não há evidências sólidas de que a chuva artificial traga melhorias significativas e duradouras. E pouco se sabe sobre os efeitos a longo prazo dos produtos químicos usados nesse processo para a saúde e o solo agrícola”, alertaram.
Uma cidade sufocada pela poluição
Nova Déli ocupa o topo dos rankings de cidades mais poluídas do mundo há mais de uma década. Em 2024, o nível médio de poluentes PM2,5 e PM10 aumentou 6%, impulsionado por queimadas em áreas rurais e pela concentração de emissões que ficam presas sobre a cidade durante o frio.
Comparada ao “apocalipse aéreo” vivido por Pequim em 2013, Nova Déli hoje enfrenta índices ainda mais alarmantes. Os problemas incluem visibilidade reduzida e sérios impactos à saúde pública, sobretudo, no que diz respeito ao aumento de doenças respiratórias e cardiovasculares.
 
	 
		 
		
 
		 	 
		 	 
		 	 
		 	 
		 	